Por Jaqueline Stori – 26/09/2019
Quem nunca ouviu ou já falou a conhecida frase: Isso é surreal!!… Geralmente usamos esta frase quando queremos expressar nossa incredulidade mediante algum fato ocorrido que nos recusamos a acreditar, porém, sabemos que é real mesmo sendo difícil de aceitar ou compreender. Pois bem, no mundo da arte surreal, ao contrário de alguns fatos ocorridos na vida real, o surrealismo é um fato que sabemos não ser difícil de acreditar e nem de aceitar que exista, justamente por vir de um lugar onde tudo é possível e permitido: O mundo dos sonhos.
Movimento surgido na França na década de 1920, que se espalhou por toda a Europa saída de uma I Guerra Mundial e estendendo-se até II Guerra Mundial, o Surrealismo teve significativa influência de teses de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano. De acordo com Freud, o homem deve libertar sua mente da lógica imposta pelos padrões comportamentais e morais estabelecidos pela sociedade e dar vazão aos sonhos e as informações do inconsciente. Sobre este conceito, a arte, dentro da sua abrangente e infinita perspectiva de idéias, lógicas, elementos, contextos, informações, sentimentos, pesquisas, ciência, tecnologia, congruências e outros fatores internos e externos, sempre apresentou e trouxe à tona Movimentos Artísticos que influenciaram e continuam influenciando até hoje as mais diversas culturas, formações de opiniões, valores, comportamentos e estilo de vida de toda sociedade.
Artistas, intelectuais, cientistas, pesquisadores, políticos, sacerdotes, comunicadores e mestres, sempre foram os principais influenciadores e formadores de opiniões de gerações e gerações. Sempre, através de suas descobertas, de sua arte, de suas experiências e experimentos, de suas teses, pesquisas etc, expandiram e expandem leques e leques de possibilidades em todos os níveis de consciência e setores sociais.
No universo das artes, por exemplo, o surgimento dos diversos Movimentos Artísticos sempre expandiu novas fronteiras para várias questões e fatos sociais, políticos, culturais, e, inclusive, dentro da própria arte, múltiplas linguagens integradas à inúmeras fontes de descobertas para a criação estética e conceitual no que diz respeito à comunicação com o mundo e com o individual. Essa comunicação oferecida pelos diferentes estilos de arte traz em seu contexto, pontos muito amplos e abrangentes a serem sentidos, vividos, experimentados e refletidos. Todos esses Movimentos trouxeram e trazem consigo a desconstrução ou a construção de algo abstrato ou concreto, fictício ou verídico. São libertadores e reveladores em sua essência única! Dentre estes muitos com propostas libertadoras e reveladoras, o Movimento Surrealista que teve seu início através de um manifesto escrito pelo poeta e escritor francês André Breton, inspirado no livro de Freud “A Interpretação Dos Sonhos”, é um Movimento que desejou ultrapassar a limitação do consciente, permitindo que o subconsciente se expresse através da arte. Com esta proposta, o Surrealismo é o Movimento estético que mais se interessou em fazer uma representação da psique humana e do inconsciente. Os trabalhos surrealistas pretendem confrontar o indivíduo com seus pensamentos mais complexos. Dessa forma, a arte surrealista era muito mais que a beleza visual. Ela visava liberar o homem de tudo o que era racionalmente entendido e levá-lo a mundos fantásticos. Por isso uma das técnicas muito usada no surrealismo, é o automatismo que é usado como espelho interior: um reflexo do inconsciente. Alguns até, não viam o automatismo como técnica e sim como um Movimento Artístico.
O surrealismo é um estilo muito conhecido e pouco “compreendido”. É uma arte ilógica, sem sentido aparente e cheia de motivos fantásticos. Ela tenta capturar o mundo dos sonhos e do inconsciente. Por isso é também considerada como arte dos sonhos. Este estilo que teve suas origens do mundo literário trouxe uma revolução para outros campos das artes, em especial o das artes plásticas. Grandes nomes das artes visuais como Salavador Dali, Joan Miró, René Magritte, Vladimir Kush, Frida Kahlo, Pablo Picasso, e brasileiros como a grande escultora Maria Martins, Ismael Nery, Cícero Dias e tantos outros, revelaram para o mundo, um universo infinito de maravilhas e encantamentos, pautados nos mais variados e diferentes estilos proposto pelo Movimento Surrealista.
