Arte Visual

A realidade surreal do mundo mágico do circo, pelas telas do artista Fabrini Crisci.

Obra do artista Fabrini Crisci.

Por Jaqueline Stori – 21/04/2021

 

Respeitável público!!!… É com imenso prazer que apresentamos para vocês um mundo mágico, através de lindas obras de arte que suspiram a atmosfera da magia circense e todos seus mistérios e encantos!

Aqui a arte circense é muito mais do que um retratar em telas o universo material do circo: é principalmente exaltar e homenagear artistas que dedicam sua vida à levar alegria e encanto para as pessoas. Todavia, para tais obras fazerem esta leitura é necessário estar mais do que ligado a esta arte: É preciso sobretudo morar nela de mente, corpo, alma e coração.

E sim, temos este grande artista que dedica sua vida ao circo há anos, levando magnetismo para as pessoas através de seus personagens nos palcos e em suas telas. Estamos falando do artista circense e também visual Fábio Roberto Crisci da Fonseca, conhecido no mundo artístico como Fabrini Crisci, nascido na cidade de São Paulo.

O artista Fabrini Crisci, ao lado de uma de suas obras.

Fabrini Crisci começa nos contando sobre seu ingresso nas artes circenses. O artista contou que desde cedo sempre teve interesse por este seguimento artístico e que com 14 anos iniciou-se nele: me lembro uma das vezes que estava passeando com meus pais pelo centro de São Paulo e que me deparei com uma loja que vendia artigos de mágica, e na hora, além de ter ficado encantado, também me identifiquei com tudo que vi na loja. Foi a partir daí que comecei com a mágica e desde este período não parei mais, afirmou ele.

Aos 18 anos Fabrini Crisci já fazia mágica profissionalmente, realizando espetáculos para festas infantis e pequenos eventos. A coisa foi crescendo e com 20 anos comprou sua loja de mágica no centro da cidade de São Paulo, onde esta chamava-se “Casa Das Mágicas”. A loja foi bem e durou cinco anos. Após este período, o artista contou que teve de fechá-la, pois não estava mais conseguindo conciliar seu comércio com sua vida artística: estava numa demanda muito grande de apresentações. Já não mais me apresentava em festas infantis e pequenos eventos. Estava me apresentando quase que diariamente em bares noturnos, junto com um parceiro de trabalho. Por este motivo, optei fechar a loja e me dedicar totalmente ao meu trabalho artístico que é minha paixão maior, contou o artista.

Obra do artista Fabrini Crisci.

Certamente que Fabrini Crisci não se arrependeu de encerrar seu comércio para dedicar-se totalmente ao mundo da mágica. Foi a partir das muitas apresentações em bares noturnos que seus shows foram ganhando mais notoriedade até que o artista vai para Paris, apresentar-se em cabarés de espetáculos. Nos cabarés realizava de dois a três shows por dia, e, entre um e outro, um tempo livre satisfatório que destinava às suas pinturas e desenhos. Sobre estes, o artista contou ser autodidata e que começou a desenhar desde cedo. No início desenhava charges, cartoons e caricaturas. No entanto, devido ao mundo em que vivia e vive, repleto de elementos que muito chamavam e chamam sua atenção, como os bares noturnos, bistrôs, museus e até o próprio cabaré, junto aos brocados e veludos, começa a criação de obras de arte voltadas para este universo repleto de informações que muito o influencia.

Não só mágico e artista visual, mas também um estudioso das artes especialmente da circense. Seu gosto pelo surrealismo e por características excêntricas e sombrias, também incorporam-se à arte visual desse artista. Porém, é essencial ressaltar o carinho e o respeito de Fabrini Crisci, pelos artistas que trabalhavam em circos que realizavam os “Freak Shows” (Show de Horrores), e que bom que hoje não mais existem estes shows.

A artista Ella Harper que nasceu com os joelhos virados para trás, e por isso ficou conhecida como a mulher camelo.

