Arte em Exposição

Exposição Da Linha, o Fio, chegou no Centro Cultural BNDES, no coração da cidade do Rio de Janeiro.

Fotografia, Emanuel Alves.

Por Jaqueline Stori – 23/07/2019

 

Somente no início do século XX, após a operação das vanguardas artísticas nos modos de representação, foi que a linha, antes concebida como elemento estrutural, ganhou outros sentidos. Por sua vez, o fio, material têxtil milenar e objeto de históricas disputas econômicas entre sociedades, também teve sua potencialidade artística recentemente destacada nas reflexões contemporâneas. Embora sua utilização tenha origens remotas, desde tapeçarias medievais, desde a Antiguidade, na indumentária, nas produções indígenas e tantas outras, sua presença ocupou uma espécie de segundo plano nas significações dos objetos.

A valorização como elemento poético nas produções artísticas e o caráter expressivo do material parece, ainda hoje, se potencializar. Sendo assim, no coração do Município do Rio de Janeiro, em um excelente Espaço Cultural público (Espaço Cultural BNDES), sob curadoria de Shannon Botelho, produção de Mourart Produções Artísticas e com incentivo fiscal público, inaugura hoje uma exposição que não trata exclusivamente do grafismo e da pintura (linha) como categorias tradicionais ou do bordado (fio) somente como um fazer manual. Da Linha, o Fio, objetiva também procurar antes revelar uma visada sobre as poéticas que se constroem a partir desses elementos, lá reunidos em uma gênese comum, e que avançam para novas maneiras de fiar, que partindo dessas novas plataformas de pensamento e desses outros meios de expressão, torna-se viável uma reflexão acerca do desenho para a produção artística contemporânea.

O curador, Shannon Botelho.
Fotografia, Emanuel Alves

Da Linha, o Fio apresenta um panorama recente da arte brasileira, abordando noções de linha e fio como tema. E para que o público possa entender com exatidão a proposta e o conceito da Exposição, entrevistamos o curador Shannon Botelho, que muito feliz com mais esta realização, nos falou que a proposta temática da exposição vem de sua percepção já há algum tempo, onde via crescer o interesse do mercado e do público, por trabalhos contemporâneos com bordados: já tínhamos o Bispo do Rosário que é uma referência, e eu fiquei pensando que nisso ter alguma gênese na arte brasileira. Obviamente, temos os povos originários brasileiros – os indígenas e a cultura popular que seria toda a base desse trabalho, afirmou Shannon.

Artista, Bispo do Rosário
Fotografia, Emanuel Alves.

O curador afirmou ter feito um recorte na produção dos artistas modernos onde a linha é a principal, e, quando esta linha ganha o espaço que viraria bordado. Tendo isto, a exposição foi dividida em três momentos: o primeiro é quando a linha é o elemento de significação dos trabalhos; o segundo é o momento de transição em que a linha vai ganhando espaço, e o terceiro momento onde a linha está no espaço de uma maneira dada, e ela é o próprio trabalho: Então, o fio, linha, fio e linha e o fio depois, sozinho lá, ganhando espaço. E aí, organizamos  esta exposição tentando relacionar estes trabalhos, aproximá-los, perceber. Obviamente que os artistas não tem essa relação tão direta, mas, tem todo o cuidado na montagem em organizar estes trabalhos e criar um espaço onde as obras se interagem, explica Shannon Botelho.

Fotografia, Emanuel Alves.

Perguntado sobre o entendimento do público de menor conhecimento cultural e intelectual, em relação às obras de arte expostas, não serem entendidas ou vistas como trabalhos artesanais devido ao elemento material que é o bordado, Shannon nos fala que todos os trabalhos artesanais têm uma visualidade muito peculiar e que as obras apresentadas na exposição de alguma forma tem um distanciamento do mundo da artesania. Ele afirma que as obras de arte têm um apelo tátil e um apelo visual muito grande. São trabalhos que possuem uma beleza em si e que por isso tem uma atração, como por exemplo a instalação da artista visual Simone Moraes, que é algo que te convida. Ele afirma: se não convida o corpo, convida pelo menos o olhar. E, ainda que ele não seja uma forma literal, é uma forma que se dá, e que se dá completamente, sem precisar contar uma história maior que ela. Nós tivemos também esse cuidado: que a exposição trouxesse trabalhos que tivessem uma poesia própria. Os vídeos também contam uma poesia… Eles, de alguma maneira narram uma trajetória pequena. Uma pequena história, digamos assim. E os outros trabalhos também têm um apelo. Eles chamam quem está aqui na exposição para estar perto e para olhar os detalhes. Então, eu acho que para o público em geral, o público leigo que pouco conhece ou entende, que não está acostumado a visitar espaços dedicados à exposições de artes visuais, este é um lugar de convite. De se estabelecer um contato com a arte contemporânea. De se aproximar e de buscar conhecer novas coisas, diz Shannon.

