Arte Visual

A introspecção revelada e escondida nos olhares das obras do artista visual Clovis Camargo.

Obra do artista Clóvis Camargo.

Por Jaqueline Stori – 07/04/2020

 

Clovis Camargo! É esse o nome do artista gaúcho da cidade de Porto Alegre e residente da cidade de São Paulo, que oferece ao público uma reflexão e também um encontro com seu interior, através daquilo que afirmamos ser o espelho da alma: os olhos.

Os olhos contidos nas obras desse grande artista nos remetem a um passeio, mergulho e sensações das quais precisamos ou buscamos respostas e também questionamentos. Clovis Camargo diz sempre ter mostrado aptidão para as artes e que por isso trilhar este caminho foi um processo natural. Profissionalmente iniciou na área de publicidade trabalhando no setor de comunicação visual, onde pode explorar um pouco de sua veia artística aflorada desde sua infância.

Obra do artista Clóvis Camargo.

O artista conta que através desse trabalho ele começou a explorar ainda mais o seu lado criativo e como conseqüência, aos poucos foi migrando para as artes plásticas. Como manifestou desenhos e pinturas desde cedo, sem ter elementos figurativos definidos como por exemplo pessoas, objetos ou natureza morta, o pintor relata que tais temas o deixavam com pouca margem para criar: Na verdade eu realizava mais cópias do que criações. Porém, de qualquer forma, isto contribuiu para eu encontrar um pouco da minha técnica na pintura, afirmou.

E seguindo as descobertas de suas técnicas através de seus experimentos, Clovis Camargo sentia a necessidade de encontrar um personagem para que pudesse trabalhar com ele, e extrair do mesmo sua proposta de arte. Partindo desse ponto, começou uma pesquisa para tentar descobrir o que poderia ser este personagem ou elemento figurativo, pois até então, nunca havia ficado muito satisfeito com os resultados anteriores. Então, no ano de 2009, em meio a muitos esboços e rabiscos surge o personagem com as tais características tão esperadas, que levaria o artista a trabalha-lho dentro de vários contextos e conceitos de modos bem diferentes: quando vi o resultado senti na hora a abertura de um novo mundo e que toda dificuldade que eu tinha deixou de existir, dando espaço para eu expressar minhas verdades, criar coisas possíveis ou não. É como se fosse uma massa de modelar que você pode dar a forma e colocar do jeito que quiser. A partir daí tudo começou a fluir sem obstáculos, revelou ele.

Obra do artista Clóvis Camargo.

Artista de natureza curiosa sempre em busca de novas técnicas e novas possibilidades, as experimentações fazem com que ele desenvolva trabalhos específicos dependendo da plataforma escolhida e do veículo a ser utilizado para se expressar. Clovis Camargo diz que quando pensa em técnica a ser desenvolvida num determinado trabalho, a forma de fazer, a imagem e o conceito já vem em sua mente preparada para aquilo e que todo seu processo de criação vem de forma bem natural.

O personagem criado pelo artista, para que pudesse ser desenvolvida sua arte como sente, quer e gosta, é único, com características físicas muito semelhantes ou iguais, que de acordo com o contexto, o conceito e a criatividade de Clovis Camargo, se desdobra em muitos outros personagens do mundo urbano, do universo da cultura popular, da religião e fé, da cultura indígena, da sensualidade em formas diferentes que hora se apresenta como sagrada e pura e outra se apresenta como profana e sacana, do homem interiorano entre outras figuras representativas da cultura e povo brasileiro.

Obra do artista Clóvis Camargo.

Apesar de um único personagem ter o poder de figurar outros, ele possui aspectos bem peculiares: carrega olhos bem grandes e amendoados, crânios largos, faces que vão se alongando e se afinando até a altura de queixos pontiagudos (em quase toda maioria), narizes muito perfilados e longos destoando das bocas oras pequenas com lábios finos, oras grandes com lábios carnudos, sempre destacadas pelos diversos tons de cores, que no conjunto, fica clara a intenção do artista em trabalhar opostos: figurado e desfigurado, construção e desconstrução, belo e feio, proporção e desproporção. Tudo desenvolvido harmonicamente com a utilização de vários elementos estéticos que primam pelo equilíbrio como luz e sombra, reflexos, traços e curvas bem definidos e paleta de cores bem diversificada com tons fortes, quentes, sóbrios que se contrapõem aos olhares tristes e introspectivos.