Além da força desse Movimento, seguimos na atualidade com artistas que se destacam neste gênero, por suas características peculiares e abrangência em temáticas, estéticas, linguagens e conceitos que trânsitam entre o presente, passado e futuro, tendo seus nomes e suas obras já registrados no hall da fama das artes. Dentre estes maravilhosos artistas, um em especial que a cada ano vem se destacando e ganhando repercussão como um dos maiores nomes e representantes da arte visual surrealista no Brasil. Trata-se do artista visual Evandro Schiavone, natural da cidade de Salto (S-P), que tem formação acadêmica em designer, porém afirmou nunca ter exercido a profissão, pois desde sua infância já havia se envolvido com as artes por afinidade, fazendo cursos de pintura e desenho para aprimoramento e já no final de sua adolescência, já trabalhava profissionalmente com arte visual tendo seu ateliê aberto aos 17 anos de idade, ministrando pequenas oficinas de pintura e desenho.
Evandro Schiavone nos contou que seu interesse pelas artes visuais veio desde cedo, porém foi como se fosse uma espécie de chamado: uma intuição, por não ter escolhido isso e sim ter nascido com vontade de trabalhar e viver arte. Já a questão do surrealismo, Evandro diz ter sido mais uma descoberta que ele fez do que propriamente um aprendizado sobre o gênero, e que quando começou suas primeiras criações, já havia um interesse nas provocações estéticas e poéticas: em uma natureza morta, por exemplo, com desenhos de vasos, já me dava vontade de virar o vaso de plantas de ponta-cabeça, deixar ele alado e ficar pensando em como seria psicologicamente a personalidade deste objeto se ele fosse vivo. Transformar ele! Tirar ele da condição de objeto e colocá-lo como protagonista, como se fosse um personagem mais complexo, explica Evandro Schiavone.
O artista afirma já ter essas idéias sem conhecer o Movimento Surrealista. Sem ter sido apresentado a ele, e quando veio a conhecer o que era surrealismo, e que já havia um pensamento neste sentido, ele se descobriu e se identificou: o surrealismo tem esta particularidade atemporal. O que o surrealismo é hoje para a arte contemporânea, é o que ele sempre foi junto aos outros Movimentos da história. Você tem o Renascimento, por exemplo, em 1.500 com Leonardo da Vinci, com todas as descobertas, as fundamentações anatômicas, proporção de harmonia, etc. Paralelo a isso, tem cabeças feitas de legumes, bustos a partir de livros arsen buldos… Então, a sensação de que o pensamento surrealista corre junto à todos os Movimentos Artísticos fundamentados, explica ele.
As obras desse maravilhoso artista impressionam não só pela beleza e pela criatividade como também por sua sofisticação (uma das fortes características estéticas das muitas obras surrealistas). Utiliza o óleo sobre tela, não possuindo textura de tinta, deixando suas obras com aspecto liso, o que dá a sua arte o tom do requinte. Evandro Schiavone acha que o fato do seu zelo, cuidado no acabamento e dedicação aos pequenos detalhes, é que traz esta sofisticação para suas obras.
Obras de arte produzidas com uma paleta de cores quentes, suaves e vibrantes, com efeitos luminosos, reflexos fortes, claro e escuro com efeitos de representação de texturas ora brilhante e lisa, ora áspera. Tudo com muita cor! Com vibração máxima! Tem a ver com as informações e ataques visuais que recebemos das ruas… dos shoppings e outros locais de apelos visuais e grande circulação, afirma o artista.
A estética limpa e lisa da pintura surrealista se aproxima muito com a estética das animações do cinema: um quadro meu se parece mais com um quadro do Toy Story do que com um quadro do Rembrandt, por exemplo, revela Evandro.
