Podemos definir o conceito multimídia como a integração entre várias formas de mídia que promovem assim, uma convergência entre elas, podendo ser gráficas, digitais, textuais, de áudio ou animação funcionando de forma intercalada entre a mídia estática (como um texto, fotografia ou gráfico) e uma mídia interativa (vídeo, áudio, animação). Sim. Esta é uma das diversas definições exatas para mostrarmos o contexto multimídia que além disso, através da criatividade, do lúdico, da poética, e do sensorial humano, ela se infiltrou na arte e estabeleceu uma nova estética e uma nova linguagem para este universo, onde permite novas e diferentes experiências, desafios e principalmente despertares inesperados daquilo que se pode imaginar.
Ou será que arte se infiltrou na multimídia? E quando exatamente? Até que ponto? Bem, independente dessas e de muitas outras dúvidas, questões e descobertas, tratar deste assunto não é tão simples assim. Mas, no mundo das artes, o que se entender e ver como simplicidade?
Para sabermos melhor, a Viva Cultura entrevistou a artista multimídia Marcella França, que falou sobre este gênero de arte, de como aplicar novas tecnologias em seus conceitos e criações artísticas e de como é possível transpor emoções e idéias, através da arte multimídia.
Conheça agora a Alma Liquida dessa artista carioca, radicada no Canadá e que tem como ponto inicial e infinito de suas obras, as relações do corpo com o espaço, dentro de um conceito que está sempre em busca do sentido existencial humano.
Começamos a entrevista perguntando quando Marcella França iniciou sua carreira no mundo artístico, e ela nos responde que desde muito cedo por volta de seus 13 anos já tinha ligação com as artes através da dança e do desenho e que com 16 anos entrou para o Parque Lage no bairro do Jardim Botânico – RJ, para fazer um curso de pintura. Levando adiante essas novas experiências e conhecimentos que fora adquirindo, continuou seus estudos no caminho das artes e graduou-se em comunicação visual, cursou mestrado em design pela PUC-RJ e pós-graduação em vídeo dança estética do movimento pela Angel Viana Faculdade de Dança.
A artista conta que ser multimídia sempre fez parte de sua essência e que a dança sempre foi uma expressão participativa e representativa em sua arte, pois desde cedo trabalha com a imagem e com o corpo.
Quando comecei a pintura, comecei pintando corpos em movimentos. Modelos vivos. Eu estudava a dança, estudava o movimento do corpo e pintava este. Para mim, sempre houve relação. Sempre me inspirei nos movimentos da dança e transportava esses movimentos em quadros de nu artístico, diz Marcella.
Após a fase de dedicação à dança como interpréte, continuei criando como vídeo artista e vídeo dança, voltando a atuar como bailarina em meus projetos. Até mesmo por uma questão de realização pessoal e também para ter meu registro profissional e assim poder atuar como coreógrafa e bailarina performer.
A dança é mais um dos meus caminhos e linhas como ferramenta dos meus trabalhos multimídia, completa Marcella.
Dentre seus diversos trabalhos multimídia divididos entre performances interativas, instalações, projeções, vídeos artes, vídeos instalações além dos trabalhos como designer, tem o Alma Liquída, que inclusive teve participação no Festival Mais Performances, no OI FUTURO-RJ em 2016 e o Memoire Liquide no Festival de Montreal em Lumiére, Canadá, que lógico, pela titularidade, trabalhou-se o elemento água em diálogo com suas performances. Mas, como você chega ao conceito da existência humana junto aos elementos naturais, perguntamos?
Marcella França nos responde que seu foco criativo e inspirador são as relações com os estados emocionais humanos e suas questões existenciais como vida, morte tempo, memória etc. A partir destas questões eu crio minhas obras dentro de um outro conceito que é a do corpo em movimento e sua relação com os espaços, que podem ser urbanos, naturais, cenográficos instalatórios, cenográficos escultóricos e outros. Dentro deste contexto, eu procuro unificar estas linguagens e estéticas e misturá-las às artes visuais, fazendo uso da performance e da dança aliada às novas tecnologias audiovisuais, porém, todos relacionados diretamente com o espaço, diz Marcella.
