Por Jaqueline Stori – 29/04/2022
Sabemos que durante anos tanto no Oriente como no Ocidente, as esculturas tinham caráter e temática figurativa. Grécia destacava movimentos e prestigiava a perfeição de corpos humanos. Similar à Grécia, Roma, que também se destacava por prestigiar a perfeição de corpos humanos resolve dar um passo adiante na história da escultura ao assumir uma característica menos idealizada e mais realista de suas formas, voltando-se também para ênfase nas expressões faciais. O Oriente também produzia belíssimas esculturas com temáticas antropomórficas, principalmente o Egito, cujas divindades eram entrelaçadas com a figura humana como a do Faraó, por exemplo. Apesar de produzirem esculturas de diversas formas e tamanhos, o Egito não apresentava movimento em suas obras, e sim o modo estático.
Os anos vão passando, acontecimentos históricos culturais vão acontecendo, mudanças vão surgindo com novas idéias e descobertas, e as influências vão ganhando espaço em todos os campos sociais, políticos, econômicos e culturais, de acordo com as diferentes regiões, população, clima local, hábitos e costumes. Assim foi e é com a arte também, que é inclusive uma das vertentes culturais e sociais mais influentes de toda uma sociedade regional, continental e global.
Passados os anos chegando aos dias atuais, nem temos como mensurar exatamente o quanto as coisas mudaram e continuam mudando, e agora com velocidade maior devido o avanço tecnológico e suas diversas ferramentas que propiciam novas idéias e maneiras de fazer e pensar em todas as áreas. As artes, agora livre da obrigatoriedade de contextos e conceitos acadêmicos como foi durante determinado período da história, aponta para onde quer sem o receio da rejeição e da incompreensão crítica. Artistas passeiam e mergulham em seu íntimo, trazendo para o mundo material seus sonhos, seus sentimentos, seus pensamentos, suas loucuras, suas paixões, seus anseios e olhares sobre a vida.
E é sobre estes diversos caminhos que vagueiam entre o externo e o interno, que apresentamos a arte de Eliete Vilela, uma das maiores esculturas do Brasil, que através de suas maravilhosas esculturas nos levam a caminhos abstratos de nossos sonhos e fantasias, nos conectando com mundos diferentes que se completam.
Ana Eliete Vilela Menezes, conhecida no mundo artístico como Eliete Vilela, nasceu na cidade de Prata (MG), residindo atualmente em Uberlândia (MG), formou-se em artes plásticas pela Universidade Federal de Uberlândia. Já na faculdade, na oficina de cerâmica, percebeu que seu maior prazer era modelar e não projetar. Essa percepção a fez seguir seu desejo e dedicar-se a modelagem com exclusividade. Trabalhou durante vários anos com cerâmica, até que em 1990 realizou sua primeira Exposição individual. Após esta, a artista continua seu trabalho escultórico aderindo também a outras matérias primas que lhe revelam novas formas de modelagem correspondentes à sua verve artística e pessoal, sem abandonar a argila que é utilizada até hoje na execução de suas maquetes.
Para dar forma e vida às suas esculturas, Eliete Vilela utiliza diversos materiais como metal, mármore, concreto, pedra celular, resina, inox e materiais recicláveis. Todas estas matérias – primas – brutas são minuciosamente lapidadas pela artista, que diz não seguir uma linha de pesquisa especificamente teórica e sim mais intuitiva: deixo minha mente livre e minhas obras vão fluindo naturalmente de acordo com minha personalidade e essência, transitando entre meu corpo e minha mente. Na realidade meu processo de criação depende muito do êxtase do momento enquanto estou desenvolvendo minhas obras, explicou ela.
Esculturas de parede, esculturas de piso, esculturas de mesa, esculturas intervencionistas, ganham projeção no mundo artístico visual nacional e internacional, por sua imponência, beleza, força, leveza e conotação abstrata, que dialogam e se harmonizam em ambientes internos e externos como paisagens urbanas e naturais, através dos elementos perenes que usa em suas criações, extraindo do bruto, obras de arte que apresentam movimento, formas, curvas, linhas e traços, aspectos marcantes de suas obras.
