Por Jaqueline Stori – 05/11/2020
A arte, em todos os seus segmentos, bebe de uma infinita fonte de recursos e linguagens para expressar as mais variadas culturas e diferentes questões. Claro que toda arte traz consigo a interpretação e o sentimento de quem a cria. Tendo isto, ela consegue ser grandiosa e abrangente justamente por transforma-se, ser vista e sentida de acordo com a individualidade e a essência de cada um. E, é essa a magnitude e grandeza da arte: a de ser exclusiva dentro de milhares de pessoas que compõe um único todo.
Nesse todo de infinitudes, finitudes, certezas, incertezas, razões, lógicas, mistérios, sensações, emoções, terra, cosmos, conscientes, subconscientes e tudo mais que faz parte de nós e que nós fazemos parte, a arte de Stenio Oliveira, que não deve ser classificada, mas sim inserida em diversas temáticas e contextos, nos revela e nos leva a um mundo submundo existencial muitas vezes escondidos ou adormecidos dentro de nós.O artista que nasceu na cidade de Americana, interior de São Paulo, e que há algum tempo reside em Campinas (SP), se formou em artes visuais pela PUC na mesma cidade em que mora atualmente. Contudo, oriundo de uma família de empresários e sentindo-se responsável e solidário em colaborar com seus pais neste setor, resolve ir para Curitiba e cursar economia. Lá, tendo mais acesso à cultura e se relacionando com profissionais do segmento (que percebendo seu natural potencial para as artes visuais), recebe incentivo para seguir esta carreira. Stenio Oliveira que já era influenciado por este universo tão fascinante, tomou a decisão de trabalhar com arte e viver dela: em Curitiba, senti a necessidade e a vontade de me aprofundar e de me envolver mais a fundo com as artes, confessou o artista.
Porém, além da essência artística, Stenio Oliveira, desde muito pequeno, tinha também outro fascínio: o mundo da biologia. Os seres vivos e seus funcionamentos orgânicos. O artista contou que ainda criança passava horas observando o comportamento dos insetos, a transformação das lagartas e principalmente o universo das abelhas, cuja morfologia despertava nele curiosidade e deslumbramento ao mesmo tempo. Como toda criança (quando se interessa ou tem afinidade por algo), costumava brincar com experimentos para ver no que poderia resultar: eu lembro que pegava alguns produtos da lavanderia da minha casa, como sabão em pó, detergente, etc, para misturar com terra. Queria ver o resultado da mistura desses elementos. Na realidade, mais que uma brincadeira, hoje percebo que era meio uma alquimia, tentando achar minha pedra filosofal (RS…rs..rs…), contou, ele.
O encanto pelo mundo da biologia dos seres vivos e seu funcionamento, não está relacionado somente a parte científica como para alguns estudiosos e pesquisadores. Para o artista, seu encanto pelos seres vivos e pelos elementais da natureza como a terra e água, por exemplo, está intrinsecamente ligado à sua conexão com o cosmos. Sempre muito sensível com tudo que está ao seu redor, Stenio Oliveira, sempre se viu e sentiu parte deste cosmos, e como tal, submergiu à sua intuição e à esta energia, buscando sempre estabelecer um contato interno e externo com tudo que envolve esta grande e infinita energia: sou muito ligado com a questão da cosmogênese. Desde a infância que me sinto conectado com a natureza, com o cosmos e com todo esse ocultismo por trás da criação. Assim, conforme fui amadurecendo, fui penetrando neste universo do esoterismo e da espiritualidade com intuito de tentar entender questões sobre a criação cósmica, contou ele.
Toda esta conexão, magnetismo e interesse pelo cosmos, seres vivos e tudo mais que está relacionado a estas questões direta e indiretamente, Stenio Oliveira traz para sua arte, embasada em uma linha de pesquisa que transita por diversos pólos diferentes como o cromatismo, espiritualidade, psicanálise, erotismo, Jung, estudo sobre gêneses, filosofia e matéria, mas que são complementares para ele no que diz respeito à sua busca e entendimento interior.
Arte singular as obras de Stenio Oliveira vem se destacando no cenário artístico visual contemporâneo brasileiro, por seus conceitos, linguagens, materialidade, propostas e desafios. A arte desse grande artista não só tem capacidade de revelar como também de nos conduzir ao nosso subconsciente, e, até mesmo de nos fazer encontrar o que precisávamos, mas não queríamos, e vice versa.