Intervenção da artista Simone Moraes.
Fotografia, Emanuel Alves.


Intervenção da artista Simone Moraes.
Fotografia, Emanuel Alves.

Encerrando esta, Shannon Botelho fez questão de comentar que Da Linha, o Fio foi produzida com dinheiro público, e sobre a importância que este tipo de financiamento realiza no mercado artístico cultural e do impacto positivo sócio cultural que é possível fomentar na sociedade, no que diz respeito ao desenvolvimento da mesma, e a geração de empregos diretos, indiretos e permanentes e temporários: Através desse financiamento e incentivo totalmente público, podemos oferecer para a sociedade gratuidade no acesso à exposição, trazer crianças e jovens de Escolas Públicas para conhecerem a exposição e oferecer a eles, oficinas ministradas por alguns artistas participantes da exposição, que se comprometeram a vir aqui para passar e dividir um pouco de seus conhecimentos para estas crianças. Além disso, em breve lançaremos um Catálogo sobre a Exposição que está muito bem elaborado, termina ele, com largo sorriso!

Fotografia, Emanuel Alves.

Viva Cultura: Shannon, muito obrigada pela entrevista e parabéns por seu excelente trabalho na curadoria e concepção desta exposição maravilhosa!

Shannon Botelho: Obrigada a Viva Cultura pela entrevista e por estar divulgando Da Linha, o Fio e por ser um canal de comunicação de divulgação e propagação da nossa arte e cultura.

PARTICIPAM DA EXPOSIÇÃO:

Aldo Bonadei (São Paulo 1906 – São Paulo, 1974 ): Integrante do Grupo Santa Helena, foi pintor, designer, gravador, figurinista e professor. Destaca-se como um dos principais nomes da pintura moderna brasileira;

Bispo do Rosário (Japaratuba, 1911 – Rio de Janeiro, 1989: Após um delírio místico, foi internado na Colônia Juliano Moreira (1938), onde produziu a partir de tecidos e outros itens de seu cotidiano, cerca de 1000 peças, como objetos bordados e outros itens de vestuário;

Cabelo (Cachoeiro do Itapemirim, 1967): Vive e trabalha no Rio de Janeiro. É um artista que tarabalha com diversas mídias, como desenhos, pinturas, gravuras, esculturas, instalações, performances, música e poesia;

Carolina Ponte (Salvador, 1981): Vive e trabalha em Petrópolis (R-J). Tem como referência principal a integração de práticas populares ornamentais à produção contemporânea. O crochê, o desenho e a cerâmica são os principais suportes utilizados pela artista;

Cristina Lapo (Rio de Janeiro, 1981): vive e trabalha no Rio de Janeiro. Utiliza a linha como ponto de partida em seus trabalhos. O desenho, a pintura, a escultura e a fotografia são os principais suportes utilizados pela artista;

Derson (Rio de Janeiro, 1978): é escultor, cenógrafo e diretor teatral. Estudou artes cênicas/cenografia na escola de Belas Artes da UFRJ. Participou de exposições no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba;

Daniel Murgel (Niteroi/R-J, 1981): Vive e trabalha no Rio de Janeiro. A partir da pesquisa artística e vivência nas cidades, desenha croquis e projetos que, o mais das vezes são construídos em escala humana;

Frida Baranek (Rio de Janeiro, 1961): vive e trabalha nos EUA. Atua com desenho, gravura e predominantemente com escultura. Em suas obras, emprega materiais industrializados, como placas, hastes e fios de ferro ou aço;

Ismael Nery (Belém, 1910 – Rio de Janeiro, 1934): pintor, desenhista e poeta. Aplica em suas produções os princípios do Essencialismo, sistema filosófico que ele mesmo desenvolveu. Figura como um dos nomes de destaque da arte moderna brasileira;

Janaina Mello Landini (São Gotardo, 1974): mineira radicada em São Paulo, a artista agrega seu conhecimento sobre arquitetura, física e matemática, bem como a percepção sobre o tempo, para desenvolver obras que transitam por diversas escalas;

Lothar Charoux (Viena, 1912 – São Paulo, 1987: pintor, desenhista e professor. Foi fundador e um dos integrantes do Grupo Ruptura (SP), ao lado de Waldemar Cordeiro, seus trabalhos focam questões construtivas e investigam a poética da linha;

Grupo de artistas visuais participantes da exposição.
Fotografia, Emanuel Alves.

