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Funarte lança livro ‘Para Ouvir o Samba: Um Século de Sons e Ideias’, com show e sessão de autógrafos no RJ

Luís Filipe de Lima. Arte: montagem sobre a capa. Foto: Leo Aversa

Por Redação – 16/03/2022

 

Apresentação de lançamento da obra de Luís Filipe de Lima, considerada uma espécie de “enciclopédia da cultura do samba”, integra as ações da Mostra Bossa Criativa Arte de Toda Gente – parceria da Funarte com a UFRJ

“Para Ouvir o Samba: Um Século de Sons e Ideias”, de Luís Filipe de Lima, o mais novo livro publicado pela Fundação Nacional de Artes – Funarte – é um elogiado manual para entender o samba urbano carioca, suas raízes e suas muitas ramificações.

O lançamento da obra está marcado para amanhã,  dia 17 de março, quinta-feira, a partir das 18h, no Teatro Dulcina, espaço da Fundação, na Cinelândia, Centro do Rio de Janeiro. Um pocketshow com o autor do livro e o compositor e cantor Pedro Miranda – dentro da Mostra Bossa Criativa Arte de Toda Gente Rio de Janeiro – , também está programado, para animar a noite, com entrada franca. Logo após a apresentação musical, Luís Filipe começará a sessão de autógrafos. Uma playlist com mais de 300 vídeos, com os mais variados estilos que o samba reúne, pode ser acessada no canal do autor, no YouTube. O programa Arte de Toda Gente, é fruto de uma parceria entre a Funarte e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a curadoria de sua Escola de Música.

O compositor e escritor Nei Lopes, que assina o prefácio, considera a edição “uma espécie de enciclopédia da cultura do samba”. Nas 320 páginas de análise histórica crítica – dissertativa, mas cheia de histórias; e escrita com a informalidade típica do estilo musical que aborda – Luís Filipe de Lima, músico e pesquisador, constrói um mecanismo teórico para que as pessoas de fato “ouçam” o samba: desenvolvam uma escuta qualificada, que as permita entender realmente essa linguagem; sua multiplicidade (em formas de manifestação e em conteúdos); e seus muitos sentidos artísticos.

O “segredo” deste caráter plural do samba estaria em sua “mutação permanente”, avalia Haroldo Costa. “É isso, fundamentalmente, que Luís Filipe de Lima demonstra neste livro, ao mesmo tempo que sublinha a importância do gênero no processo de construção da identidade brasileira”, comenta o escritor e produtor cultural, na orelha do livro.

O pocketshow

O roteiro desta apresentação de Luís Filipe de Lima e Pedro Miranda foi criado especialmente para o lançamento do livro “Pra se Ouvir o Samba” no Teatro Dulcina. Parceiros antigos – Luís produziu três dos quatro discos de Pedro , foi diretor musical de vários de seus shows, e ganharam juntos o Prêmio da Música Brasileira em 2017, na categoria de melhor disco de samba. O duo executará neste show, variadas combinações musicais possíveis: Pedro no vocal, no violão e na percussão, com Luís Filipe no violão de sete cordas e na percussão.

No show, os músicos buscam explorar em especial as formações de dois violões, mas também se revezando entre violões e percussões e um duo de pandeiros. No roteiro do show passam em revista mais de uma dezena de estilos de samba, como samba-choro, partido-alto, samba de terreiro, samba-enredo, bossa nova, samba-canção, pagode dos anos 80 e sambalanço, entre outros. Inspirado no livro Para Ouvir o Samba, o show busca apresentar na prática o foco principal do texto, destrinchando a multiplicidade de subgêneros do samba para o público leigo. Em tom ligeiro e sempre bem-humorado, o autor falará um pouco sobre todos esses estilos, entre um número musical e outro.

A obra

Em 18 capítulos, o autor, violonista profissional, compositor, arranjador, professor e produtor musical traça um resumo da trajetória do samba desde o início do século 20. Também descreve e caracteriza as muitas modalidades dessa manifestação, assinalando nomes que fizeram história – num registro de algumas das principais músicas que integram esse legado.

Por meio da edição, o leitor poderá compreender as diversas derivações do samba – tais como o maxixado da Cidade Nova e do Estácio; o samba de exaltação, o samba-choro e toda sua linhagem; o samba-canção; o de breque (muito divulgado por Moreira da Silva), a bossa-nova, o partido-alto, e muitas outras.

