Por Jaqueline Stori – 11/07/2023
Um dos antigos costumes da família brasileira é fazer suas refeições à mesa. Algumas pessoas, inclusive, foram ensinadas e criadas com a seguinte frase: Mesa é Sagrada! Este antigo costume com o passar dos anos, mesmo sendo passado de geração para geração, foi se tornando cada vez mais distante das famílias brasileiras. Um dos maiores fatores é a incompatibilidade de horário entre os membros de uma família. Com isso, para muitos, estes momentos passaram a ser menos freqüentes sendo às vezes uma vez ao dia ou uma única vez na semana. Contudo, há uma nova geração que não tem ou não foi criada com este hábito (que aí já envolve fatores ligados ao uso constante e quase permanente dos computadores, celulares e também dos encontros em bares e restaurantes).
O fato é que este certo “distanciamento”, independente do motivo, perdeu força com a chegada da pandemia. Se por um lado noticiava-se (infelizmente) desavenças devido o convívio integral, por outro, muitos tiveram que aprender ou deram mais atenção e valor para aquilo que passava desapercebido ou era tido como um segundo plano, digamos assim: nossa família, o aconchego e a segurança do nosso lar. Uso o termo Lar, porque casa quase todos tem. No entanto, um lar, é feito de afeto e respeito mútuo. E dentro deste contexto familiar, a pandemia muito contribui (mesmo à força) para reflexões sobre proximidade, convívio com os que amamos e a dor em perdê-los. Houve um crescente valor sobre família (que aqui inclui pessoas que amamos e escolhemos para fazerem parte de nossa vida) e principalmente sobre a vida. E assim, mediante o cenário pandêmico, entre muitas perdas vieram também muitos ganhos, que obviamente não reparam a dor da perda, mas nos ensina e direciona ao caminho do amor!
Por querer viver, milhares de pessoas ficaram dentro de suas casas e acabaram redescobrindo e ressignificando seus lares. Uma dessas ressignificações foi a de fazer as refeições juntas, e perceber que nestes momentos não cabia somente estar se alimentando, mas também o de envolvimento entre os membros, proporcionados por esta hora: o de relacionamento. Muitos perceberam e sentiram a importância de estar em harmonia com quem se ama, e que os momentos para reunir todos não é somente em festas ou encontros em bares e restaurantes.
Uma reunião informal familiar na hora das refeições, leva ao estreitamento e fortalecimento dos laços afetivos, pois sentados à mesa os membros interagem entre si. Mais do que isso e tão fundamental quanto a descontração, é a união! Os laços são fortalecidos porque os assuntos fluem espontaneamente. Claro que não só bons assuntos. Assuntos complexos e sérios também fazem parte de nossa vida, e por isso também são levados para os momentos das refeições à mesa, na certeza do apoio incondicional, do conforto familiar e até mesmo de uma idéia que possa elucidar o problema (dependendo do que seja). A união nos faz sentir seguros, amparados e fortes, e a família nos dá essa base.
Falando sociologicamente, nossa cultura nos mostra que o maior elemento unificador é a comida. Por causa dela nos reunimos para confraternizações, reuniões, festas, encontros etc. Toda esta unificação origina-se da família que sempre teve o hábito de organizar reuniões em casa, expandindo tal costume para outros locais onde também se pode organizar diferentes tipos de confraternizações. A mesa é um dos maiores símbolos da família em quase todas as culturas do mundo, justamente por proporcionar momentos de união, alegria e afeto!
Aquela satisfação em sentarmos à mesa com quem amamos e dividir nossos sorrisos e histórias, não tem preço! Alegria contagiante e reuniões com afeto nos tornam mais felizes, sem duvida. E por querermos estar sempre felizes, procuramos viver momentos agradáveis. Quantas boas notícias deixamos para comunicar na hora das refeições? Um novo membro familiar à caminho, por exemplo. A conquista de um novo emprego. A promoção de um cargo melhor na empresa que trabalha. O anúncio de um novo namoro. A compra de um bem material que beneficiará toda família. A vitória de uma causa na justiça. A notícia de que algum amigo ou familiar ficou curado de alguma doença. A notícia da aprovação no vestibular, entre tantos outros assuntos compartilháveis que já nos leva para o automático brinde.
Troca de experiências: esse é o ponto fundamental. Apenas sentar-se à mesa por obrigação, mas não conversar, não gera resultados. Por isso, é importante deixarmos de lado as invenções modernas que dispersam a atenção. “É necessário irmos além de uma simples reunião. Não adianta nada ficarmos à mesa e, ao mesmo tempo, falarmos ao telefone, navegarmos na internet ou assistirmos televisão. A idéia é criar uma relação familiar. Aquela hora é de se ligar na família. Não importa se o encontro familiar é feito no café da manhã, no almoço ou no jantar. O essencial é estar junto e conversar. E também não importa o tamanho da família: O importate é o amor e a união em qualquer circunstância, seja nos dias ensolarados ou nublados!
A vida é uma grande festa e nós somos os convidados. Portanto, não fiquemos restritos a ficar em um canto desta festa esperando o garçom vir nos servir, seja por vergonha, por alguma indisposição ou até mesmo por estarmos chateados. Não! Vivamos esta linda festa organizada pelo Criador, que tudo, absolutamente tudo nos proporcionou em infinita abundância e que nos colocou como seus convidados Vips!
Então, permitamo-nos viver com amor, com alegria, com gratidão, com paz, respeito e solidariedade, pois são esses sentimentos que nos libertam do orgulho, da mágoa, da frustração, da culpa e da incompreensão em relação ao nosso semelhante. Aproveitemos as coisas boas, e assim as más vão ficando para traz!
É como diz uma frase da música “Tempos Modernos”, do maravilhoso do Lulu Santos:
“Vamos viver tudo que há pra viver, vamos nos permitir”.
DIVIRTAM-SE!!