Na Pinacoteca, obras de Alvim Corrêa dialogam com a arte contemporânea para refletir sobre colonialismo, guerra, violência, medo e desejo
A mostra explora temáticas comuns às obras de ficção científica, como invasão alienígena, ao exibir as ilustrações de Corrêapara o célebre livro A Guerra dos Mundos, de Herbert George Wells, que influenciou radicalmente a imaginação de todos em relação à figura do extraterrestre e da guerra entre humanos e alienígenas. A seleção dos trabalhos propõe um paralelo entre as visões fantásticas e sombrias de Corrêae o imaginário da arte contemporânea, e amplia a discussão para aspectos que atravessam a história, como colonialismo, guerra, violência, preconceito, medo e desejo.
Alvim Corrêa (Rio de Janeiro, 1876 – Bruxelas, 1910) teve uma carreira breve, morreu jovem e a maior parte dos seus trabalhos se perdeu em um naufrágio. O ápice de sua trajetória foram as ilustrações da famosa edição em francês, de 1906, do livro “A Guerra dos Mundos”, de Herbert George Wells, que narra uma invasão de marcianos na terra. Não se sabe ao certo como Alvim Corrêa conheceu a obra, mas segundo relatos do próprio Wells, Alvim, fascinado pela história, realizou uma série de ilustrações e foi até a Inglaterra visitá-lo para mostrar os desenhos. A iniciativa do brasileiro deu certo e resultou numa edição de luxo de 500 exemplares com 32 ilustrações em papel couché amarelo e 105 ilustrações, 42 delas publicadas como gravuras destacáveis no livro. Na mostra, o visitante poderá conferir um exemplar dessa publicação em francês, edições brasileiras recentes, de 2016 e 2017, além de uma projeção das gravuras que explicita o seu caráter precursor de um imaginário cinematográfico.
Também serão expostos raros estudos do artista, pertencentes à coleção Alexandre Eulálio, do CEDAE Unicamp, crítico literário e grande responsável pela divulgação do trabalho do artista no Brasil, juntamente com José Roberto Teixeira Leite e Pietro Maria Bardi. Convites de Mostras organizadas por Eulálio e por Bardi, um cartaz do anúncio do livro “A Guerra dos Mundos”, além de fotos de Corrêa completam a seleção documental. A reunião dos trabalhos inclui também 11 desenhos eróticos da série “Visions Érotiques” que Corrêa publicou no início do século 20 sob o pseudônimo Henri Lemort.
Na Mostra, a visão dos dez artistas contemporâneos é colocada em diálogo com os desenhos, pinturas e ilustrações de Alvim Corrêa. As obras de Corrêa levam a reflexão sobre a exploração e as lutas, sobre o medo e o desejo para o campo do ficcional e do fantástico, de seres humanos contra os marcianos ou contra seres monstruosos advindos de nossa própria imaginação. Os trabalhos contemporâneos também exploram por meio de diferentes abordagens da ficção, da fantasia e da imaginação, questões que estão no pano de fundo da história de Wells.
A exposição ainda traz o vídeo “Zero” (2019), de Luiz Roque, que apresenta uma distopia em um roteiro que considera a extinção e um mundo pós-humano. Faz parte também da curadoria o trabalho da artista Wendy Morris, natural da Namíbia, que apresenta uma instalação inédita realizada a partir de sua pesquisa sobre a relação entre colonialismo, escravização, feminismo e resistência. A curadoria também inclui dois trabalhos em vídeo inéditos: “Kopheneue” (2021), de Denilson Baniwa, e “Estudo para um diagrama superficcional”: Suíça vs Amazônia, uma guerra supernutricional (2021), de Guerreiro do Divino Amor. As produções trazem visões sobre uma guerra total e apocalíptica mais do que presente, o da destruição do meio-ambiente e das culturas tradicionais que o preservam.
Curadoria: Fernanda Pitta e Laurens Dhaenens
Artistas: Alvim Corrêa , Alex Cerveny, Cabelo, Denilson Baniwa, Fernando Gutiérrez Huanchaco, Guerreiro do Divino Amor, Ilê Sartuzi, Luiz Roque, Rivane Neuenschwander, Runo Lagomarsino e Wendy Morris.
Período: 04.12.2021 a 11.04.2022
De quarta a segunda, das 10h às 18h
Ingressos com horário marcado e vendas pelo site da Pinacoteca
Aos sábados, a entrada é gratuita mas deve ser reservada com antecedência pelo site.Edifício Pina Luz