Por Jaqueline Stori – 23/06q2020
Arte e tecnologia sempre dialogaram entre si desde os primórdios da Era Rupestre, atravessando tempos medievais, modernos, pós-modernos e o atual contemporâneo. Claro que este diálogo era estabelecido de acordo com as ferramentas tecnológicas referentes às épocas. Porém, já no mundo contemporâneo, arte e tecnologia parecem se fundir. A arte é modificada pela tecnologia assim como a tecnologia se faz a partir da arte e cria novas formas de se fazê-la.
Os diálogos estabelecidos pela arte e pela tecnologia fazem nascer novas tendências de interatividade humana, de abordagem e afeto de si com o outro. As principais características da tecnologia são a mobilidade, a multifuncionalidade, convergência e integração com a arte como forma de expressão e comunicação humana. Em muitos estudos históricos sobre arte percebemos que na medida em que novas tecnologias eram desenvolvidas, a arte se apropriava e se recriava a partir das potências de produção e interação oferecidas pela tecnologia. Dentro desse contexto, podemos então pensar as milhares possibilidades de criação e contato artístico a partir, e/ou mediada pelas tecnologias.
E dentre estas milhares de possibilidades, a Viva Cultura apresenta uma arte muito peculiar, que nos intriga, nos apaixona e nos revela a primeira vista o “improvável”. Uma arte rústica que dialoga com novas tecnologias através do talento de um dos mais novos, expressivos e promissores artistas do cenário artístico brasileiro: o artista visual Felipe Seixas.
O artista nasceu em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista e tem como formação acadêmica e também profissional o designer digital, o que denota seu interesse pelas questões visuais de uma forma geral. Porém, até seus 25 anos de idade ainda não havia tido contato direto com o mundo das artes plásticas. Já aos 26 anos, influenciado pelo namorado artista plástico de uma amiga, começa a freqüentar ambientes voltados para as artes visuais e consequentemente a ter contato com elas. A cada visita em Exposições de Artes e o contato físico, sensorial e emocional com as mesmas, Felipe Seixas via-se identificado com este mundo.
A produção contemporânea que até aquele momento de sua vida, nunca havia visto, foi sua maior identificação. A partir daí surge um interesse espontâneo que o leva à pesquisar para assim conhecer à fundo o universo da arte e das obras de arte contemporânea. E como diz o ditado “artista que é artista já nasce feito”, suas experiências de convívio com o mundo das artes visuais acabou aflorando seu dom natural artístico. O artista revelou que mesmo antes de conhecer e freqüentar o circuito das artes visuais, já sentia uma vontade forte e presente de fazer alguma coisa física, contrário do design que é um trabalho digital feito pelo computador. Ele queria e tinha a necessidade de fazer um trabalho físico visual, e tudo isso foi fator determinante para entrar e começar a percorrer o caminho das artes visuais.
Com talento primoroso, munido de idéias ímpares e criatividade diferenciada ligadas ao contexto artístico contemporâneo, Felipe Seixas começa a desenvolver seu trabalho seguindo uma linha de pesquisa cuja proposta baseia-se nas relações entre as matérias dentro das formas que ele cria, traçando relações entre estas de maneira que sejam relações constantes alicerçadas no equilíbrio e na harmonia, tendo a presença da tecnologia ou não.
O artista contou que seu maior interesse e foco é a matéria: eu tento explorar propriedades da matéria em si, dentro de composições espaciais. Mas, sempre a matéria. Tento ressaltar as propriedades dos materiais que escolho e traçar relações entre eles que geralmente são relações de contraste, tentando aproximar-me um pouco de alguma investigação de imaterialidade. Tentando usar a matéria para tratar de algo imaterial, explicou, ele.
E como podemos constatar, seu trabalho é simplesmente desafiador e deslumbrante! Felipe Seixas desenvolve e produz uma arte que conceitualmente explora a relação entre o material e o imaterial na construção da forma, estabelecendo diálogo e interação entre matéria e imaterialidade dispostas em um espaço de forma que a matéria em si é contrastada com elementos não materiais. Utilizando matérias primas rústicas como concreto, aço, asfalto, carvão, areia, argamassa e pigmento, junto à dispositivos eletrônicos como telas de TV, celulares, tablets e suas linguagens tecnológicas, o artista consegue estabelecer um exuberante e curioso contraste através da unificação dos elementos materiais e imateriais, dentro de um conceito estético visual harmônico e intrigante. Uma arte que utiliza materiais brutos, rústicos e primitivos junto à tecnologia.
