Por Jaqueline Stori – 27/062019
Matéria prima mais conhecida entre os metais, o ferro (que inclusive tem sua importância na História da Humanidade), deferido e caracterizado pela arqueologia como a Idade do Ferro, fez e continua fazendo parte da nossa história, em todos os cantos e culturas do mundo. Em termos cronológicos, o homem conhece as formas de tratamento do minério de ferro desde cerca de 1200 a.C. Foi no Médio Oriente que a respectiva tecnologia começou a ser usada. No Norte da Europa a Idade do Ferro começou por volta de 700 a.C. e na Península Ibérica, cerca de 1000 – 900 a.C, graças aos Celtas, tendo-se verificado a sua difusão a partir do século VII.
Sabemos que ao longo da Idade Média o ferro começou a desempenhar um papel relevante com a expansão da charrua, com a rellha de ferro e da ferradura para cavalos, então de importância decisiva nos transportes. Além disso, haviam as armas como as espadas, as armaduras de proteção e outros objetos que serviam para as batalhas ocorridas nesta época onde este elemento era o centro primordial para o desenvolvimento de toda uma sociedade.
Avançando até o século XIX, já se afirmou ter sido o ferro a “base de todo desenvolvimento industrial moderno”, como também já se classificou o século XIX como o da “civilização do ferro”. Porém, será que o mesmo pode ser dito do século XX? E do século XXI, será lúcida tal afirmação?
Bem, isto é um caso para muitas e muitas intermináveis pesquisas. Mas, o que certamente podemos afirmar é que o elemento ferro em todas as suas variáveis, acompanha a humanidade desde que o mundo é mundo, pois sempre existiu nos solos profundos de nosso planeta. Em religiões de matrizes – africanas por exemplo, o elemento ferro é relacionado ao Orissá Ogum, o ferreiro e guerreiro, um dos Orissás mais antigos do Panteão Africano e um dos participantes da criação do mundo. Ou seja, o ferro sempre esteve aqui fazendo parte e acompanhando nossa existência e evolução.
Fez parte de várias épocas e chegou até aqui, na Idade Contemporânea, com a mesma relevância e importância como na Idade do Ferro. Precisamos desse elemento e de suas variações, para inúmeras coisas: da alimentação à construção. Sim, o tempo sempre avança e coloca a sociedade em outros patamares comportamentais, científicos e culturais. A arte foi um dos setores de pesquisas e de cultura que inseriu esta unidade em suas produções, mostrando que este pode dialogar com a poesia e com o belo.
E para falar da beleza poética e do possível diálogo entre o rústico e o sofisticado, entrevistamos o excelso escultor Fabian Rodrigues, que produz suas esculturas somente com metal, dando a esta matéria prima a vida artística que fascina os olhos das pessoas, trazendo o tom do belo e o vigor da arte aos mais variados estilos de ambientes internos, externos, particulares, públicos e todos os outros lugares que recebem a arte como extensão dos nossos sentidos.
Esse paulistano que há 30 anos mudou-se para a Cidade de São José do Rio Preto (interior de S-P), fez licenciatura em Letras, porém nunca exerceu a profissão como professor, pesquisador e outras categorias relacionadas a esta área: sempre trabalhei no setor comercial em diversos negócios até chegar nas esculturas, disse o artista.
Escultor autodidata, Fabian Rodrigues começou a trabalhar com escultura aos 36 anos de idade, no ano de 2003: Até então eu nunca havia trabalhado com esculturas. Na adolescência eu desenhava bastante, porém, nunca levei meus desenhos adiante. Mas, desde o inicio quando escolhi trabalhar com as artes, sempre tendi para o lado das esculturas.
A escolha em trabalhar com o metal é oriundo à diversos fatores entre eles fazer parte de uma família onde alguns membros eram serralheiros, como seu avô e determinados tios. Fabian Rodrigues lembra da grande oficina que sua família tinha e das muitas ferramentas e materiais que utilizavam no trabalho: Minha proximidade com o metal vem daí. Não ainda de forma artística naquela época, porém já existia a proximidade. Eu me recordo que na década de 70, na Praça da República na cidade de São Paulo, era realizada acho que aos domingos, uma feira de artesanato muito famosa onde eram expostos diversos trabalhos manuais. Meu tio uma vez me levou nesta feira e eu no meio de tantos trabalhos me fixei em uns robozinhos feitos de metal com porcas parafusos etc. Achei muito legal e muito interessante aquele trabalho em específico, e daí falei comigo mesmo: algum dia farei algo do tipo, observou.
Fabian Rodrigues contou também que na sua adolescência começou a freqüentar as diversas produções culturais produzidas na cidade, entre elas as Bienais do Livro e da Arte. Tais eventos ocorriam entre o Pavilhão da Bienal do Ibirapuera e o Museu de Arte, cujo caminho há um jardim com esculturas lindíssimas de grandes artistas plásticos como Mário Cravo Junior e outros. Além disso, o período em que trabalhou como officeboy, também o levou muito a Praça da República, onde também há esculturas belíssimas que o impressionavam bastante. Todo este cenário artístico urbano, os eventos culturais, a proximidade desde cedo com o metal (através da família) e obras de grandes artistas como Nicolas Vlavianos, Almicar de Castro, Francisco Stokinger, Cassiporé e muitos outros, acabou por despertar em Fabian Rodrigues o artista nato existente em seu interior, por se identificar muito com a arte desses grandes escultores.