Laura Lydia (Malága, 1979): vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seus trabalhos trafegam entre o desenho, a gravura a fotografia e intervenções urbanas, elegendo a relação entre cidade e espaço natural como motivo principal de investigação;

Marcos André (Rio de Janeiro, 1961): vive e trabalha entre o Rio de Janeiro e Búzios (RJ). Pintor, freqüentou o curso de desenho e pintura da Escola de Artes Visuais do Parque Laje. Realizou diversas exposições no Brasil e em países como EUA, Equador, Cuba e Japão;

Maria Laet (Rio de Janeiro, 1982): vive e trabalha no Rio de Janeiro. Seu trabalho é criado com base em ações e no resultado de gestos e intervenções sutis, cuja prática envolve desenho, gravura, fotografia e vídeo;

Mariana Guimarães (Rio de Janeiro, 1981): Vive e trabalha no Rio de Janeiro. Desenvolve experiências, investigações e proposições sobre a bordadura contemporânea e seu diálogo com as práticas ancestrais da tessitura e seus inúmeros desdobramentos estéticos;

Miltom Dacosta (Niteroi, 1915 – Rio de janeiro, 1988): pintor, desenhista , gravador e ilustrador. Nos anos 1950 desenvolveu uma obra de cunho construtivista, característica que muda na década seguinte, quando se volta ao figurativo com a série de gravuras que tem Vênus como temática central;

Mira Schendel (Zurique, 1919 – São Paulo, 1988): Mynha Dagmar Dub, desenhista, pintora e escultura. Suas obras são marcadas pela constante experimentação e são constituídas por múltiplas séries de trabalhos. A artista é renomada no cenário artístico internacional;

Pedro Varela (Niteroi, RJ, 1981): vive e trabalha em Petropolis (RJ).Virtuose do desenho, explora uma capacidade de encantamento por meio de sua pintura. Formou-se em gravura pela Escola de Belas Artes da UFRJ e já expôs em diversas cidades brasileiras e no exterior;

Rodrigo Mogiz (Belo Horizonte, 1978): vive e trabalha em Belo Horizonte. Sua pesquisa artística aborda poéticas que transitam entre o desenho, a pintura e o bordado, recorrendo também à aplicações de miçangas, rendas e alfinetes;

Rafhael Couto (São Gonçalo, Rio de Janeiro, 1983: vive e trabalha no Rio de Janeiro. É também professor e pesquisador. Suas obras as relações entre corpo e imagem, desencadeando-se em performances, fotografias e vídeos;

Simone Moraes (Ribeirão Preto, 1970): vive e trabalha entre Goiás e São Paulo. Pesquisa vestígios de paisagens, estruturas orgânicas e resgates de uma memória pessoal que resultam em formas, repetições e sobreposições de distintos materiais em intervenções, colagens, desenhos e fotografias;

Vera Bernardes (Rio de Janeiro, 1949): vive e trabalha no Rio de Janeiro. Formou-se em desing pela Escola Superior de Desenho Industrial. Em 2004, começou a trilhar seu percurso como artista. Trabalha com diferentes mídias: pintura, bordado, fotografia, desenho e gravura;

Walter Goldfarb (Rio de Janeiro, 1964): vive e trabalha no Rio de Janeiro. Também conhecido como o alquimista das cores tem na sua produção de suas pinturas o eixo central do seu trabalho. Explora uma diversidade de materiais em telas e objetos. Criou as Séries Branca, Bíblia, Negra, Teatro do Corpo e Lisérgica, que traçam sua trajetória.

SERVIÇOS: Da Linha, o Fio fica aberta ao público até o dia 20 de Setembro, no Espaço Cultural BNDES, na Av. Chile, n° 100, Centro, Rio de Janeiro.

Horário: segunda a sexta dás 10h às 19h, com entrada gratuita.

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