Por Jaqueline Stori – 06/12/2019
A cidade maravilhosa ganhou nesta última terça-feira (03/12), a Exposição FLUVIUS, da renomada e conceituada artista visual, Paula Klien, sobre a regência curatorial de Denise Mattar. Sucesso já no primeiro dia de abertura, FLUVIOS reúne 50 obras inéditas da artista, entre pinturas em telas em nanquim na grande maioria, digigrafias, instalações e um vídeo performático, onde este nos possibilita ver e sentir sua integração com a natureza. No vídeo, Paula Klien leva seu corpo, sua essência e sua tela para dentro de um rio, onde desenvolve harmonicamente sua arte em consonância com a energia e com os elementos naturais.
Mas, antes de mergulharmos em FLUVIOS, vamos tentar imergir um pouco na arte e na essência artística desta grande artista.
Em entrevista em seu ateliê, Paula Klien, carioca e residente na cidade do Rio de Janeiro, inicia afirmando ter nascido artista e que sempre sentiu isso de forma ainda inconsciente, já na infância. Começou a desenhar e pintar desde cedo e foi seguindo seu lado artístico cada vez mais, se aprofundando não só na pintura e nos desenhos, como também em outras vertentes como a dança e a música. Sobre a dança, inclusive, a artista diz que esta não é somente um trabalho com o corpo e com a mente. Para ela, a dança faz parte de sua mente, ainda que ela não esteja dançando: A dança está em mim, na minha mente e na minha alma. Talvez por isso, sempre a uso não só em minhas pinturas mais também em tudo que realizo. Do meu jeito, na minha interpretação e como eu a sinto, explicou ela.
Entretanto, durante alguns anos, Paula Klien seguiu para fotografia, clicando personalidades e o mundo da moda. Sucesso também como fotógrafa, produziu livros, realizou campanhas publicitárias e editorias de moda e dentro deste contexto em que trabalhava na época, também realizou Exposições referentes a estes trabalhos.
Apesar do sucesso e do reconhecimento no mercado como fotógrafa, a essência pulsante de artista a fez afastar-se da fotografia e retornar às artes plásticas. Paula Klien que já havia feito cursos livres no Parque Lage (R-J) e estudado História da Arte, em 2016, faz uma residência na Escola de Artes Visuais Kunstgut, em Berlim na Alemanha. Com sua experiência como artista e com sua bagagem de estudos e pesquisas Paula intuitivamente desenvolve uma técnica que ela denomina como aguada, utilizando o nanquim misturado à água onde estes dois elementos resultam em expressões fluidas e singulares. Ela define tal processo como lavar água preta: eu crio um processo de repetição em que faço marcas com o nanquim e que repetidamente lavo estas marcas buscando cicatrizes que não se apagam, explicou.
Através desta técnica intuitiva que desenvolveu, com o tempo descobriu que sua arte relacionava-se diretamente à arte oriental, em especial a chinesa e a japonesa.
Essa descoberta levou a artista a conhecer e mergulhar fundo em estudos sobre arte oriental. Cada vez que estudava sobre o assunto, mais afinidade e identificação. Paula contou que era como se já conhecesse a essência dessa arte, seus conceitos e ligações com o interior, com o eu… Como se a arte oriental já viesse impregnada em sua essência: Desenvolvi está técnica, devido minha identificação com o resultado que a água e o nanquim podiam expressar sobre meu interior. De como eu posso representar e externar meus sentimentos, emoções e sensações. Quando a desenvolvi, realmente, não sabia que minhas pinturas tinham referências e inspirações orientais, confessou a artista.
As pinturas de Paula Klien em princípio, podem ser classificadas como expressionismo abstrato por não apresentarem nenhuma referência imagética (quase não há imagem). Suas obras completam-se na imaginação do expectador. Porém a objetividade e clareza conciliadas com a proposta líquida e invisível caracterizam sua arte em expressões e detalhes bem específicos como equilíbrio rítmico entre brilho e escuridão, densidade e luminosidade, impressão de peso e cor, variação monocromática indo do tom preto denso ao negro texturizado, do cinza sutil ao branco radiante, evidenciando a fluidez do nanquim e a imprevisibilidade da sua utilização seja no espaço (suporte) ou tempo.
Segundo a artista, é um trabalho que estabelece uma relação com elementos que permeiam o tempo e sua inconstância. Reflete falta de controle sobre os acontecimentos e anuncia a necessidade do improviso diante dos imprevistos, mostrando a possibilidade de escolhas diante das opções, aceitando os acidentes no meio do caminho e mostrando surpresa nos resultados: É como um rio que sabe onde quer chegar mas aproveita os imprevistos do percurso, traduz ela. Tendo isso, tais elementos e narrativas, nos permitem classificar o mundo abstrato de Paula Klien como um abstracionismo lírico conceitualizado na intenção e no acaso, ao mesmo tempo.