Suas produções escultóricas passeiam entre figuração, abstração e formas geométricas. Esculturas feitas para serem fixadas em paredes, a arte de Fabian Rodrigues não se prende a uma forma específica, transitando livremente por diversos formatos e linguagens. A produção para paredes em específico se deve ao fato das obras não necessitarem de uma base de apoio para manterem-se fixas: confesso que é menos uma preocupação para criar esculturas. As bases tem de ser bem pensadas para cada tipo de escultura e isso aumenta a preocupação em relação ao suporte de cada uma e toma mais tempo de produção. Além disso, na parede, você pode dividi-las, expandi-las, distribuí-las em partes e muitas outras possibilidades! Quando comecei a comercializar minhas obras as pessoas insistiam em projetos para parede. Daí, acabei me especializando em esculturas para paredes embora eu também faça esculturas com bases caso haja encomenda, explicou ele.
O processo criativo de Fabian Rodrigues é basicamente experimental. Ele desenha algumas coisas, rascunha algumas idéias… Porém, o artista afirmou ser muito difícil começar a montar alguma escultura a partir de um desenho. Geralmente suas criações começam com pedaços de metal que ele vai torcendo, amassando, dobrando, martelando, cortando, deformando o material até este ir tomando forma: conforme vou manipulando o metal é que vem surgindo a idéia e o sentido para onde quero ir. Mas, nunca uma coisa é pré-determinada e também nunca o resultado final é aquilo que havia imaginado no começo. Tem vezes que a escultura acaba saindo de primeira. Outras não. Então, vou torcendo, refazendo até chegar no resultado que eu espero, sem um ordenamento específico. Sem ser tudo programado para depois ser executado, explicou ele.
O artista confessa que o que mais gosta é trabalhar com metais bem maltrados, pois com estes ele pode manusiá-los por diversas vezes e de várias maneiras. Fabian diz enxergar a resistência do metal não como um obstáculo mas sim como uma aliada, porque é graças a resistência do metal que ele consegue armar o ferro nas proporções que acha mais interessante para si, que é o sentimento de extrair algo leve de uma matéria-prima pesada. Denota que quando iniciou nem pensava em pintar o metal: queria deixá-los cru, naturalmente. Só que não dá certo, devido a ferrugem, que mesmo sendo retirada e depois cuidada com procedimentos químicos para que o metal fique protegido das ações do tempo, ela volta mesmo assim, ocasionando perda da beleza e do valor da obra. Com isso Fabian Rodrigues acabou desenvolvendo técnicas de pintura para fazer acabamentos que mostrem que é metal, mas que a tonalidade não é perdida com o tempo, conforme acontece com as esculturas de metal sem pinturas.
Sobre sua produção escultórica em Séries, o artista explica que estas delimitam o formato do material que ele está usando como por exemplo as Séries Trama, que são sempre canos amassados em seções; a Série Armação onde são pequenos pedaços de metalão quadrados; a Série Lunes com bolas, e tantas outras criadas oriundas do desdobramento do primeiro modelo, onde o artista explica que só as realiza quando enxerga possibilidades de variações daquele exemplar. Desta forma, Fabian Rodrigues diz conceituar suas obras em Séries como uma linguagem visual que está transmitindo a principal idéia de mostrar grupos pensados a partir de um determinado material trabalhado com várias possibilidades da idéia inicial.
As inspirações geralmente vêm das formas biológicas. Fabian diz gostar dos fungos, das algas, das asas dos insetos, das plantas e de tantas outras formas deste maravilhoso universo vibrante em vida e energia: eu sinto que a observação que faço da natureza influencia no que eu faço. Talvez seja por isso que eu goste muito de elementos vazados, coisas torcidas. Material que num primeiro momento parece defeituoso, mas que depois percebo e vejo que é muito interessante. Só que apesar de tirar muito de minhas inspirações nas formas biológicas, eu tenho minha arte e meu trabalho muito inspirados no exercício diário, na prática recorrente, que começa bem cedo no meu ateliê onde trabalho muito e por conseqüência vão surgindo minhas inspirações e minhas idéias. Não sou um artista que me inspiro no lúdico, no romantismo, na poesia, na fantasia… Apesar de saber que todos carregamos sonhos e fantasias e que estas e muitos outros elementos abstratos nos levam à conexão com as artes e suas múltiplas existências, eu sinto que minha criatividade surge conforme minha demanda de produção. Por me conhecer, tenho certeza que se não produzisse todos os dias não teria tanta imaginação fluindo em minha mente. Costumo dizer que minha arte é fonte de 90% transpiração (o exercício do trabalho braçal e manual) e 10% de inspiração, afirmou ele terminando esta com largo sorriso.
E o que nós afirmamos ao final desta entrevista, é que Fabian Rodrigues se encontra entre os melhores artistas da cena contemporânea brasileira, com suas esculturas de metal de características físicas manipuláveis, variações e infinitas possibilidades do belo e da leveza extraídos da matéria bruta, atestando que tudo que é trabalhado e realizado no amor e com amor, se transforma e nos transforma!
Viva Cultura: Fabian, muito obrigada pela oportunidade em podermos conhecer melhor sua arte e divulgarmos seu lindo trabalho.
Fabian Rodrigues: Obrigada a Revista Viva Cultura, por divulgar e fomentar a arte brasileira.
NOTA: todas as imagens cedidas pelo entrevistado.
SERVIÇOS: Todas as informações sobre o artista plástico Fabian Rodrigues:
www.fabianrodrigues.com.br