Por Jaqueline Stori – 08/05/2020
Fernando Soares, artista visual, nascido na cidade de São Paulo, onde vive e reside até hoje, é um artista que foi apresentado ao mundo das artes primeiramente por seu pai, antiquário. A profissão do pai o fez crescer entre obras de arte e objetos relíquias, inclusive dentro de sua própria casa. A paixão do pai pela arte e seus derivados também era contada e ensinada para Fernando, que respondia com interesse e fascínio aos ensinamentos de seu pai e as obras e objetos artísticos com os quais convivia. Com estes ensinamentos e posteriormente aos mesmos, Fernando Soares cursa o Hermes Artes Visuais Acompanhamento De Projetos Artísticos, onde este veio a somar seus conhecimentos e dom artístico natural.
O artista conta que iniciou seus trabalhos nas artes plásticas a partir dos 17 anos sem a intenção ou consciência profissionalizante, pois já pintava antes disso. Pintou por muitos anos, mas, hoje o foco de sua arte é outro. Fernando Soares é daqueles artistas que além das inúmeras possibilidades que a arte oferece tanto no imaginário, na ciência, na tecnologia e em outras diversas ferramentas para o desenvolvimento e criação das mesmas, também faz uso dos desafios que este universo propicia tanto para artistas como para expectadores.
Sua linha de pesquisa é muita ligada a materialidade dos objetos, a materialidade do mundo. O artista trabalha com matérias primas rústicas como látex, câmara de borrachas, pregos, tinta pura etc. Através desses, consegue extrair o resultado de seu interesse que é o de explorar as diferentes possibilidades e distorções de uma mesma matéria: Eu gosto muito de fazer uma relação dos estados dos materiais no sentido de tencionar muito as borrachas, em chassis de madeira. Em alguns outros trabalhos eu não tenciono, só amarro o material que pode ser a borracha (meu grande foco) e também outros que eu faço com linhas, por exemplo, onde este material se encontra totalmente solto pendendo apenas para a força da gravidade, contou ele.
A utilização de materiais rústicos na criação de suas obras advém do seu gosto pelas polaridades, como tenção e não tenção, por exemplo, e de como estes estados opostos se convergem para só um movimento: É como um batimento cardíaco, onde o coração bate mas também para de bater para voltar a bater novamente. É tão importante quanto o pulsar. Então, eu gosto muito de relacionar essa matéria tencionada e não tencionada para um só fenômeno. Entender polaridades como uma junção necessária para a existência de qualquer coisa. Sejam coisas matéricas ou até as emoções. O mundo é feito do bem e do mal, da luz e da escuridão, da alegria e da tristeza, da lua e do sol. Coisas que não entram sem a outra. Na realidade parte de coisas que gostamos vem de coisas que não gostamos. Meio que uma coisa vai alimentando outra para poder coagular num só pulsar, numa só existência, disse Fernando Soares.
Além da ligação com a materialidade dos objetos e também do mundo, a arte deste artista que vem se destacando cada vez mais no cenário artístico cultural, fundamenta-se também no conceito ideológico da subversão da pintura, onde ao referir-se às borrachas tencionadas e não tencionadas sobre chassis de madeira, suas obras ganham uma aura de pintura: No fundo é uma pintura objeto onde não faço uso da tinta. Eu uso objetos para realizar essa atividade pictórica não só com a borracha, mas também com tinta pura, pintando diversas camadas de tintas para depois arrancar e fazer uma espécie de cobertor e expor isso, uma pintura apenas com a tinta pairando no ar, balançando de acordo com o vento do local. Uma pintura sem telas, sem chassis e outros suportes, explicou Fernando Soares.
A singularidade das obras do artista que preserva as características estéticas dos materiais rústicos, são intencionais devido o conceito metafórico das polaridades aplicados nelas. O artista não maqueia e nem mascara a natureza das matérias primas que utiliza na criação de sua arte. Ele assume o que elas realmente são, justamente por este ser o foco de seu trabalho que é o de transmitir essa sensação de respiração, da tenção e da falta de tensão e a conversão desses estados opostos para um só fenômeno.
A preservação dos valores materiais e imateriais das matérias primas utilizadas pelo artista, relaciona-se também aos conceitos característicos de sua arte, onde esta apresenta uma linguagem munida de elementos estéticos que falam de um corpo de pintura, onde as borrachas são como corpos mesmo e como tal reagem como eles, e por isso se tencionam e relaxam possuindo diversos estados diferentes neste sentido. Além disso, a estável e proposital presença monocromática casando exatamente com a proposta de seu trabalho e das recentes Séries “Nu E Cru” e “Força”, enfatizam o ponto principal do assunto que é o de manter e potencializar a materialidade e o conceito de suas obras e de seu trabalho em geral.
Num primeiro contato visual vemos obras esticadas, tencionadas, relaxadas, não tencionadas, dobradas, enroladas e outras muitas variações criativas propostas pelo artista, inseridas nos característicos conceitos já descritos aqui. Todavia, o que Fernando Soares objetiva passar para o expectador através de sua arte, é a tensão poética da matéria projetada em uma nova ambiência: Gostaria que as pessoas conseguissem visualizar essas polaridades que tento atingir com meus trabalhos, através dos dípticos, ou de colocar só um trabalho ao lado do outro sendo um tencionado e o outro não como esta parte mais conceitual minha que vem muito da teoria de Lúcio Fontana, que é essa idéia do infinito. A de que você através de uma matéria e das texturas dessa matéria, consiga projetar uma nova ambientação para aquele trabalho bidimensional, através de dobras que você não consegue enxergar exatamente – de como estão sendo feitas as amarras!… Parece que o próprio trabalho está puxando ou relaxando, explicou o artista.
Todo este conceito desenvolvido por Fernando Soares oferece uma espécie de comunicação que a matéria faz com o expectador através das diferentes distorções e versões de uma mesma matéria, onde as pessoas possam sentir e visualizar a existência de diversos tipos de investidas para qualquer assunto ou ocasião, onde nos pegamos inúmeras vezes obrigados (devido circunstâncias) ou habilitados a desenvolver diversas personalidades para poder viver diversos tipos de situações, porque estas nos obrigam ou impõem a não nos mantermos numa mesma essência durante toda uma vida.
E assim vai percorrendo e ganhando espaço no circuito das artes entre Exposições coletivas e individuais, o maravilhoso trabalho desse premiado artista: entre látex, borrachas, chassis de madeiras, tintas pura, grampos e linhas. Fernando Soares, através de sua essência artística, consegue penetrar ao fundo nos limites tensionais, sensoriais e emocionais da matéria humana. Com sua idéia de subversão das formalidades no mundo das artes, do conflito de um entendimento formal que se tem sobre um objeto de arte, a grandiosidade e o talento desse maravilhoso artista, nos leva a reflexão e a expansão de novos horizontes relacionados à matéria e suas possibilidades de infinitos estados necessários à mudança.
Arte que prova e atesta que tudo muda quando necessário, que tudo é provável no mundo imaterial da matéria, que adaptações são necessárias tanto quanto a liberdade em não adaptar-se. Suas obras não são meramente para serem vistas com passividade, mas para serem absorvidas com energia!
Assim é a arte de Fernando Soares!
Viva Cultura!: Fernando, muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em podermos divulgar sua arte.
Fernando Soares: Obrigada a Viva Cultura por divulgar e fomentar a arte visual brasileira.
NOTA: Todas as imagens cedidas pelo artista.
SERVIÇOS: Para mais informações sobre Fernando Soares
www.fernandosoares.com