Não é a toa que a arte de Paula Klien têm viajado pelo Brasil e pelo mundo. Em 2017 mostrou seu trabalho seis vezes no exterior. Em Berlim (Alemanha), foram três vezes: uma individual e uma coletiva na aquabitArt gallery, galeria essa que inclusive a representa na cidade, e uma participação na Positions Berlin Art Fair junto a galeria. Em Nova Iorque a convite da Clio Art Fair, Buenos Aires, com a Galeria Emmathomas na arteBA e em Londres numa concorrida apresentação solo na Saatchi Gallery. Neste mesmo ano em novembro, participou da FEIRA PARTE em São Paulo, com a Galeria Aura.
No ano de 2018, expôs na ARTRIO, realizou uma Exposição individual, “Extremos Líquidos” na Casa De Cultura Laura Alvim (R-J) e foi a única artista visual brasileira convidada a participar da Exposição “Pincel Oriental” no Centro Cultural Correios (R-J).
E como a inquietude desta maravilhosa artista pela descoberta do seu mundo interior e da busca pelo autoconhecimento, onde através de múltiplas linguagens artísticas, principalmente a pintura, ela passeia pelos campos da transcendência, do silêncio e da entrega, permeada de muita sensibilidade e força, Paula Klien continua produzindo suas obras através do sensorial e do emocional, encontrando este ano de 2019 outros elementos pessoais que a levaram a um desdobramento de seu trabalho. Em suas recentes criações, surgem linhas que apontam para a horizontal, vertical, que insinuam caminhos e mostram estradas. Estão mais contrastadas, mais claras, mais abertas e mais vivas!
Como desfecho resultante de alguns trabalhos anteriores junto a diversos trabalhos recentes, surge a Exposição “FLUVIOS”, encerrando com maestria o ano de 2019. Em FLUVIOS, o público tem a oportunidade de embeber-se no universo fluídico da essência de Paula Klien, através de suas atinentes obras. A Exposição é tida por ela como a representação de sua caverna e de seu mundo de silêncio. Segundo uma de suas declarações em sua rede social, o que ela mais quer, é que o público ao visitar a Exposição, entre como se estivesse entrando numa caverna, no seu mundo e no mundo de silêncio. Que as pessoas possam se conectar com seu trabalho para terem um autoconhecimento, para fazerem um mergulho como ela faz em si mesma e que essas consigam olhar para suas obras tentando uma conexão com elas próprias, assim como faz consigo mesma.
Além do convite à submersão à caverna de Paula Klien, o público também tem a oportunidade de visitar uma Exposição elaborada e produzida com excelência. FLUVIUS possui uma estética visual requintada, rica em informações plásticas como iluminação perfeita e adequada ao alumbramento da Exposição, forte e grandiosa presença de diferentes telas bem distribuídas no espaço, atmosfera cenográfica remetendo a um mundo interno, várias digigrafias oriundas de um amplo repertório referencial de seus trabalhos fotográficos, um vídeo performance produzido especialmente para agregar à concepção da Exposição e ao conceito material e imaterial dos últimos trabalhos realizados pela artista e duas instalações magníficas e exuberantes de raízes naturais garimpadas e trabalhadas por Paula, trazendo com elas a conclusão perfeita deste infinito vigoroso trabalho, proporcionado pelo amor, pela arte e pela alma desta memorável artista, que assim como as raízes impedem e protegem a erosão dos rios, permitindo que estes sigam seu percurso natural fluindo livremente, sua arte e energia também flui livre e infinita no abrigo do silêncio, da calmaria, da intensidade, da profundidade, da instabilidade e da densidade.
Como muito bem elucidou a curadora Denise Mattar, águas e raízes refletem bem esse momento do trabalho de Paula Klien: São águas mansas de um rio turbulento.
EQUIPE:
Curadoria: Denise Mattar
Identidade Visual: Cataldo Design
Iluminação: Júlio Katona
Montagem: Fábio Martins
Pintura das paredes: Renato Cecílio
Captação para vídeo: Pedro Luiz
Produção: Graciele Amora
Assessoria de imprensa: Flávia Tenório
SERVIÇO:
Exposição Fluvius de 04/12/2019 a 26/01/2020
Aberta de terça a domingo dás 12h às 19h
Centro Cultural Correios: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro, Rio de Janeiro.
Entrada franca.