O artista Clóvis em processo de criação no seu ateliê.

Sobre o contraste da alegria das cores de suas telas com a tristeza do olhar de seu personagem mesmo entre suas variações figurativas, o artista conta que se trata de um contra ponto, mesmo: as cores alegres são uma forma de mostrar que existe um mundo colorido, alegre, envolvente ao nosso redor, mas que ao mesmo tempo e talvez isso seja o mais importante para mim, representar como nos mostramos para o mundo exterior. Algo como uma imagem social que sempre tem de estar feliz, alegre e realizado. Gostaria que as pessoas refletissem sobre isso. Essa forma de como elas se mostram (as vezes obrigadas pelas circunstâncias) e a forma de como realmente são. Temos um mundo interior cheio de questionamentos: sonhos realizados, sonhos não realizados, sonhos que irão se realizar, um tempo perdido… alguém perdido… Enfim, uma análise de como poder ser melhor do que somos. Aqueles momentos em que nos encontramos parados, estáticos, fora do ar, vagando em nossos pensamentos sobre a vida, explicou ele.

O artista Clóvis Camargo com uma de suas obras ao fundo.

O foco de trabalho e linha de pesquisa de Clovis Camargo é o ser humano, suas emoções, necessidades que de certa forma num todo, acabam sendo iguais para todos. Segundo o artista, é nesse momento que existe o encontro, onde todos acabam se reconhecendo de alguma forma. E isso independe de onde você esteja e de que forma você vai estar expondo esse trabalho, onde vai estar expondo etc. Todo mundo acaba se reconhecendo, afirmou o artista.

Como dito acima, os olhos são os espelhos da alma. São eles que mostram nossas emoções, sentimentos, mentiras e verdades. Tão profundos e intensos, os olhos de Clovis Camargo, estrela principal de sua arte, colocam o expectador em confronto com sua própria solidão e pensamentos internos. Um olhar perdido em um universo interior cheio de dúvidas e desejos, que nos transportam à uma análise profunda de quem somos e também dos inúmeros personagens que por algum motivo tivemos de interpretar alguma ou algumas vezes: As pessoas começam a analisar os personagens começando pelos olhos. O fato dos olhos serem maiores, acabam representando a forma de como enxergamos o mundo. É como se eles pudessem enxergar através do óbvio, explicou ele.

Obra do artista Clóvis Camargo.

Mas, não são só as pinturas desse grandioso artista que nos leva à reflexão de nosso interior, de como nos enxergamos e enxergamos o mundo. Seu talento oferece também ao expectador, outras esplêndidas generalidades do mundo da arte visual, como serigrafias, xilogravuras, ilustrações e belíssimas obras escultóricas produzidas com pedra sabão e modelagem em argila, que também carregam muitos traços característicos de suas pinturas em especial o formato do rosto e dos olhos. Por seu talento inquestionável, Clovis Camargo ganhou participação em diversas Exposições Coletivas, e teve sua individual, a Exposição Refúgio, além de ter sido premiado pela fascinante obra “Se Plantarmos A Semente”, na Exposição Coletiva “OLHAR”, ano passado, na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP).

Obra escultórica do artista visual, Clóvis Camargo.


Prêmio pela obra – Se Plantarmos A Semente- (Clóvis Camargo a direita).

Por entre olhares, introspecções, cores, alegrias, tristezas, dúvidas e certezas, Clovis Camargo, através de sua arte, nos convida ao lúdico. A uma deliciosa viagem ao mundo colorido e reflexível! Esta é a proposta, que seus personagens despertem empatia e as pessoas se reconheçam neles de alguma forma: Eu vislumbro que o expectador possa fazer uma viagem, um processo de auto -conhecimento e poesia! Acredito que minha arte faz as pessoas sonharem! Não só sonharem, mas também a refletirem sobre suas próprias vidas, termina o artista.

Viva Cultura!: Clovis, muito obrigada pela oportunidade em podermos estar apresentando e divulgando sua arte para as pessoas.

Clovis Camargo: obrigado a Viva Cultura pela divulgação da minha arte e pela divulgação da arte visual brasileira.

NOTA: todas as imagens cedidas gentilmente pelo artista.

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