Por Jaqueline Stori – 22/01/2020
Sobre suas intervenções ele diz que estas fazem parte do seu processo na forma de adequar o objeto aos espaços, objetivando criar uma obra múltipla que permita o objeto às várias situações. Nascido na cidade de Petrópolis (R-J) e atualmente morando na cidade de Cabo Frio, também (R-J), Roberto Dias da Rocha Pessôa, conhecido no mundo artístico por Roberto Pessôa, é sem dúvida um dos maiores artistas visuais do atual cenário contemporâneo brasileiro.
O artista que diz ter iniciado no universo das artes um pouco tarde, no ano de 1995, aos 44 anos de idade, prova para o público e mercado que idade e tempo, não é empecilho quando se tem dom, vontade e prazer em realizar algo que se gosta de verdade. Antes de iniciar-se no campo da arte visual, Roberto Pessôa diz ter trabalhado em uma Multinacional Norte Americana fabricante de produtos odontológicos e protéticos. E foi ainda nesta empresa que o artista contou ter iniciado paralelamente suas pesquisas no mundo das artes plásticas, já produzindo alguns trabalhos de pinturas e esculturas, planejando usar sua criatividade com mais liberdade numa nova fase de sua vida.
E essa nova fase veio para ficar e nos brindar com suas obras maravilhosas, cheias de cores vibrantes ou radicalmente indo para a cor branca. As obras de Roberto Pessôa, em especial suas esculturas, dialogam com cenários urbanos e naturais. Neste último, aqueles de olhares e percepções mais aguçados, podem não só perceber a integração das obras com a natureza, como também senti-las de forma harmônica com os elementos naturais, reagindo à seus movimentos e às suas cores como as variadas nuances do céu, das águas, das folhas e flores, das areias, dos estados físicos da matéria como sólido, líquido e gasoso e outros elementos naturais.
A maioria de suas obras são capacitadas para se adequarem e se harmonizarem aos diferentes ambientes e estilos sugeridos por esses. Obras tridimensionais, primando pelas formas geométricas, pelas curvas que permitem inúmeras possibilidades de mudanças ou criações de linguagens visuais estéticas, fazem da arte desse artista um show de extravagância em cores e neutralidade, que paradoxalmente sugere à sofisticação do simples e do abstrato.
Em entrevista, Roberto Pessôa nos fala um pouco sobre sua arte que vem ganhando cada vez mais espaço no cenário artístico, no mercado cultural e no gosto do público:
Viva Cultura!: Você é um artista multimídia que trabalha com fotografia, desenho, pintura, e instalação. Porém, percebemos uma maior produção artística em esculturas: De que forma utiliza as outras linguagens e outros elementos, para criar suas esculturas, no que diz respeito à harmonização e diálogo?
Roberto Pessôa: Entendo que estão todos interligados, a abstração me permite viajar num mundo onde a imaginação é o elemento principal para criação. Em muitos momentos trago minhas cores para os planos tridimensionais (as esculturas) mas em outras vezes, prefiro o branco por não interferir nas formas. As fotografias e os vídeos são formas que encontrei para registros dessas imagens, que na verdade, me são solicitadas pelas próprias obras que sugerem ambientes específicos para interagirem. Já as instalações utilizo-as para criar ambientes que muitas vezes permitem interações do público.
Viva Cultura!: Suas esculturas dialogam muito com formas geométricas, com o tridimensional e equilíbrio: Por que a escolha desta estética e qual sua relação enquanto artista, com estas?
Roberto Pessôa: As formas tridimensionais sempre me atraíram, acho a geometria sofisticada e não tenho dificuldades com elas, mesmo porque, vivemos num mundo tridimensional. Tenho também uma grande apreciação pela arquitetura, observo como ela é planejada. Quanto as esculturas, vejo que elas têm características próprias, uma delas é ocupar um espaço que não pode ser ocupado por nada ou ninguém. Ela existe, ela é real! Isso acontece igualmente na arquitetura e com o urbanismo.
Viva Cultura!: Sobre as cores, percebe-se obras multicoloridas e obras com predominância total do branco: Por que a ida de um extremo ao outro em relação as cores?
Roberto Pessôa: O branco é um espaço vazio, isso sugere ao artista preenchê-lo das mais variadas formas, em muitos momentos sinto necessidade das cores, quando essas me saturam, vejo que preciso esvaziar a mente onde retorno ao branco. Com ele, dou mais ênfase às formas. Tudo acaba sendo um jogo, que no fim dá certo.
Viva Cultura!: Muitas de suas obras estão sempre intervindo no cenário urbano e na sua maioria em cenários naturais, como dunas, jardins, lagos, neve florestas etc. Como é para você o diálogo da sua arte com a natureza? O que representa?
