Por Jaqueline Stori – 21/05/2020
As palavras possuem o poder da comunicação e da expressão. Através delas expressamos sentimentos, decretamos ações e realizações. Nas artes, o campo maior das palavras certamente é o literário. Porém, em todos os outros gêneros elas se encontram presentes mesmo que não as vejamos ou sentimos num primeiro momento. No universo das artes plásticas, muitos são os artistas que constroem sua arte com ou através das palavras. Usadas como símbolos de culturas variadas, as palavras tem o dom da construção e da desconstrução, do amor ou do ódio, da alegria ou da tristeza, da ação ou da inércia, do bem ou do mal e por aí segue. O fato é que a força delas está em nosso interior, portanto faz parte de nós. São infinitas e imortais!!
Imagine pegar palavras que são expressões de ações e sentimentos, matéria orgânica e linhas, e criar obras de arte que não são imortais devido sua materialidade mas, ao mesmo tempo são imortais devido o uso desses três elementos serem intrínsecos na vida dessas obras?
Pois é justamente isso que a maravilhosa artista Paula Costa faz. Em outras palavras, ela da vida e morte, começo e fim para suas obras, sem deixar que estas acabem. A essência de suas obras sempre estará presente e sempre estarão em processo de renovação para o mundo, devido o uso de elementos que carregam essa imaterialidade.
Paula Costa é uma artista que trabalha totalmente com o sensorial. Tem na arte do bordar influência de sua mãe que era eximia bordadeira. Cresceu em meio a linhas e fios, detalhes minuciosos e paciência, como exige a arte deste lindo ofício. Tem em seu oráculo (é como sente e define a mãe natureza para si), tudo o que necessita para seu corpo, sua mente e sua alma. É da natureza que a artista encontra seu alimento, sua recarga energética e sua inspiração, não só para arte, mas para todos os campos de sua vida: É o meu oráculo. Onde retiro a matéria prima do que faço e me diluo como parte dela. É preciso mais que contemplar, sentir-se natureza. Independente da pergunta, para mim ela é sempre a resposta, afirmou a artista.
E de fato é mesmo. Paula Costa que tem na natureza mais que seu fio condutor, é o seu universo interior e exterior, assina plenamente os sábios ensinamentos de seu oráculo onde nada é para sempre. No entanto, o nada é para sempre, não tem o significado de que tudo acaba ou morre. Não. A artista acredita em términos: Términos de um ciclo para outro poder começar. Ou seja: transição, recomeço, renovação, mudança e transformação! É isso que vê, sente e aprende com a natureza. E por isso, sua arte não poderia deixar de ter a natureza da finitude, do tempo e da vida.
As obras da artista são produzidas com matéria orgânica (flores e folhas), e linhas de bordar. Com estes dois elementos ela constrói uma narrativa poética fazendo uso das palavras que completam harmonicamente o conceito de sua arte transitória e atemporal: ela começa sua obra e a ação do tempo a termina. A narrativa também é construída em cima da particularidade e da diversidade característica de cada elemento orgânico que possui aromas diferentes, texturas diferentes, cores diferentes, uma mesma espécie em tamanhos diferentes, ciclos de vida diferentes, dissecagens diferentes, assim como todos nós com características e essências diferentes.
A artista não utiliza pincéis, tintas, massas, ou outros vários tipos de materiais envolvidos com a possibilidade de produção das artes plásticas. Paula Costa, diz ser a linha o seu pincel, e suas inúmeras cores sua tinta. Através da arte do bordar, ela vai imprimindo seu sensorial nas muitas plantas e folhas que utiliza no desenvolvimento de seu trabalho. Trabalho esse que tem notável abundância e forte presença das rosas, como no caso do Projeto Transborda, sua primeira Exposição solo realizada em 2017. Perguntada sobre a estável presença das rosas em sua arte ser devido ao fato dessas serem sua preferência, a artista respondeu ser muito mais que isso: das flores, as rosas são as mais populares e que possuem uma infinitude de significados e grande impacto cultural. Uma rosa sempre quer dizer algo. Possuem ovário e trazem um feminino muito presente. Já bordei milhares delas e sua perceptível mudança de forma ajuda a narrativa dos assuntos que proponho, explicou ela.
De fato, a rosa tem uma ligação profunda com o universo feminino no que diz respeito à natureza da fêmea. A artista não só através da sua arte, mas também através de si mesma, faz questão de enfatizar a importância e a força da fêmea, na natureza, que é muito mais que um papel exercido. A fêmea é o poder natural da vida e do alimentar dessa vida. São elas que sangram em diversos e novos ciclos, que geram e carregam outras vidas dentro de si, são elas que dispõem de seus peitos para alimentar e fortalecer o crescimento de outras vidas. Não sendo só uma questão de feminilidade mas principalmente uma questão de ser fêmea, no sentido visceral da palavra e do poder do sexo feminino.
