Arte Visual

A influência da linguagem e da estética Neoconcreta nas maravilhosas obras de arte contemporânea do artista visual JRoberto Xavier.

Obra de J Roberto Xavier.

Por Jaqueline Stori – 15/11/2019

Em oposição ao Movimento Concretista aqui no Brasil, mais propriamente em São Paulo, onde artistas defendiam o racionalismo, a objetividade e o dogmatismo geométrico, no final da década de 1950, nascia no Rio de Janeiro o Movimento Neoconcretista, onde artistas em prol do subjetivismo da arte e da criação artística criticavam as idéias, o cientificismo técnico e o exacerbado racionalismo da “arte pela arte”, em que estavam pautados os Concretistas de São Paulo.

Os Neoconcretistas defendiam a liberdade de experimentações e criações artísticas, existencialismo e humanismo, interação do público com a obra, transcendência da arte, maior subjetividade e expressividade artística, abstracionismo e uso de cores e formas geométricas, contrapondo com o conceito Concretista dos paulistas, onde estes acreditavam que a forma, o materialismo, o positivismo eram os principais elementos da arte, em detrimento do conteúdo, visto como o mais importante pelos Neoconcretos.

Obra de J Roberto Xavier.

Artistas como Lygia Clark (pintora e escultura), Ferreira Gullar (poeta e crítico de arte), Amílcar de Castro (escultor artista plástico), Lygia Pape (artista carioca), Hélio Oiticica (artista carioca) entre outros artistas, exerceram papéis fundamentais para o Movimento Neoconcreto, conseguindo formar uma frente no Rio de Janeiro ao Concretismo paulista. Lançaram o Manifesto Neoconcreto, com críticas ao Concretismo e com proposta de uma nova maneira de criar e sentir arte. Em 1959, foi realizada a “I Exposição de Arte Neoconcreta”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), e seu Manifesto foi lido e publicado no Jornal.

A partir desta Exposição e do Manifesto que estendeu-se publicamente para a sociedade, tais propostas e conceitos do Movimento Neoconcretista passaram a influenciar artistas e também as artes em todos os seus gêneros e segmentos. No campo das artes visuais, diversos artistas foram e continuam sendo influenciados até hoje com o Concretismo, principalmente no que diz respeito ao existencialismo, a interação do público com a obra e a liberdade de experimentos e criações artísticas.

Obra de J Roberto Xavier.

O abstrato é um dos gêneros que mais se destacou no Neoconcretismo. Talvez pelo fato deste abrir caminhos para as infinitas formas e expressões que nos levam à viajar pelo nosso mundo imaginário de sonhos e fantasias. Neste contexto diversos artistas não só influenciados, mas, que também se identificam com a proposta e o conceito Neoconcreto, até a atualidade. Entre muitos artistas visuais, José Roberto Xavier, carioca e nosso entrevistado desta semana que nos conta um pouco sobre sua paixão pelas artes e seu trabalho como paisagista que também é outra de suas paixões.

O artista ao lado de uma de suas obras.

Artista visual autodidata, José Roberto Xavier, que nasceu na cidade do Rio de Janeiro e que recentemente mudou-se para Florianópolis (Santa Catarina), iniciou sua entrevista nos contando que sua influência para o universo das artes veio desde cedo por fazer parte de uma família de alfaiates. Seu pai e seus tios eram alfaiates e por conta da profissão desenhavam muito. Seu pai, com quem mais convivia, trabalhava também para o carnaval carioca. Tal trabalho o levava a realizar muitos desenhos de fantasias: via meu pai desenhando feitios de roupas e projetando fantasias de carnaval. Ficava observando estes desenhos e me encantava com eles, principalmente com os de fantasias, onde percebia e admirava a criatividade, as cores e as formas, conta José Roberto.

Seu trabalho artístico advém de técnicas da tinta óleo, da acrílica e do nanquim, e suas esculturas são primeiro pré-produzidas em maquetes para chegar ao resultado final com a matéria-prima metal.  Já sobre seu processo de criação, José Roberto diz que até hoje está se descobrindo: sou inquieto, corro para várias vertentes, vários processos, diferentes pinturas tanto figurativas como abstratas etc. Esta inquietude, esta vontade de sempre buscar e descobrir algo, não me permite definir com exatidão meu processo de criação, uma vez que hoje crio algo e amanhã outro algo diferente, afirma.

Obra de J Roberto Xavier.

Suas telas abstratas passeiam entre variadas cores, e o preto com branco. Este último, oriundo da técnica do nanquim chinês que junto de seus sentimentos e emoções relacionados ao nosso cenário político social, compõem o conceito de suas obras em preto e branco. José Roberto nos contou que para ele as cores são relacionadas à alegria, a vida, a festa, a comemorações e tudo mais que há de bom e positivo. Sua fase em preto e branco reflete suas emoções referentes à situação pela qual nosso país vem atravessando há alguns anos e que infelizmente continua: neste momento me sinto desmotivado a usar cores, desabafa.

Obra de J Roberto Xavier.

Mas, o artista não desanima diante dos obstáculos e de nosso preocupante cenário político social. Sua relação com a natureza também o fez paisagista, que por sua vez lhe alçou a liberdade em produzir obras que dialogassem harmoniosamente com ambientes naturais. Sua predileção pelas palmeiras exóticas e nativas em especial as palmeiras de Madagascar (que também são produzidas aqui no Brasil), o despertou para a criação de esculturas que estivessem em harmonia com a criação de seus projetos paisagísticos e que dialogassem com as palmeiras: meu mergulho no paisagismo e na botânica me levou a pensar na relação das esculturas pontiagudas com as palmeiras também pontiagudas, por estas terem uma sintonia perfeita com diversos estilos de jardins. Então pensei em esculturas que se encaixassem neste ambiente natural, conta ele.

Obra de J Roberto Xavier.

Nas esculturas pontiagudas, com curvas, de José Roberto, podemos sentir e ver um pouco da força da natureza exótica das palmeiras de Madagascar, e sua imponência diante do ambiente natural. No universo das artes visuais as obras abstratas desse grande artista que limita-se ao ilimitado, encontramos não só em meio suas cores e rostos desconstruídos um misto de interpretações e despertar de diferentes emoções, como percebemos características de uma estética muito singular usando elementos que revolucionou o campo das artes no Brasil, no final da década de 50.

As obras desse artista espetacular já passaram por diversas Exposições coletivas e devido ao sucesso, no próximo ano, a arte de José Roberto Xavier ganha uma Exposição individual, onde o público que ainda não conhece suas obras terá o prazer e a oportunidade em conhecer. E para os que já conhecem, o prazer em poder rever todas elas reunidas em um único espaço, surpreendendo e dialogando com o público.

 

“Minha arte é libertária: é como um constante

Manifesto: gostaria muito que novas gerações

pudessem se inspirar nela”.

– José Roberto Xavier-

Viva Cultura!: Roberto, muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em podermos estar divulgando sua arte!

José Roberto Xavier: Obrigada a Viva Cultura! por divulgar e fomentar as artes visuais e a cultura brasileira.

NOTA: Imagens gentilmente cedidas pelo artista.

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