A publicação foi preparada para agradar a leigos e a conhecedores do tema. “A ideia é mostrar, em perspectiva histórica, a variedade de elementos que o samba reúne, ao se multiplicar em mais de duas dezenas de subgêneros. Assim, o trabalho contempla o panorama histórico do samba urbano carioca, do seu surgimento em fins do século XIX até os dias de hoje, destacando a perspectiva do ouvinte e fornecendo ferramentas ao leitor para que aprofunde sua experiência de escuta”, define Luís Filipe de Lima.

Do “samba maxixado” às formas contemporâneas

Como entender e identificar diferenças entre os inúmeros tipos de samba? Quais são “os padrões melódicos, harmônicos e poéticos” que delimitam o gênero? Quais são seus principais personagens ao longo de mais de um século de história?”, questiona o artista e acadêmico. Mostrando caminhos para respostas, ele descreve os traços mais característicos dos subgêneros da manifestação musical; delineia suas origens; “apontando eventuais correlações” entre essas modalidades; e apresenta a “paisagem sonora” do estilo, enumerando seus principais nomes. O livro expõe mais de 20 expressões: “o samba maxixado da Cidade Nova, o samba do Estácio, o samba-choro (do qual derivam o samba de breque, o samba sincopado, o samba de gafieira e o samba-exaltação ufanista), o samba de terreiro (ou ‘de quadra’), o samba de enredo, o samba carnavalesco, o samba-coco, a bossa nova, o sambalanço, o samba-jazz, o samba-rock, o partido-alto, o samba na MPB, e o ‘pós-samba’” – como se refere aos sambistas tradicionais que emergiram com a onda da MPB – “o pagode carioca dos anos 80, o pagode romântico dos anos 90, o pagonejo, o pagode gospel (ou ‘pragod’), os sambas com contribuições regionais, o samba contemporâneo”, sintetiza o autor.

Ao fim de cada capítulo, ele analisa sucintamente dez gravações, que considera representativas das linguagens de samba apontadas; comenta arranjos, instrumentos e traços de execução e de interpretação; resume eventuais histórias; e lista outros fonogramas. “Ao lado do título e dos créditos de intérprete e autoria, cito também o ano da gravação e o nome da gravadora, para tornar mais fácil e segura a pesquisa…”, informa o pesquisador. O tratado conta, ainda, com uma conclusão, referências e um índice de grandes sambistas.

Haroldo Costa analisa: “A verdade do samba se impõe por sua história profunda, que vem de longe. É preciso ouvir o samba. Ele sempre tem muito a dizer”. Claro que “ouvir”, nesse trecho, também significa “considerar” e “compreender” – o que destaca o respeito e a valorização que esse estilo merece – tendo-se em conta sua riqueza de conteúdo e importância cultural.

Trajetória artística e envolvimento com as tradições

Nei Lopes observa que Luís Filipe de Lima “vem percorrendo uma rica trajetória”, de “apaixonado envolvimento com as tradições brasileiras”, sobretudo as ligadas à matriz negro-africana, “como a religiosidade e a música”. O escritor lembra que seu colega publicou, em coautoria com Muniz Sodré, o perfil biográfico Um vento sagrado: história de vida de um adivinho da tradição nagô-kêtu, sobre o reconhecido sacerdote Agenor Miranda Rocha, o “Pai Agenor” (Angola, 1907 – Brasil, 2004), “nome referencial” nos mais antigos e respeitados ambientes do candomblé; que o pesquisador também foi o revisor técnico de Kitábu: o livro do espírito e do saber negro-africanos (2005), do próprio Lopes; que Luís escreveu, ainda, a obra Oxum: a mãe da água doce (2007); e que, no campo do samba, o violonista realizou apresentações; e participou de espetáculos teatrais e de gravações fonográficas e audiovisuais – documentários e de ficção. O prefácio cita, ainda, as muitas aulas e palestras ministradas pelo músico.

Preservar as raízes sem negar as mutações

Lopes afirma que Para Ouvir o Samba também aborda “temas transversais, como a construção da identidade do sambista; a poética do samba; a desafricanização e a reafricanização do gênero; os espaços e rituais de socialização; a curiosa presença de outras formas de ‘samba’ em terrenos culturais de origem africana na América hispânica”, entre outras matérias. Lembra que a Carta do Samba, de Édison Carneiro – que teria sido deliberada pelo Primeiro Congresso do Samba (1962) – visava a “preservar as características tradicionais” dessa modalidade artística, “sem, entretanto, lhe negar ou tirar espontaneidade e perspectivas de progresso”. Mas, diz o autor do preâmbulo, “a dinâmica da criação cultural fez nascerem outros olhares e percepções, como mostra o presente livro, já fundamental”.

“Para nós […] o samba é um Universo. E, como tal, conjuga forças em constante movimento, ora de atração, ora de repulsão”. Para Lopes, a nova obra comprova essa tese – que a introdução de seu autor resume: o samba é negro, mas também é branco; é arcaico, mas também contemporâneo; profano, mas também religioso; proletário, mas também “de bacana”. Ele “se basta em si mesmo, tão diverso que é, mas também dialoga proveitosamente com outras expressões musicais”, conclui.

Violão, jornalismo e pesquisa

Embora graduado em jornalismo e doutor em Comunicação e Cultura, Luís Filipe Splendore de Lima da Silva diz que nunca havia pesquisado o universo do samba de modo sistemático. Mas, em seu trabalho na música, encontrou diversos temas que o impulsionaram a buscar mais conhecimento. “Percebi que, ao investigar em maior profundidade a história da música brasileira, suas principais correntes estéticas, suas origens africanas, portuguesas e indígenas, sua vasta galeria de personagens, poderia tocar com mais propriedade meu violão, escrever arranjos mais ricos, compor munido de mais referências, produzir discos e dirigir espetáculos com maior clareza criativa”, relembra o artista e acadêmico.

Haroldo Costa avalia: “A obra dá prosseguimento às pesquisas realizadas por […] pioneiros como Mário de Andrade, Oneyda Alvarenga e Luís da Câmara Cascudo, que compreendem o samba como um dos principais pilares da cultura nacional”, – Costa lembra que essa linguagem está presente em todo o Brasil, mesmo que com nomes variados.

O caminho: a simples escuta, as rodas de samba, os cursos

Luís Filipe de Lima relata que a ideia do livro nasceu de uma série de cursos sobre música brasileira – especialmente sobre samba – os quais elaborou e ministrou, em vários espaços, na Capital do Rio de Janeiro e em Buenos Aires (ARG), Florianópolis (SC) e Londrina (PR), entre 2018 e 2020. O material didático resulta de mais de 30 anos de “vivências e reflexões” acerca do panorama musical no País, a partir da experiência do estudioso, nas diversas frentes ligadas a essa arte.

Ele conta que se encantou pelo samba desde criança – com o hábito de ouvir bastante música e, mais tarde, estudando violão; e que conheceu, nas rodas, nomes como Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Paulão 7 Cordas, Walter Alfaiate, Cristina Buarque, Luís Carlos da Vila, Nei Lopes e Wilson Moreira; e que veio a trabalhar com eles. Pesquisou vasto repertório e “garimpou” muitos discos. Ele acrescenta: “Consumindo a ainda escassa bibliografia sobre samba (quase sempre biografias de compositores, intérpretes e instrumentistas, muitas delas editadas pela Funarte entre os anos 1970 e 1980), fui entendendo aos poucos a diversidade e a complexidade desse universo” – a qual ele somente assimilou mais nitidamente quando passou a tocar violão em bares, espaços artísticos e de Carnaval e estúdios. Teve a música como seu principal ganha-pão desde os anos 1990. Colecionou muitas histórias.

Em 2002, quando era professor substituto da Escola de Comunicação (ECO) – UFRJ, o violonista foi convidado pelo Museu da Imagem e do Som para ministrar o curso História Social do Samba, na sede administrativa do MIS, no Rio. Foi quando percebeu que tinha uma pequena bibliografia sobre o tema – embora reunida ainda sem método. Recorreu a ela e também “às memórias de chopes e bate-papos com gente da envergadura de Nei Lopes, Monarco, Martinho da Vila, Bezerra da Silva, Elton Medeiros e Wilson das Neves” para preparar o material didático, revisto e desenvolvido em 2018 – que é a base do novo livro.

Lançamento do livro Para Ouvir o Samba: Um Século de Sons e Ideias, de Luís Filipe de Lima

  • Pocketshow com Luís Filipe de Lima e Pedro Miranda
  • Sessão de autógrafos com o autor

Dia 17 de março de 2021, das 18h às 20h
Ingressos gratuitos
, sujeitos à lotação do teatro e disponíveis antecipadamente através da plataforma Sympla

Teatro Dulcina
Endereço: Rua Alcindo Guanabara, nº17 – Cinelândia, Centro – Rio de Janeiro (RJ)
Tel.: (21) 2240-4879

 

 

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