Após o primeiro projeto, a Exposição individual Transborda em 2017, no Rio de Janeiro, a artista segue com seu trabalho que vai ganhando proporções e atenções aqui e no exterior. No ano de 2018, Paula Costa é convidada para participar da Exposição Coletiva “O Poder Feminino”, em São Paulo, e na “Brazil Fashion Forum em Miami, onde nesta apresentou um vídeo instalação, um site speciffic com rosas bordadas e sua nova Série através de fotografias que mostram a passagem do tempo, através de imagens registradas por ela mesma durante três dias. Em 2019, a artista retorna para São Paulo com a Exposição Individual “Ephemera” e mais para o final deste mesmo ano a estonteante individual (IM) Permanência, que trouxe uma retrospectiva de sua carreira, mostrando a arte viva e sua evolução natural ao longo do tempo, através de um jardim suspenso invertido com três mil rosas pink, vídeos instalações imersivas, obras em folhas de couro vegano e sua nova Série de esculturas em resina. (IM) Permanência, assim como seus outros trabalhos, chama atenção não só para questões pertinentes como a finitude da matéria e outras idéias fundamentadas nesse eixo, como também para a questão do aquecimento global e a necessidade da transformação.
Todos estes maravilhosos trabalhos trazem sempre o foco principal do conceito artístico de Paula Costa que é o de oferecer ao público inúmeras reflexões, questionamentos e respostas sobre cada de um de nós individual e coletivamente, dentro desta imensidão cósmica infinita, abundante e transitória. Quem somos? Qual o nosso papel? Qual nossa função? O que estamos fazendo? Todas as respostas, soluções e evoluções necessárias, estão dentro de nós. Porém, é preciso olhar para o interior, se enxergar e sentir como parte da natureza. Como vida em constante transição. E é isso que o vigoroso trabalho dessa artista, propõe: vida e suas infinitas formas e maneiras, sempre em transformação!
Com todo seu sensorial envolvido Paula Costa trabalha também outras linguagens artísticas que ao final tornam-se uma síntese perfeita do conceito narrativo, emocional, sensorial e também estético de sua arte. A artista desenvolve esculturas de resina, vídeos artes, instalações, pinturas, fotografias e performances onde nesta ela diz também gostar do tipo de interação que tem com o público: Procuro me relacionar com os temas das performances de forma mais livre, respeitando o que gostaria de dizer naquele momento. Mas, a idéia de quase todas elas é causar uma espécie de atentar ao tempo. Ou seja, uma tentativa de tirar o público do estado natural, da normose que nos invade dia a dia e que acabamos perdendo a sensibilidade de nos olhar, observar nosso tempo, enxergar o outro e entender que somos natureza e estamos todos conectados, explicou ela.
E como diz a música “Nos bailes da vida” do grande cantor e compositor Miltom Nascimento, “Todo artista tem que ir aonde o povo está”. Esta frase, dessa lindíssima canção, cabe como a sutileza e a força de um bordado para Paula Costa e para sua arte. Além de realizar Exposições em centros e galerias culturais que é aberto ao povo, ela leva sua arte, sua mente, sua energia e seu corpo para as ruas, através de suas intervenções urbanas em instalações e performances. A artista vai às ruas exercendo sua conexão com outros artistas, com a arte, com o trafego de pessoas, com a arquitetura das ruas, com o trânsito das ruas, com os diferentes e constantes movimentos e tudo mais que envolve este cenário. Enfim, com a atmosfera do mundo! A arte de Paula Costa já correu cidades como Curitiba, Goiânia, Recife entre outras, levando à cena urbana uma perspectiva da vida, da finitude, da transformação e principalmente da conexão.
Por tudo isso, poderíamos terminar essa com uma correta, porém, não determinante definição sobre a arte dessa admirável artista. No entanto, preferimos encerrar com a melhor definição dita pela própria, em sua rede social: NÃO EXISTE NADA NA TERRA QUE NÃO ESTEJA SE TRANSFORMANDO AGORA.
Essa, é Paula Costa!
Viva Cultura!: Paula, muito obrigada pela oportunidade em poder divulgar sua maravilhosa arte!
Paula Costa: Obrigada a Viva Cultura por divulgar e fomentar a arte brasileira.
NOTA: todas as imagens foram cedidas gentilmente pela artista.
SERVIÇOS: todas as informações sobre o trabalho da artista em:
paulacosta.art.br