O artista traz para suas obras elementos do passado junto com o presente, como objetos, cenários urbanos, paisagísticos e artísticos. Em suas obras podemos ver também o contraste entre elementos estéticos pertencentes a tempos diferentes como por exemplo, um samartphone e um gramofone na mesma tela, dialogando entre si. Este cenário visual e sentimental proporcionado pela obra, tanto emociona uma geração nostálgica como apresenta algo que outra geração não teve contato. E, o resultado emocional e afetivo, sentido e entendido pelo público, é o que este artista mais quer e consegue atingir com sua arte.
Dentre as variações de objetos presentes em suas obras podemos notar forte presença de instrumentos musicais (uma de suas paixões pessoais): acho lindo as formas dos instrumentos e por isso, esses são também uma grande fonte de inspiração para minhas criações, revela o artista. Outra característica marcante em suas obras é a presença de elementos circenses. Segundo o artista, o Circo fez parte de sua memória de infância e por contas destas memórias, os elementos que integram este mundo, sua magia lúdica, as fantasias trazidas, a arte circense em si, também o inspiram muito.
No que diz respeito sobre compor suas obras, Evandro Schiavone afirma que pinta de memória: também fiz escola de pintura de paisagem e esta me deu o recurso de pôr elementos às vezes contraditórios, fora de contexto e conseguindo englobar tudo dentro de uma mesma luz, de um mesmo contraste e ser convincente nos efeitos à distância. Posso dizer que a pintura de paisagem me deu o domínio de pintar de memória, afirmou ele.
E nesta memória, encontram-se não só seus sonhos e realidades conforme sua interpretação e visão, como também seus sentimentos por nosso país, cultura, natureza e povo. Nosso jeito de ser, nossa alegria, nosso céu, nosso sol, nosso clima tropical e todas outras características naturais e culturais, que o estimulam e o induz a ambicionar cada vez mais a traduzir em sua arte, toda esta atmosfera tropical que vivemos. E esta influência é trazida para suas telas com muita liberdade de idéias, uso das cores e luminosidade, proporcionando vida e alegria que nos contagia de forma intimista, informal e sensorial!
Devido esta atmosfera munida de muito talento e fantasia, as obras desse artista começaram a viajar por diversas partes do mundo, como o Carrossel do Louvre, rendendo-lhe o prêmio da Associação de Belas Artes de Paris, pela belíssima Obra O ARCAICO. Também esteve na Art Mar por dois anos consecutivos (Exposição Marítima). Em sua cidade natal, uma de suas obras vira patrimônio tornando-se pública, e com exposição permanente no Memorial do Tietê, um dos grandes pontos turísticos da cidade, além de muitas outras Exposições coletivas e individuais. E a partir do dia 1 de Outubro, Evandro Schiavone inaugura mais uma Exposição individual, com trabalhos inéditos, no Espaço De Arte do Alphaville Tênis Clube, em Alphaville (S-P), Exposição esta que já passou por São Joaquim (S-C) e continuará percorrendo outros Estados e cidades, para que todos possam ter o privilégio em poder conhecer e contemplar a arte e as obras surrealistas de um dos nossos maiores artistas visuais!
Viva Cultura!: Evandro, parabéns pelo belíssimo trabalho e muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em podermos divulgar sua arte. Sucesso!
Evandro Schiavone: Obrigada a Viva Cultura pela entrevista e por divulgar e fomentar as artes visuais e a cultura brasileira.
SERVIÇOS:
Exposição Evandro Schiavone no Espaço de Arte do Alphaville Tênis Clube (ATC) de 1/10 a 30/10 2019.
Alameda Mamoré, 82, Alphaville.
De segunda a sexta-feira dás 09:00 às 21:00
Sábados e Domingos das 09:00 às 19:00
Entrada franca.
Escritório de Representação: AR Escritório de Arte
NOTA: Todas as imagens gentilmente cedidas pelo artista.