Por Jaqueline Stori – 21/07/2021
A arte abstrata começa a entrar no Brasil à partir de 1940. Porém, foi no início da década de 50 que este movimento ganhou destaque através da primeira edição da Bienal de São Paulo em 1951, tendo assim uma adesão muito grande pelos artistas brasileiros como Antônio Bandeira, Cícero Dias, Lygia Clark, Alfredo Volp, entre tantos outros grandes artistas da época, cujas obras e legado deixado por eles permanecem influenciando e servindo de referência para o mundo das artes até os dias atuais.
O abstracionismo não se preocupa em expressar o real e o concreto do mundo exterior e sim o que não está visível, relacionado ao espírito e as emoções humanas através do olhar de cada em. No entanto, por mais que as obras abstratas possam parecer uma arte produzida de qualquer forma ou mesmo por acidente e até mesmo sem a permissão das diversas técnicas acadêmicas utilizadas nas inúmeras e diferentes expressões de gêneros artísticos, a arte abstrata advém de todo um processo de criação, experiências, vivências e pesquisas individuais de cada artista. É uma arte de composição independente, livre de representações e ilustrações. No fundo é dar asas a uma inspiração não intencional que não procura representar ou retratar nada em específico, em princípio. Então, ser livre parece às vezes ser mais fácil no abstrato do que no figurativo? De certa forma este raciocínio é enganoso, pois a capacidade de desconstrução no abstrato costuma ser maior na proporção em que se conhece melhor o fazer realista.
E como a arte abstrata não precisa ter um significado, narrativa ou mesmo uma explicação singular, apresentamos para você um dos grandes nomes da arte abstrata do circuito carioca e também do Brasil, que junto à outros maravilhosos artistas deste gênero que compõem o cenário da arte visual abstrata contemporânea brasileira, vem se destacando através de suas belíssimas obras, inclusive no exterior.
Estamos falando do artista Bruno Guilherme Luis Schmidt, mais conhecido como Bruno Schmidt, nascido no Rio de Janeiro, carioca do Leme que reside em Copacabana. Bruno Schmidt cursou comunicação na Facha e também fez arte na EAV (Escola de Artes Visuais do Parque Lage). O artista contou que desde cedo sofreu influência para o mundo das artes por parte de sua mãe formada em Belas Artes, e de seu pai, médico, erudito e vice-presidente do Real Gabinete de Leitura. A influência dos pais junto à apreciação pela arquitetura e pelas formas geométricas, deram início as suas primeiras criações enquanto artista plástico.
O ritmo, hábitos, cultura local, costumes, paisagens e outros fatores que influenciam direta e indiretamente em nossas vidas, levaram o artista a caminhar entre uma das coisas que ele diz ter muita influência em seu trabalho, que é o contexto urbano. De fato, percebe-se a marcante presença deste contexto em suas obras, principalmente o urbano carioca, que é um misto de beleza, alegria, inovação, antigas e novas edificações, vegetação, praias, grandes festas populares como o carnaval e tantas outras, com a poluição visual, desordenamento, desorganização, violência, descaso, abandono governamental e social.
Artista de diferentes fases criativas sob influência de Oscar Niemeyer e Burle Marx, Bruno Schmidt inicia uma nova fase de seus trabalhos, após a geometria. Começa a fase das árvores, trazendo formas definidas e marcantes com traços ora cubista ora abstrata, com uma paleta de cores vibrantes e quentes em diferentes tons, dando forte vida às suas artes. A partir deste momento acontece uma ruptura da forma definida por completo. Inicia-se uma nova fase: a busca pela forma do acaso que começa a interagir nesse novo processo. Entra a abstração como base de um novo olhar.