Stenio Oliveira revela ter uma certa “insistência” na capacidade de armazenamento e revelação do subconsciente humano, assim como na criação cósmica. O que será que guardamos em nosso subconsciente? O que este é capaz de revelar? Como e de onde as diferentes e diversas espécies de seres vivos surgiram? Quais teorias, pesquisas e tangibilidades que a ciência tem como propriedade para afirmar o que é ou não, de fato? Até onde a espiritualidade influencia e dá ou não razão para ciência? De que forma a espiritualidade, ciência e psicanálise confrontam-se entre si para atestarem suas verdades, ou, até onde vão, em suas consonâncias?
Muitas perguntas que nos levam a uma reflexão profunda e a inúmeros questionamentos. Pode parecer confuso e um pouco obscuro, como de fato é. Todavia, a existência de múltiplos canais que nos auxiliam na busca da harmonia e realização pessoal, podem acelerar nosso processo evolutivo conforme nossa crença, aceitação e expansão de consciência. Por tal motivo, podemos considerar a arte de Stenio Oliveira como um desses múltiplos canais de auxílio, mergulho e conexão com o oculto e o subconsciente.
Seu trabalho no âmbito de conceitos imateriais traz temáticas bem complexas inerentes ao ser humano como erotismo, fobia, medo, relação com a morte e com a vida, lado psíquico e o sagrado. Um convite, mas também um chamado para a busca da gênese, do começo e do íntimo, através de nossas sensações e emoções. Arte que transita entre pintura e escultura, as obras desse artista oferecem diálogos inéditos dentro de perspectivas da construção em pintar e esculpir ao mesmo tempo e no mesmo espaço físico, desafiando o uso harmônico das cores dentro de movimentos e formas, em um conjunto bem uniforme e dinâmico de linguagens diversas.
Suas obras são grandiosas não só em conceitos artísticos, científicos, espirituais e esotéricos, como também em proporção e tamanho. A maioria de suas pinturas, esculturas e instalações possuem grandes dimensões e são carregadas de muito material têxtil e orgânico. O artista diz que estes materiais muito lhe atraem e comungam com sua criação e produção em transformá-los em uma plasticidade que lhe interessa: gosto muito de trabalhar com estes materiais, pois me permitem chegar ao ponto que acho que tenho que chegar. Me permitem realizar o que eu quero, dentro da minha linha de pesquisa e dos conceitos que objetivo transmitir para o público. Além do fato d’eu ter uma ligação com esses materiais não só por eu ser da cidade de Americana onde o material têxtil tem um viés muito forte, mas também pelo fato da minha conexão com a natureza e seus elementos, explicou Stenio Oliveira.
Em sua mais recente Exposição Individual “Morfologias Sensórias”, na Casa De Vidro em Campinas – SP, que foi interrompida por causa da pandemia, o público (antes da interrupção), pode conferir presencialmente o vasto e diverso mundo da arte desse talentoso artista. “Morfologias Sensórias” trouxe para os expectadores grandes obras de arte que dialogavam com o astral e o plano físico. Questões do consciente com o subconsciente onde o artista pega uma coisa do inconsciente e traz para o consciente, como por exemplo, a repulsa ou fobia pelos buracos das larvas, das colméias entre outros. Por que as pessoas tem aversão à isto? O que ocasionou tal asco ou fobia? O que será que está guardado em nosso subconsciente para termos este tipo de sensação quando nos deparamos com isso?
Obras volumosas carregadas de intensidade e cores fortes em variadas e diferentes formas que expressam a linguagem poética do artista e seus questionamentos sobre o mundo, comportamento, espiritualidade, gênese, e outros fatores relacionados, traduzidos num amplo e diversificado estudo da matéria, transformadas em arte que trazem um resultado estético elucidado na busca pelo entendimento, lugar e ligação dentro do universo.
Por ter afinidade com matérias primas que lhe oferecem possibilidades de manipulação e transformação na criação de suas obras e na materialização de suas idéias, Stenio Oliveira confessou considerar-se mais artista plástico do que visual, em si: eu trabalho muito com materiais orgânicos e têxteis, isso, me faz ter um envolvimento bem forte com a plasticidade. Sou um artista visual, porém bem plástico, afirmou ele.
Artista visual, artista plástico e multimídia, Stenio Oliveira assim como todos dentro dos diversos setores e segmentos, teve sua vida e trabalho modificados devido à pandemia global. Não só economicamente sentimos os reflexos da atual fase, como também tivemos o lado psicológico afetado. Para artistas e para todos os outros profissionais que trabalham e vivem de sua criatividade, também não foi diferente dos demais. Tendo que viver em isolamento social, tivemos que nos adaptar para não pararmos com as várias linhas de produção que impulsionam nossa economia local e global. No segmento das artes e do entretenimento, que basicamente vivem de aglomerações, artistas e profissionais envolvidos direta e indiretamente com os setores, mesmo diante dás dificuldades que já existiam antes da pandemia, encontraram meios de não pararem suas atividades e produção dentro do atual cenário. Cada um encontrou sua forma de trabalhar, de produzir, de criar e de se reinventar com o que se tem para hoje. Afinal, quem tem criatividade e vontade, faz!
