Por Jaqueline Stori – 05/04/2019
A arte abstrata e seus inúmeros caminhos descompromissados com a representação da realidade que ao mesmo tempo tem como uma de suas características marcantes ser um contraponto ao conceito de arte realista, carrega este paradoxo e complexidade em sua natureza permitindo que seus elementos sejam relacionados à emoção ou à intuição. Assim sendo, a liberdade em se expressar com elementos abstratos leva não só o artista mas também o público, à percorrer pelas mais diversas e diferentes formas de interpretação, que intrigam, emocionam e despertam sentimentos de nosso infinito particular onde habitam nossas fantasias e sonhos. Por isso, podemos afirmar que trata-se de um estilo ou gênero artístico que nos convida a passear pelos fantásticos caminhos do imaginário da mente humana, dos sentidos do corpo e dos sentimentos guardados em nossos corações.
Entre as duas maiores tendências da arte abstrata, nossa entrevistada que leva para suas telas a informalidade e a geometria. A primeira, inclinada ao percurso da emoção, ao ritmo da cor, à expressão de impulsos individuais. A segunda, afinada com fundamentos racionalistas , rigores matemáticos e depurações das formas. Agora, imaginem o somatório de todos esses elementos munidos de fértil imaginação, criatividade e talento, banhados nas mais diversas formas de emoções?
É o resultado desse somatório que a Viva Cultura traz para você: a arte de Luciana D’angelo. Brasiliense graduada em direito e em artes plásticas, pela Universidade Federal de Brasília, que por volta de seus 8 anos de idade, iniciou-se no mundo das artes quando sua mãe a colocou em uma Instituição de Ensino voltada para o artesanato.
A artista visual começou nos contando que quando ingressou nesta escola de artesanato ainda criança, passou a se interessar pelas artes em especial pela pintura, até mesmo por esta ser a mais ensinada pelo curso: eram diversos tipos de pintura. Pintavámos madeira, gesso, cerâmica, tapeçaria entre outros. A madeira era o que mais pintávamos, pois o forte da Instituição era o ensinamento da pintura barroca. Com este curso aprendi desde cedo a manipular os diversos tipos de tinta e a me interessar em especial pela pintura, disse Luciana D’angelo.
Hoje, com mais de 15 anos de pintura, a artista afirma gostar de trabalhar com o abstrato por este lhe permitir de forma genuína, construir o seu trabalho sem que tenha que representar de forma figurativa e sem referências: quando me refiro a não ter referências, refiro-me às referências figurativas como mesas, cadeiras, frutas e outros elementos. Eu me expresso de uma forma muito mais natural ao desenhar cores e formas, e a partir disto buscar o equilíbrio na minha pintura. Então, através do abstrato, eu consigo exprimir exatamente o que eu quero e o que eu penso, sem ter que necessitar de referências visuais para a construção de minhas obras. É claro que a arte não sai do nada. A caminhada é longa! Tenho muitos anos de pintura e isso é um processo que vai se consolidando. Quanto mais o artista vê, pesquisa, vivencia e lê, mais o trabalho dele vai sendo sedimentado. Por isto, eu me sinto muito à vontade em não ter referências, explicou ela.
O processo de criação de Luciana D’angelo vem muito interligado com a emoção, com o sentimento, com suas memórias e suas vivências. A artista revelou que começa diluindo tinta acrílica em um pouco de água, faz o movimento de jogar aquela tinta em cima da tela e a partir das formas que vão surgindo dessa ação, ela vai começando a estudar as cores, os elementos e o equilíbrio, para começar a composição da obra. Considera seu trabalho extremamente formal, primando muito pelo equilíbrio da harmonia, o ritmo e a colocação de tons: busco muito o equilíbrio estético e a beleza. Tudo que tem no meu ateliê de matéria prima possível que naquele momento em que estou desenvolvendo a pintura completamente imersa naquela idéia que surge da interação da pintura comigo, acontece naquele instante. Vou buscando os elementos materiais e as coisas vão surgindo e vão acontecendo natural e instintivamente. Vão fluindo… E assim, acontecem minhas composições, explicou a artista.