Novo olhar que está intrinsicamente ligado a sua fonte de pesquisa, que é a rua. Segundo o artista, a rua é seu habitat natural e é dela que ele extrai suas informações: vivemos numa cidade vestida de fontes e possibilidades. Ultimamente venho resgatando abandonos físicos espalhados ao redor, garimpando outdoors, ruínas de prédios e casas, que entendo para mim como um processo de “resignificação” e resgate, explicou ele.
O abstracionismo de certa forma trouxe para as obras do artista um poder em abrir leques de distorções da palavra e da linguagem inventada, que muito o interessa. Suas obras possuem o “conceito geral do gênero abstratato” que dialogam com sensações e emoções de cada um, sem apresentar formas definidas, mas também oferecem um conceito muito peculiar de relação do mundo urbano que intervém diretamente na individualidade e no coletivo humano: suas relações, suas idéias, seus valores e comportamento social. O conceito intervencionista das obras de Bruno Schmidt fazendo uma ponte de ligação do nosso habitat com nós mesmos, nos mostrando de forma clara, forte, metafórica, direta e também subliminar, permite que transitemos entre o mundo real e irreal ao mesmo tempo, em sintonias diferentes, por entre graves e agudos dentro de um “silêncio ensurdecedor” que pode explodir dentro e fora de nós a qualquer momento, afetando todos os canais que nos ligam e separam mutuamente.
De maneira muito criativa e bem trabalhada as obras do artista oferecem ao público a possibilidade do confronto entre dois mundos opostos que estão sempre interligados: o exterior e o interior. É complexo? Talvez sim talvez não. Mas, sabemos que a arte tem dessas coisas, não é verdade? O importante é que tal complexidade ainda que aparente ser confusa ao nosso entendimento, tem a capacidade de trabalhar nossas percepções e emoções de maneiras diversas e diferentes, nos possibilitando a magia do auto conhecimento e das reflexões em torno de tudo o que nos conecta e envolve.
Para materializar sua arte abstrata Bruno Schmidt garimpa suas matérias primas em meio ao caos urbano onde junto à sua criatividade, influências e processo de construção e desconstrução, desenvolve obras que casam com maestria aos espaços e locais por ande transitamos e vivemos nas grandes cidades e principalmente na cidade do Rio de Janeiro. O artista faz uso de materiais como placas de revestimento sintético, metais, papéis, resquícios de outdoors, entre outros que caibam à sua imaginação, contexto e conceito de sua arte. Obras de características fortes que chamam à razão e à emoção, literalmente de forma gritante e expressiva em protestos, chamando atenção para nosso entorno, para o impacto da desordem, do desrespeito para com o individual e o coletivo, para com nosso habitat, para com a natureza e outros fatores somatórios ao desequilíbrio sócio cultural e econômico. No entanto estas mesmas obras que gritam para chamar a atenção da desarmonia estrutural social, gritam também às nossas emoções para tantas belezas e benefícios aos quais temos o privilégio de usufruir.
Tanta arte munida de expressões oriundas das mais diferentes ações humanas, obviamente não passaria desapercebida pelo olhar do público. Por tal motivo, ganhou destaque no cenário da arte visual carioca, do Brasil e também do mundo. Este carioquissímo artista, já realizou diversas Exposições coletivas e individuais, em diversos lugares como Centro Cultural Correios (Rio), na La Galerie Vaison Romane (França) em 2014 e 2016 e a sua mais recente, 2020/21, na Casa de Cultura Laura Alvim (Rio).
Por tudo isso, podemos afirmar que força, fragilidade, altruísmo, sensibilidade, harmonia, convulsão, beleza, ordem, desordem, ação e reação são revelações conseqüenciais de uma arte que vocifera efemeridade, através do talento único desse maravilhoso artista!
Viva Cultura: Bruno, muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em poder divulgar sua arte.
Bruno Schimidt: obrigado a Viva Cultura por divulgar e fomentar a arte visual brasileira.
NOTA: todas as imagens gentilmente cedidas por Bruno Schmidt.
PRESTIGIE A ARTE BRASILEIRA!