Roberto Pessôa: Intervir nos cenários faz parte do processo. Quando faço uma obra não penso onde ela poderia estar ou interagir. Na verdade, depois de pronta, a própria obra me sugere. Parece um tanto poético, mas fico à mercê do trabalho até que o visualize em algum lugar. Sinto que a arte precisa de espaço e não tem lugar melhor que a natureza.
Viva Cultura!: Por que a escolha de trabalhar com arte contemporânea e com o gênero abstrato? Qual sua relação e afinidade?
Roberto Pessôa: Quando comecei já sabia que o abstracionismo seria o meu caminho, não tive dúvidas! A arte abstrata tem uma certa rebeldia negando a arte figurativa. Do abstracionismo para o contemporâneo foi apenas repetir o passo. O artista não pode ter amarras!
Viva Cultura!: Você produz instalações que não se fixam somente em paredes e chão, tendo algumas flutuantes e em movimentos: sobre isso, no que difere o conceito artístico dessas, para as obras fixas?
Roberto Pessôa: As propostas para instalações é criar ambientes ou modificá-los através das obras. As peças são construídas como módulos de forma que possam ser apresentadas de várias formas. As instalações aéreas acontecem quando são sugeridas pelo espaço, isso possibilita os movimentos físicos. Procuro criar conflitos visuais com a matéria quando fios ou qualquer outro material frágil sustentam objetos aparentemente pesados, e criar a sensação de instabilidade. Já as instalações no piso ou paredes, me permitem criar outros tipos de movimentos quando os módulos são expostos de formas repetidas. Embora as peças permaneçam estáticas, o espectador precisa se movimentar para percebê-las. Assim se entende nas artes visuais. Tudo é questão de jogos e provocações.
Viva Cultura!: Por que a preferência por esculturas em tamanhos grandes?
Roberto Pessôa: Nem todas as esculturas são grandes, tenho trabalhos menores. Muitas vezes a forma como são fotografadas dão essa aparência. Mas, tenho obras relativamente grandes, que na verdade eu prefiro. Quando faço uma escultura pequena a vejo quase como um protótipo, logo a imagino em grandes dimensões. Acho que a escultura precisa dessa forma monumental e impactante.
Viva Cultura!: Sobre sua técnica de produção, qual você utiliza, e quais matérias primas nas criações escultóricas?
Roberto Pessôa: O que menos o artista contemporâneo se preocupa são com as técnicas. Os conceitos na maioria das vezes prevalecem! É claro que todos os trabalhos têm um processo de execução, mas não tenho técnica específica, posso fazer um projeto e depois buscar materiais. Caso o projeto requeira, depois desenvolvo uma técnica para executá-lo.Trabalho com concreto, madeira, pvc, ferro, bronze e metais diversos. Gosto dessa liberdade!
Em Exposições já realizadas, o artista mostrou e continua mostrando para o público em geral seu talento e criatividade, com seu universo de cores intensas em composições quase sempre geométricas em formas múltiplas e policromáticas, mas que em outros momentos são minimalizadas até serem reduzidas ao branco .
Sendo assim, Roberto Pessôa, produziu a Série RIO, onde contemplou a cidade do Rio de Janeiro, com maravilhosos trabalhos multicoloridos, que partiu de registros fotográficos sobre a cidade, destacando o cenário urbano e natural da mesma. Com seu extraordinário talento, prestigiou silhuetas locais como arquitetura e morros, com muitas cores e geometria, na Individual Brasil Carioca, em 2017. Outra das inúmeras Exposições individuais deste artista, foi a Exposição O BRANCO, em 2019, onde o critico Marcelo Lago descreve muito bem a arte do artista e sua Série BRANCO, dentro do universo artístico visual contemporâneo:
-“ Em O BRANCO, Roberto explora formas primordiais, como cubos, círculos, arcos, criando com elas instalações onde a não cor (branco) unifica sua poética intensificada pela reorganização do espaço que só o objeto tridimensional permite. Através da organização das diversas Séries Modulares, cria movimentos e direções, que atingem, seu maior potencial quando saem do espaço contido das Galerias e vão para o ambiente natural.
Roberto Pessôa não se prende apenas ao convencional, sua arte inquieta projeta-se além dos ateliês e das Galerias. O olhar atento e um fazer constante cria em seu processo algo inovador a cada Série que apresenta. Navegando neste universo da escultura/instalação e da fotografia, faz do pensar crítico e artístico uma forma de incorporar e explorar as múltiplas possibilidades no mundo contemporâneo”.
Viva Cultura!: Roberto, muito obrigada pela entrevista e por nos permitir divulgar e apresentar seu excelente e maravilhoso trabalho!
Roberto Pessôa: Obrigada a Viva Cultura por fomentar e apresentar a arte visual brasileira.
NOTA: Todo material fotográfico e vídeos foram gentilmente cedidos pelo artista.