Arte em Exposição

Aberta ao público carioca no Midrash Centro Cultural, “A Menina, a chuva de amoras e outras h[H]istórias, do Mago das cores Walter Goldfarb.

Fotografia, Emanuel Alves.

Por Jaqueline Stori – 13/08/2019

 

Inaugurou ontem no Midrash Centro Cultural, reduto judaico no bairro Leblon, na cidade do Rio de Janeiro, a Exposição do artista visual Walter Goldfarb, “A menina, a chuva de amoras e outras h[H]istórias.

Um dos nomes mais conceituados da arte contemporânea brasileira e do mundo, Walter Goldfarb nascido no Rio de Janeiro, no ano de 1964, traz em suas obras sua herança familiar cultural e afetiva. Filho de mãe judia, prisioneira dos campos de concentração e sobrevivente do Holocausto e de pai Polônes, o artista sempre apresentou trabalhos bem singulares, percorrendo entre diversas linguagens na criação dos seus trabalhos. Entre elas, a música, principalmente a música erudita, por influência de seu pai que era violinista e que por conta disso, ouvia e tocava bastante em casa para a família. Walter lembra que seu pai em respeito à sua mãe, não ouvia o músico Alemão Richard Wagner.

Autor de várias obras de arte em séries (uma das características de produção do artista), Walter Goldfarb apresenta em seu espetáculo visual, uma variação de expressões culturais com temáticas religiosas, temáticas da cultura semita e muitas outras. Todas dialogando entre si e com a música erudita, presença forte e constante em todos os seus trabalhos. Algumas obras nos são desafiadoras devido sua complexidade. Mas, uma das questões mais apaixonantes no trabalho de Walter Goldfarb, seja justamente a complexidade permeada de emoções e sentimentos diversos que elas despertam no público.

Walter Goldfarb.
Fotografia, Emanuel Alves.

E como estamos falando de arte visual e, especificamente de uma arte que dialoga muito com a música erudita, a Exposição “A menina, a chuva de amoras e outras h[H]istórias, está sob a batuta de ninguém mais ninguém menos do que a historiadora, cientista social, curadora de arte, editora de revistas e catálogos de artes, e pesquisadora da arte brasileira, Vanda Klabin.

A curadora Vanda Klabin, em entrevista a Viva Cultura.
Fotografia, Emanuel Alves.

Regente da Exposição, a curadora em entrevista à Viva Cultura, contou que há 3 anos ela e Walter Goldfarb, fizeram uma retrospectiva dos 25 anos do trabalho dele, em uma grande exposição que ocupou o Centro Cultural Correios, no Rio De Janeiro, e daí, a união para realizar esta Exposição, que é uma homenagem a mãe dele.

Esmiuçando a Exposição, Vanda Klabin explicou que a mesma traz algumas obras com temática da cultura semita, que é uma homenagem do artista para sua mãe e sobretudo a sua relação familiar. Então, tem toda essa mitologia aqui presente, enfatiza a curadora.

O Walter é um pintor que não utiliza pincéis. Não espreme os tubos de tinta, como costumo dizer. Ele fabrica seu próprio material de trabalho. Tem uma lavagem que ele mesmo faz nas próprias lonas (que são seus fundos de quadros), utilizando produtos químicos para atingir a consistência colorística que ele quer, interferindo assim nos campos cromáticos como o carvão. Ou seja, o preto não é uma tinta preta: é o bastão de carvão passado várias vezes e repassados em várias camadas. Ele utiliza laka através de uma seringa, para conseguir os campos cromáticos, também usa bordados nas telas, explicou Vanda Klabin.

Fotografia, Emanuel Alves.

Walter Goldfarb, por todo este processo de produção de suas obras de arte, como explicou a curadora, também é conhecido como o alquimista das cores, por fabricar tons únicos, que não são encontrados no mercado. Suas obras possuem uma estética inconfundível e carregam uma identidade própria resultante de toda matéria prima utilizada na confecção de seus trabalhos. Além desta alquimia, o artista costura e borda suas telas: um trabalho de artesania que segundo Vanda Klabin, Walter Goldfarb costuma dizer que não é costura e sim sutura: Ele está toda hora impregnando o quadro com outros suportes, outros materiais e trazendo muitos elementos, naquilo que depois irá configurar como pintura. Então, estes trabalhos, com estas diversas modalidades técnicas e suportes, estão aqui presentes, e sobretudo com uma temática que relaciona ele com esse ideário da mãe. Ela não gostava de Monet, adorava colher amoras!..

Fotografia, Emanuel Alves.

Temos também nesta Exposição, várias frases separadas, oriundas de cartas e documentações que Walter guarda, em relação à sua mãe. Tem figuras que lembram pinturas holandesas como Rembrandt, por exemplo, mantendo um diálogo muito forte com a história da arte. Sua temática tem envolvimento com preocupações, com as ressonâncias da História da Arte, principalmente com a pintura Renascentista e também um envolvimento com toda uma iconografia de temática religiosa. Enfim, por toda esta riquesa artística e cultural, Walter Goldfarb é para mim um artista ímpar no cenário contemporâneo, termina Vanda Klabin, com um largo sorriso no rosto!

Fotografia, Emanuel Alves.

O que o público poderá ver além do belíssimo espetáculo de tons e nuances, é a narrativa de toda uma herança cultural familiar envolvida em sentimentos diversos, focadas em um conjunto resumido e significativo de obras, em diferentes formatos, realizados nos vinte e cinco anos de trabalho de Walter Goldfarb (1995-2019), que registra o seu desenvolvimento peculiar, originário de seu exercício de ateliê, estudos e pesquisas, atestando o talento e a magnitude de um dos nossos maiores artistas visuais.

SERVIÇOS: “A menina, a chuva de amoras e outras h[H]istórias, recebe o público até o dia 30 de setembro de 2019, no Midrash Centro Cultural, Leblon, Rio de Janeiro,  dás 14:00 às 22:00. Entrada franca.

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