Luciana D’angelo, na prática do exercício de ateliê , já trabalhou muito com colagem, jornais, papel marche, pó de mármore, cascas de árvore, galhos, folhas etc. Tudo que pode servir como matéria prima, a artista revela que vai utilizando em suas experiências, objetivando cada vez mais o aprimoramento de seu trabalho. Com telas específicas para seus experimentos, a artista espera algum dia agregar tais experiências às técnicas que usa hoje em dia. Mas, o que prevalece hoje nos trabalhos dessa artista é o uso das técnicas com acrílicas (em muita quantidade) alternadas com jatos de spray, que no término das composições de suas obras alcançam uma estética harmoniosa, bela, delicada e ao mesmo tempo forte, no uso de suas cores, traços, linhas e formas, revelando e oferecendo para o público a percepção e a sensação do equilíbrio, sobre o que capta ao seu redor e transpõe em sua arte.
A arte de Luciana D’angelo já alcançou diversas exposições coletivas junto à grandes nomes das artes visuais, em galerias internacionais de Paris, Portugal e também em galerias nacionais (inclusive aqui no Rio de Janeiro). Atualmente tem algumas de suas obras expostas na The Gallery em Brasília, onde nasceu e reside. Sobre o mercado das artes visuais aqui no Brasil, em específico para os novos artistas ou para os artistas com pouca visibilidade midiática, Luciana D’angelo acha que graças ao crescimento de ferramentas digitais como as redes sociais por exemplo, abriu-se um leque bem extenso para o contato direto com o público, onde estas permitem que o artista mostre seu trabalho diretamente para ele e assim possam conhecer detalhadamente sua arte sem a intervenção de um galerista, marchand, agenciador ou outro profissional adequado para tais intermediações entre público e artista. Não que a artista ache desnecessária a atuação desses profissionais, para a dinâmica deste mercado. Pelo contrário, Luciana D’angelo atesta a importância fundamental destes profissionais para o andamento e crescimento do fluxo mercadológico das artes: Sem eles o mercado das artes visuais seria órfão de uma estrutura que possibilitasse sua expansão e suas atividades. Apenas quero dizer que as ferramentas digitais facilitaram muito o contato direto e as várias formas de divulgação, fazendo com que nós artistas ou qualquer outro profissional, ganhasse espaço no circuito cultural. Através delas, entramos nas residências, nas Instituições de Ensino, nos escritórios, nas empresas e em todos os lugares. E essa entrada, é que faz a comunhão entre o artista, o público e arte. Isso é muito facilitador e maravilhoso ao mesmo tempo, afirmou a artista.
Mas, voltando para o mundo abstrato da arte, podemos encerrar esta matéria com a certeza que as obras dessa maravilhosa pintora proporciona ao público um misto de emoções e sensações que nos levam a vários e diferentes caminhos. Obras em que cada vez que olhamos, mesmo que seja a mesma obra, nos reportamos a novas maneiras de ver e mundo. Arte que puxa para a contemplação de diversos mundos. Que podemos sentir e enxergar de acordo com nossa imaginação e interior por ter em sua essência, força, beleza, harmonia, intriga, delicadeza, construção, desconstrução, realidade, fantasia e principalmente o que tanto amamos e prezamos: vida. Sim, uma arte que vibra vida!! Essa é arte de Luciana D’angelo.
Viva Cultura: Luciana, muito obrigada pela entrevista, por nos presentear com sua arte e por nos proporcionar a oportunidade em divulgá-la!
Luciana D’angelo: Obrigada a Viva Cultura pela divulgação do meu trabalho e por ser um veículo de fomento das artes visuais e da cultura nacional.
NOTA: imagens cedidas pela artista.
SERVIÇOS: tudo sobre a arte de Luciana D’angelo em: