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Pintura e respiradouro do século XIX são descobertos em igreja no Rio

Pintura original é assinada pelo pintor João Zeferino da Costa (Foto: Ana Carla Pereira/Iphan)

Por Redação – 27/03/2024

 

Elementos foram revelados durante projeto de restauro na Igreja da Candelária

Uma das construções mais icônicas do Rio de Janeiro (RJ), a Igreja de Nossa Senhora da Candelária, no centro da cidade, teve sua história resgatada durante a restauração artística no consistório, espaço destinado a reuniões e assembleias religiosas. Por tratar-se de um bem tombado, a atividade está sendo acompanhada pela equipe técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).  

Durante o processo de decapagem, a equipe encontrou a pintura original ainda intacta, datada de 1882 e assinada pelo pintor João Zeferino da Costa, e um respiradouro, elemento inédito em edificações localizadas na região. O projeto tinha como objetivo inicial fazer a restauração do forro das paredes, que estava com fissuras e cores desbotadas, além de ter sido desgastado por infiltrações. Com a descoberta da pintura original, os planos foram modificados.  

“A última intervenção no consistório foi realizada em 1980. Já tínhamos a informação de que a pintura aparente havia sido feita em 1920 e não era original, mas não sabíamos que a pintura de Zeferino estava por baixo. Imediatamente, consultamos o relatório do engenheiro da época e fomos identificando os desenhos descritos”, relata o arquivista da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Candelária, Djavan Mascarenhas. 

Segundo registros, o trabalho decorativo de João Zeferino da Costa no consistório retrata anjos que, em festa celestial, entoam hinos e lançam flores em uma apoteose ao Santíssimo Sacramento. Assim que descoberta, esta pintura com elementos neoclássicos passou por um processo de decapagem mecânica, que consiste em retirar as camadas de tinta, cuidadosamente, para salvaguardar o trabalho original. As paredes com pintura em estêncil também foram limpas, consolidadas e tiveram suas rachaduras grampeadas. 
 

Estrutura para ventilação  

O respiradouro foi outra descoberta realizada a partir da decapagem da pintura. A estrutura circunda o cômodo e tem como principal função fazer a ventilação entre o forro e a sala. O Iphan autorizou a abertura do respiradouro para resgatar a ambiência. “Durante a elaboração do projeto de restauro, o arquiteto realizou medições de temperatura e umidade, e identificou que a sala possuía uma temperatura elevada. O respiradouro estava vedado com o gesso e agora poderá executar sua função, melhorando a ventilação do ambiente”, explica Cláudia Nunes, restauradora da equipe técnica do Iphan no Rio de Janeiro.   

Além de contribuir para a circulação de ar e para a conservação das obras de arte expostas na sala, a estrutura também ajuda a reduzir os danos causados pelo intenso tráfego de carros em seu entorno. “O respiradouro reduz a trepidação do teto, causada pelo trânsito ao redor, mantendo a pintura mais intacta. Com ele fechado, o teto rachava com mais facilidade. Agora, sua funcionalidade será exercida”, conclui a restauradora.  

Além da pintura, o altar do consistório também está sendo restaurado. O projeto também prevê a restauração da pintura do teto, que será realizada em uma próxima etapa, ainda sem previsão de início. A restauração do forro está prevista para ser concluída em abril. 

Patrimônio histórico e arquitetônico  

Tombada pelo Iphan em 1938, a Igreja de Nossa Senhora da Candelária foi erguida às margens da Baía de Guanabara. A planta do edifício foi desenhada no formato de cruz latina, sendo a nave central a parte inferior da haste, enquanto a capela-mor corresponde à parte superior, e as capelas ao fundo, aos braços. Painéis do pintor Zeferino da Costa revestem o teto da igreja. O edifício tem revestimentos internos em mármore, fachada em cantaria e portas com detalhes em bronze, desenhados pelo escultor português António Teixeira Lopes.

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