Infelizmente houve uma época em que os “Freak Shows” (Show de Horrores), não só eram permitidos em todo o mundo, como também eram apreciados pelo público. O  apreço por estes shows era justamente o prazer em depreciar não os espetáculos, mas sim os artistas que se apresentavam. Estes artistas despertavam a curiosidade do público que por sua vez não tinha clareza e conhecimento sobre questões genéticas, e também porque não viam os mesmos nas ruas e em outros locais públicos, convivendo com os demais. Eram pessoas com anomalias, com estética considera bizarras (na época) como deformações, mutações genéticas, doenças raras entre outros do gênero, e que eram abandonadas ainda pequenas e não tinham esperança na medicina da época. Na verdade, os donos de circos dos “Freak” Shows”, é que eram os verdadeiros monstros por se aproveitarem da deformidade, da rejeição, do preconceito e da exclusão social sofridas por estas pessoas, cuja época só restavam para as mesmas submeterem-se à exposição pública como se fossem objetos de diversão.

A artista Annie Jones, conhecida como mulher barbada.

Eram pessoas extremamente tristes não só por suas condições físicas, como também pelas humilhações por quais passavam. Mesmo assim, na hora do espetáculo, vestiam-se de coragem e faziam seus shows da melhor maneira possível. Artistas que por anos levaram entretenimento para o público, como frisou Fabrini.

O artista circense Isaac W. Sprague.

E estes grandes e corajosos artistas são muito importantes para Fabrini Crisci, que enxerga a relevância e a colaboração deles para os diversos tipos de espetáculos circenses que foram e são construídos até os dias atuais. Tanto, que seus personagens figurativos nos remetem à algumas características físicas dos artistas dos “Freak Shows” (Show de Horrores), onde com muita sensibilidade e criatividade, Fabrini dá seu tom de sofisticação à estes e outros maravilhosos artistas, com nuances à lá Tim Burton, uma de suas mais fortes influências artísticas, assim como nosso grandioso Juarez Machado (um dos maiores artistas do Brasil) e o escritor espanhol Jesús Aguado, entre outros.

O artista diz ter fascínio pelo mundo obscuro e que não sente e enxerga este, feio e mau. Ao contrário, para ele, elementos e personagens pertencentes a este mundo, tem suas especiosidades, sedução e beleza. Acha que por trás do obscuro, há uma explosão de sentimentos retidos ou não, que quando sentidos, compreendidos e entendidos, nos levam ao fascínio dos opostos que paradoxalmente nos completam, porque também fazem parte da essência humana.

Obra do artista Fabrini Crisci.

Suas obras envolvem todo o universo circense que trás o lado não convencional (e pouco conhecido aqui no Brasil), das apresentações alegres que arrancam gargalhadas do expectador, mas sim os trabalhos de mágica e ilusionismo que despertam muita atenção,  curiosidade e interesse pelo oculto. Certos números caracterizam os espetáculos como misteriosos e esse ar de mistério extrai do pensamento coletivo um fascínio específico pelo obscurantismo através da surpresa, do delírio, do segredo e até da dúvida, porque não? Como pode isto acontecer? De que forma é feito isso? Espetáculos que desafiam a lógica e o entendimento com personagens “curiosos”, são característicos nas obras de Fabrini Crisci, que usa elementos do circo, mais precisamente da mágica e do ilusionismo.

Obra do artista Fabrini Crisci.

Suas telas apresentam para o expectador toda uma estrutura cenográfica do ambiente mágico dos circos e cabarés de espetáculos do entretenimento. Através delas sentimos e apreciamos um mundo real e imaginário ao mesmo tempo. Cartolas, coelhos, baralhos, e diversos objetos cenográficos utilizados para práticas e aprendizados das mágicas e efeitos ilusionistas, dentro de cenários coloridos e ambientes esfumaçados, com elegantes e volumosas cortinas, personagens esguios ou gordos, baixos e altos, com faces que expressam seriedade, volúpia, mistério, tristeza e um certo “deboche” de quem tem o controle da ilusão nas mãos, juntam-se à sofisticados figurinos e mobiliários que remetem aos séculos 17 e 18, sem nos tirar dos dias atuais. Obras de estética sofisticada com paleta de cores (tendo predominância do vermelho na maioria) vibrantes e quentes, com efeitos luminosos e fortes reflexos claros e escuros, completam o espetáculo em maravilhosas pinturas! Sobre a questão dos personagens femininos terem boca e os masculinos não (salvo exceções), Fabrini explicou categoricamente: não dou boca a estes personagens pelo simples fato de não vê-los com boca. Vejo-as em minha imaginação, porém, não consigo desenhá-las em meus personagens por achar que elas não caberiam à face deles no desenho. Mas, na minha imaginação elas existem, afirmou ele.