As obras da artista possuem forte característica de movimento e também de entrelaçamento de curvas e corpos, conduzindo tenuemente o expectador a se embrenhar pelo enamoramento e pelo prazer que este proporciona individualmente.
Corpos femininos em maioria, valorizando as curvas e a sensualidade da mulher, exalando seu poder, força e sedução, no que diz respeito ao conjunto conceitual de seu trabalho artístico. Beijos, carícias, abraços, desejo, dança, liberdade, em paleta de cores primando por tons sóbrios e neutros em maioria, mas também cores quentes e fortes como amarelo e vermelho (quando estas permitem não ocultar a naturalidade das matérias primas esculpidas), de estética sofisticada e despojada que ostenta volume em formas abstratas.
As obras de Eliete Vilela possuem diversas peculiaridades importantes e inerentes à nossa vida. Contudo, podemos afirmar que uma delas é essencial: o movimento. Através de suas esculturas, ao mesmo tempo em que expressa a constância do movimento, a artista nos guia para imersão individual sobre os movimentos do corpo, da mente, da alma, do tempo e do cosmos. Um convite à reflexão sobre como estamos nos movimentando diante de nós mesmos, diante dos outros e diante da vida em seu todo.
Por trazer em suas obras conceitos e elementos imateriais e materiais que proferem relevantes configurações estéticas, humanas e poéticas, contextualizados à contemporaneidade, e ao mesmo tempo sempre apontando para o incessável e infinito movimento, implicando assim em nunca ser e sempre estar atual ao mesmo tempo devido a mutação do movimento, Eliete Vilela consagrou-se um dos nomes mais expoentes da escultura brasileira.
Tanto que esta grande artista já expôs suas maravilhosas esculturas não só aqui no Brasil, como também lá fora. Eliete Vilela já participou de várias Exposições individuais e coletivas como a “36 Anos Sem Marilyn Monroe”, no Rio de Janeiro, Brasília e em Roma, na Itália. Teve suas individuais em diversos Estados, entre eles na “Bolsa De Valores” (RJ), na “Mercosul” em Uberlândia (MG), “Embaixada do Chile” em Brasília, “Galeria Belas Artes” (RJ), e diversas intervenções urbanas em áreas externas de grandes edifícios comerciais e espaços públicos externos como praças, jardins, parques e grandes centros comercias onde suas esculturas se harmonizam perfeitamente com o fluxo e o volume do movimento local.
Tanta arte, criatividade, talento, dedicação, paciência, poesia, leveza, movimento e intensidade, deram a artista o merecido reconhecimento de ter seu nome gravado num importantíssimo e lindo registro do universo das artes visuais: o livro “Escultores Brasileiros”, com textos e curadoria de Sônia Skroski, dedicado ao trabalho de alguns grandes nomes da escultura brasileira.
Não só registrado e documentado em livro está uma pequena parte da arte de Eliete Vilela. Não só intervindo em diversos espaços estão suas esculturas. Não só viajam e se firmam em grandes Exposições, suas obras. O trabalho dessa extraordinária artista se fixa no cenário artístico-cultural, por manifestar o feminino em sua plenitude sem a culpa da ausência de pudor em revelar claramente seus desejos naturais e instintivos de forma sucinta, mas com muita liberdade. Liberdade essa, atrelada as constantes transformações causadas pela ação e poder do movimento. Mais do que fazer parte de nós, o obra da artista nos revela que somos nós o movimento em sua essência e precisão!
Viva Cultura Revista Digital!: Eliete, muito obrigada pela entrevista. Imenso prazer em poder falar da sua arte para nossos leitores e para o público em geral.
Eliete Vilela: Obrigada a Viva Cultura pelo convite e por divulgar a arte visual nacional.
SERVIÇO:
Para saber e conhecer mais sobre a arte de Eliete Vilela:
@eliete_vilela
NOTA: Todas as imagens e vídeos gentilmente cedidos pela artista.
PRESTIGIE A ARTE BRASILEIRA!