E assim fez ele! Saindo de um ateliê (atualmente em reforma) com um espaço físico que comportava sua linha de produção artística e plástica, abrigando suas obras de grandes dimensões e seus materiais de trabalho, Stenio Oliveira que tem na veia um talento primoroso, único, curioso, detalhista e instigante, teve que adaptar ao espaço físico do seu apartamento seu turbilhão de idéias. Por causa do isolamento social, por ser artista multimídia e por saber manipular os mais variados e diferentes materiais para a criação de suas obras (apesar da afinidade e preferência pelos materiais têxteis e orgânicos), este inquieto artista que admitiu não conseguir parar seu cérebro nem por alguns instantes (RS…rs..rs..), levou para o seu apartamento o mundo da aquarela para continuar sua arte, surgindo aí uma nova fase denominada por ele como Estudos de Isolamentos Cromáticos em Aquarela, onde desenvolveu uma Série Experimental, que são reflexões sobre seu momento de aquietação, silêncio e mergulho para o anímico. Nestes “experimentos” vemos belíssimas obras explorando a consistência, a variedade em cor e tons (uma das características marcantes de seu trabalho) e seu uso harmônico, traços e curvas desenhando seu abstrato singular dentro da linguagem expressa pela pintura.
Por tudo que oferece não só em termos conceituais e contextuais, mas também em termos estéticos diferenciados e caracterizados por algumas dualidades entre o belo e o feio, conforto e desconforto, prazer e desprazer, decoroso e indecoroso, consciente e inconsciente, começo e fim, a arte visceral desse grande artista já percorre o cenário artístico visual contemporâneo brasileiro, desde 2012. Suas obras já participaram de inúmeras Exposições Coletivas como a Exposição Formas E Fragmentos, no Museu da Imagem E Do Som, em Campinas (S-P); a Exposição Erótica, Jockey Club de Campinas (S-P); na Exposição International Awards Gallery, Cage Gallery em Barcelona (Espanha); Casa Parte Feira De Arte Contemporânea (S-P); na Exposição Meios e Processos, na Fábrica de Arte Marcos Amaro, em Itu (S-P) entre tantas outra coletivas.
Nas individuais, o artista realizou as Exposições Primitividade, no Espaço Cultural, no Arouche (S-P); a Exposição Crítica, Rua e Sociedade, no Espaço Cultural Laundry (S-P); Exposição Consciência E Contrastes, Palácio Dos Jequitibas, Campinas (S-P); e, a maior e mais recente individual, Morfologias Sensórias, sucesso de crítica e público, que teve de ser interrompida devido a pandemia.
Com isto, podemos atestar que não é só por seu talento e por seu dom natural que Stenio Oliveira consegue criar, desenvolver e traduzir para o campo das artes, aspectos tão importantes e ao mesmo tempo ocultos imaterial e materialmente, além das sensações táteis e visuais diversas que consegue extrair do expectador. Não, ele consegue desenvolver principalmente porque tem um olhar e um sensorial que o faz ser quem é enquanto artista e pessoa num mesmo ser: A maneira fantástica, colorida e espiritual a qual eu vejo o mundo me toca profundamente. E é nessas experiências que crio uma conexão ritualística com minhas produções. É também nessas experiências que nasce uma intimidade sensível entre mim e a obra, algo que desejo, reverência, rebeldia e emoção, declarou Stenio, terminando esta.
E por tudo que sua arte proporciona e apresenta, só resta para nós o público, agradecer todo este percurso oferecido que nos encaminha para o deleite à fantasia e também à realidade, apontadas pelas obras de um de nossos melhores artistas visuais brasileirol!
Viva Cultura!: Stenio, muito obrigada pela oportunidade em podermos apresentar e divulgar sua arte para nossos leitores e público em geral.
Stenio Oliveira: obrigada à viva cultura pela entrevista e por divulgar a arte visual nacional.
PRESTIGIE A ARTE BRASILEIRA!!
SERVIÇOS: Tudo sobre a arte de Stenio Oliveira em:
@steniooliveiraart
NOTA: Todas as imagens gentilmente cedidas pelo artista.