No projeto artístico Alma Liquida, tudo foi pensado, criado e projetado para trazer a leveza da água. Do figurino à performance. A questão do figurino por exemplo, por eu me identificar bastante com a nudez em representatividade artística, eu o vejo como um participante do conjunto da obra e não somente como um objeto de composição que está de acordo com a proposta da narrativa e do cenário. Então, escolhi um figurino que sugestiona leveza, que deixa o corpo mais leve possível, que tivesse mais a ver com fluidez e liquidez, permitindo que os movimentos fossem mais visíveis e que pudessem ser criadas outras camadas de significados e estéticas. É como se o movimento tivesse rastros através da fluidez dos tecidos combinados com os conceitos que as mudanças de estado da água, e, este trabalho, em relação ao existencialismo dos conceitos humanos, conta Marcella França.
Para mim, trazer novas tecnologias como ferramenta de transposição à realidade e criando novas realidades é um dos pilares do meu trabalho, afirma Marcella França.
Meu trabalho é sempre em movimento em um desdobramento de tempo e espaço. As projeções feitas com novas tecnologias, o conceito com o vídeo e tudo o mais relacionado, me permite trabalhar imagens metafóricas e com isso trazer a imagem e o movimento em tempo real, explica Marcella França.
Tanto no Alma Liquida como no Memoire Liquide, o elemento água foi usado por este ser um elemento de transformação em estado liquido, sólido e gasoso e por sua fluidez que está por trás do estado emocional das pessoas. Então, trazer estes elementos em forma de diálogo. Da constância e inconstância dos estados emocionais, falando do potencial humano de transformação assim como os fenômenos naturais. Fazendo uma analogia entre humanos e natureza, apresentado nestes dois trabalhos, diz Marcella França.
Toda a concepção de seus projetos e obras artísticas, são criadas pela própria artista que com a contribuição de alguns colaboradores, inclusive do próprio público (em uma de suas diversas intervenções urbanas) onde esse, levava imagens para a artista realizar suas projeções, permitindo a interatividade direta com o conceito da obra e o resgate de suas memórias emoções e sensações, tudo ali, ao vivo, dentro daquele espaço externo e urbano.
A proposta da artista é fazer com que as pessoas interajam com suas obras e as sintam de alguma forma. Marcella, conta que sua intenção é trazer cada vez mais o corpo do público para os espaços ambientados para as experimentações poéticas e emocionais de seus trabalhos. Para mim, é muito satisfatório o publico poder sentir e vivenciar as experiências que tento levar para meus trabalhos. Acredito que tudo está conectado de alguma forma e tento passar esta conexão para o público, através da minha arte, finaliza Marcella frança.
Sendo assim, podemos encerrar esta prazerosa entrevista, atestando seguramente que a artista visual Marcella França nos traz conceitos intangíveis da experiência humana dentro de um contexto contemporâneo, mas que de certa forma remete ao inicio de toda a criação: o corpo, a natureza humana, o cosmos e o natural e seus diferentes estados em constante transformação.
Tudo é mutável, tudo se renova, tudo recomeça e tudo tem um fim!
Viva Cultura!: Marcella, foi um prazer poder falar sobre seu trabalho, aprender um pouco sobre esta linguagem e poder dilvulgar sua arte tão intensa para as pessoas. Obrigada!!
Marcella França: Obrigada a Viva Cultura! pelo espaço e por ser propagadora das artes!!
*Todas as informações sobre o trabalho de Marcella França, em suas redes sociais e seu site:
www.mixelanea.biz/projection
facebook.com/marcella.franca.art
@marcellafranca.art
** Imagens gentilmente cedidas pela artista, de seu arquivo pessoal.