Inclusive, através da tecnologia, Felipe Seixas, consegue extrair de suas esculturas a sofisticação oferecida pelo jogo de luzes neon criado por ele com gás preso em tubo de vidro e também pelo design dos gráficos digitais por meio do uso da luz dos dispositivos eletrônicos, em conjunto com estas matérias robustas. No entanto, o artista explicou que a utilização de matérias rústicas com as linguagens eletrônicas é propositalmente mirar estes contrastes da relação do que é uma matéria e do que não é uma matéria. Ele afirma que as linguagens eletrônicas protagonizam em seus trabalhos mais como suporte de receber algo que não é matéria. Tendo o concreto muito presente em suas esculturas, ele consegue contrapor a composição sólida e bruta deste material com a leveza de outros materiais, sendo esta uma das características mais marcantes de seu trabalho.
O processo de criação do artista é muito intuitivo e mental. Ele não faz protótipos de suas obras (salvo algumas exceções de grandes trabalhos onde tem que fazer projetos com pouco tempo de produção). As imagens vão surgindo em sua mente e intuitivamente vai desenvolvendo-as conforme o poder que a matéria lhe permite construir: eu testo esta harmonia. Vejo se funciona ou não. No espaço se dá de maneira díspar. Eu percebo outras potências, testo probabilidades e suas relações. Percebo a relação de fato que eu estava imaginando e o final da construção acaba saindo diferente da imagem mental que eu tinha, contou ele.
Independente do resultado de suas obras ao final de suas construções apresentarem resultados diferentes daquelas que configuravam em seu mental, nós, o público, temos o contato com uma arte que como já dissemos acima, a primeira vista nos oferece o improvável justamente pela junção de materiais conceituados como opostos se fundirem e se harmonizarem dentro de uma estética visual onde o bruto deixa de ser bruto imaterialmente, e passa a materializar um visual sofisticado e provável de realização harmônica entre os elementos utilizados. O genial nas obras desse maravilhoso artista é justamente alcançar o resultado positivo de elementos rústicos com elementos tecnológicos inseridos perfeitamente no contexto da arte contemporânea e envolvidos dentro de um conceito de identidade individual efêmero com particular propriedade, autonomia e liberdade.
Outro traço característico imaterial das obras esculturóricas de Felipe Seixas, é que estas não são criadas para fornecerem ou instigarem o sensorial, o emocional e o criativo do público, sobre uma determinada perspectiva ou questão : Eu faço e me relaciono com meu trabalho sem nenhuma intenção específica. Por isto, não tento propor nada de específico. Tanto que não intitulo (dou nomes) a nenhuma de minhas obras. Acho que essa relação com o expectador tem que ser livre e vazia de intenção, permitindo que o mesmo sinta e pense o que quiser conforme sua natureza, explicou ele.
Por tudo isso e não por acaso é que as esculturas de Felipe Seixas vem ganhando cada vez mais espaço no cenário artístico contemporâneo e as melhores críticas de profissionais deste setor. Em poucos anos vivendo no universo das artes plásticas, o artista tem em seu currículo muitas premiações, Exposições coletivas e individuais no Brasil e no exterior, e é representado por duas Galerias de arte: uma no Rio e outra em São Paulo. Já teve algumas de suas obras expostas na SP-Arte (Festival Internacional de Arte de São Paulo) pela Zipper Galeria, na Art Rio (Feira de Arte Internacional do Rio de Janeiro) pela Galeria Portas Vilas Secas. No exterior participou das Exposições coletivas Salon De Videoarte Jovem Latino-Americano, em Lima no Peru, na 250th Summer Exhibition – Art Made Now, na Royal Academy Of Arts, em Londres na Inglaterra e outras coletivas nos EUA, Colômbia e Portugal. Aqui no Brasil, além das duas maiores Feiras internacionais, mais de 20 Exposições coletivas em diversos Estados brasileiros principalmente no Estado de São Paulo.
Não é de se espantar que em pouco tempo dentro do mercado das artes visuais, Felipe Seixas já tenha uma crescente bagagem profissional, representatividade e solidez. A expressão original fascinante e intrigante de sua arte inconfundível que extravasa beleza, sofisticação, dualidade, brutalidade, força e leveza, nos conduz intuitivamente a um fluir sensorial dentro de um infinito de possibilidades experimentais abstratas e concretas ao mesmo tempo!!
Viva Cultura!: Felipe, muito obrigada pela oportunidade em apresentarmos e divulgarmos sua arte.
Felipe Seixas: Obrigado a Viva Cultura Revista Digital, por divulgar e fomentar a arte visual nacional.
NOTA: todas as imagens cedidas pelo artista.