Além de todo um contexto cenográfico e histórico e dos artistas circenses, antigos cartazes referentes àquela época também são lembrados e homenageados nas telas do artista, não só por fazerem parte do mundo dos espetáculos, mas também por exercerem papel fundamental, pois eles eram os grandes anunciantes destes espetáculos e robustos atrativos do público: a expectativa pelos shows de atrações começava através dos cartazes, afirmou o artista.

Banner do Espetáculo de Mágicas.

A figura do diabo também é expressa em algumas obras do artista, como uma alusão das épocas em que o público fazia associação do ilusionismo e do artista ilusionista ao oculto, dizendo inclusive que para tal feito espetacular e para escapar do perigo, o artista só poderia ter algum pacto ou ligação com o diabo, pois caso o contrário não seria capaz de realizar tal feito. Eram muitas as crendices e boatos naquela época em torno do ilusionismo e das mágicas estarem associadas com algo demoníaco. E como tais perspectivas traziam resultados positivos de audiência, muitos artistas usaram isto em favor próprio até tais crenças e teorias começarem a ser desmistificadas e irem desaparecendo: uma estratégia de marketing pessoal muito bem aproveitada (RS..rs..rs..), disse Fabrini.

Obra do artista Fabrini Crisci.

Uma segunda assinatura do artista pode ser vista oculta ou revelada em seus trabalhos. Chamamos de segunda assinatura, pois é assim que Fabrini a denomina e a expressa em todas suas obras, tornando-a mais que uma característica de criação artística: é a marcante presença do inseto joaninha, que aguça a curiosidade do expectador em saber o por que dela sempre estar presente. O artista disse que tem costume em chamar sua esposa para ver suas obras em processo de criação, para saber o que ela acha. Quando morava em Berlim (Alemanha), na década de 90, chamou-a para ver uma de suas obras que ainda não estava concluída, quando a mesma comentou: está muito boa esta pintura, principalmente esta joaninha, está 3D. Comentei com ela que não havia pintado nenhuma joaninha. Fui olhar, e vi que tinha uma joaninha pousada em minha pintura, num local super estratégico que caiu super bem para ela. A partir daí, fiz outra pintura, pintei uma joaninha escondida, chamei minha esposa e perguntei para ela onde estava a joaninha. Ela encontrou, e isso se tornou uma brincadeira entre nós que até hoje quando escondo a joaninha, chamo-a para ela descobrir onde está, contou ele.

Entre espetáculos de mágica por vários lugares no Brasil e em outros países, o artista foi criando suas obras de arte e ganhando evidência com as mesmas, chegando ao reconhecimento nacional e internacional, também como artista visual. Suas obras direcionadas ao mundo do circo, seus segredos e encantos, já foram expostas em diversas Exposições coletivas e individuais. Fabrini Crisci já expôs em Monte Carlo, Alemanha, Aústria, Brasil (infelizmente poucas exposições aqui) e sua última em Coimbra, dentro de um teatro num grande “Festival de Mágicas”, ambiente mais que propício para o vislumbre da sua arte.

Obra do artista Fabrini Crisci.

O circo, a mágica, o ilusionismo, o desenho e a pintura, fazem de Fabrini Crisci por excelência, um dos grandes artistas visuais do Brasil, onde através de seus mágicos pincéis e sua excêntrica, bela e generosa arte, consegue proporcionar ao público a essência artística dos palcos e bastidores e de tantos artistas que encantam o mundo através da magia única que só o universo do circo sabe realizar e revelar.

E que este espetáculo nunca acabe! Que viva para sempre na memória coletiva e individual, se reinventando, se mostrando e se apresentando cada vez mais, porque o show não pode parar!

Viva Cultura!: Fabrini, muito obrigada pelo prazer da entrevista e poder divulgar sua arte para nossos leitores e público afim.

Fabrini Crisci: obrigada a Viva Cultura! por divulgar e fomentar a arte nacional. Foi um prazer realizar esta entrevista.

SERVIÇO:

Informações sobre o artista em: www.fabriniart.com

NOTA: todas as imagens gentilmente cedidas por Fabrini

PRESTIGIE A ARTE BRASILEIRA!!

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