EDITORIAL
Por Jaqueline Stori – 28/01/2023
“É inútil e entediante representar o que existe, porque nada do que existe me satisfaz. Eu prefiro os monstros da minha fantasia ao trivial.
– Charles Baudelaire –
A frase declarada acima, por Charles Baudelaire, poeta, crítico de arte francês e um dos precursores dos diversos conceitos de fotografia artística, expressa ou define bem o que vem a ser esta modalidade artística oriunda da fotografia, que iniciou na era vitoriana no início do século XIX, sendo abraçada precisamente do meado ao final deste século. Até então a fotografia era considerada uma mera captura mecânica da realidade e não possuía nenhum resquício artístico.
Após este período as sensibilidades e olhares artísticos rumaram suas fantasias também para o campo da fotografia com um forte caráter subjetivo, sem a obrigação de retratar apenas a realidade. A partir desta “descoberta” e dentro deste contexto, destaca-se o aspecto mais importante de uma fotografia deste estilo que é o de “expressar a arte”. Partindo deste princípio, onde todos os tipos de arte contam com divisões que dão margem à diferentes interpretações, a fotografia artística ou fine art, busca suas representações conceituais e (ou) abstratas de modo intuitivo, explorando a percepção e apresentando um processo artístico pautado em emoções, idéias, pesquisas e criatividade.
Existem discordâncias entre muitos críticos, historiadores e pesquisadores de arte, em relação a fotografia artística e fine art no que diz respeito sobre serem a mesma coisa. Alguns afirmam que apesar de similares há uma diferença tênue entre as duas modalidades uma vez que a fotografia artística demanda muito mais pesquisas, referências históricas e estudos conceituais que casam com a intuição e imaginação do artista, enquanto que a fine art pode ser então definida como um subgênero da fotografia artística por ela contar mais com a intuição do que com qualquer outro elemento ou fator.
O fato é que a fotografia artística ou (e) fine art, se consolidou na arte visual e hoje tem sua característica importância e papel garantidos no universo das artes e em todas as culturas do mundo, com suas potentes estéticas diferenciadas e com suas temáticas diversificadas e plurais.
E é dentro deste contexto que apresentamos um dos grandes nomes da fotografia artística brasileira: o artista visual Daniel Mattar, nascido na cidade do Rio de Janeiro, residindo atualmente na cidade de Lisboa (Portugal), onde tem seu ateliê e sua galeria, a “Galeria Brisa”, em parceria com sua mulher Bebel Moraes.
Daniel Mattar nos contou que seu pai era escultor e muito amigo de vários artistas, que eles freqüentavam sua casa e por tal razão e influência sempre teve muita absorção das artes. Crescendo neste ambiente procurou seguir no universo das artes. Tem formação acadêmica e profissional em design e artes, pela PUC – Rio, onde também realizou vários cursos paralelos de fotografia. Além dos cursos vinculados à fotografia, cursou pintura e desenho para aprofundar-se nas artes fotográficas. Trabalhou com fotografia documental, de moda, comercial, retratos, capas de disco, porém, sempre gostando muito das artes plásticas em especial a pintura.
Após concluir a faculdade mudou-se para Tóquio (Japão), aos 20 anos de idade, morando lá por um período de um ano, onde afirma ter sido um período de virada em sua vida: uma virada de consciência, de maturidade e de desenvolvimento plástico visual em todos os sentidos, após contato com a rica cultura japonesa. Em Tóquio, o artista realizou um intenso trabalho fotográfico pelas ruas, que considerou ser um trabalho investigativo, principalmente. Após um ano retorna ao Brasil com nova bagagem e olhar diferenciado somado às suas experiências e vivências da cultura oriental, e realiza uma Exposição sobre o trabalho que lá realizou. A partir daí, considera o início sólido de sua carreira e começa novos estudos e experimentos: quando parti para minhas pesquisas notei que a cada estudo e experimentação, abriam-se outras pesquisas, outros experimentos, outros estudos, outros conceitos e assim sucessivamente. Uma coisa puxando outra, afirmou ele.
Quando mudou-se para Lisboa (há cinco anos), o artista que já vinha seguindo pesquisas e experimentos, mergulhou profundamente em uma pesquisa de investigação da união da fotografia com a pintura. Mais especificamente na junção em como trazer a pintura para a fotografia. Esta pesquisa investigativa conduziu Daniel Mattar a criar organicamente uma técnica que resulta na tridimensionalidade e volume. A técnica basicamente consiste em trabalhar numa área (superfície) pequena de 4 cm à 10 cm (no máximo), onde nestas superfícies (que podem ser cartelas de cor, jornais, revistas, impressos entre outros) são colocados gotas de tinta, tinta óleo espatulada (por esta permitir criar tons sobre tons além de possuir característicos brilho e textura) e pigmentos minerais (pós coloridos a base de tinta), que depois são fotografadas com a lente macro da câmera e impressas em grande escala que dão a impressão de imagens tridimensionais. Simples assim? Claro que não!
Por traz deste minimizado resumo sobre a técnica desenvolvida pelo artista, além de suas investigações, estudos e experimentos, há todo um processo minucioso envolvendo várias etapas e elementos como secagem da tinta, luz, tempo, entre outros. Sim, tempo. Não o tempo que ele leva para produzir uma obra propriamente, mas principalmente o tempo que o tempo lhe dispõe para que ele tenha o efeito estético visual, material e conceitual desejado.
Daniel Mattar contou que nestes últimos 5 anos seu trabalho é baseado no gestual da matéria tinta ou na matéria pigmento que é a base da tinta. Em uma pequena superfície ele aplica gotas de tinta ou pigmentos, onde a tinta tem de estar úmida, pois ela ainda úmida responde à luz de forma peculiar alcançando assim a estética visual pretendida. Na “Série Gotas”, por exemplo, ele usa tinta acrílica de parede por esta causar uma perfeita tensão na borda (no corpo dela), e que devido a este efeito, tem em torno de 1minuto/1minuto e meio para fotografá-la ainda úmida, pois ao secar já não mais responde à luz, deixando de responder ao efeito desejado: através da luz e da sombra criei um caminho de poder materializar o que eu quero. Com este estudo de investigação dos vários e diferentes caminhos das tintas, consegui desenvolver meu processo de construir minha forma de pintar e levar minha pintura para o meu meio fotográfico, explicou o artista.
Sua forma genuína de pintar junto à sua metodologia fotográfica, pesquisas, estudos investigativos, conhecimento técnico, intuição e criatividade, deu início à produção de sua primeira Série: a “Microcosmos”, oriunda deste processo onde o micro (pequena superfície) transforma-se em macro (impressos de grande escala), dando a impressão da imagem em 3D.
Tinta de parede, acrílica, tinta óleo, látex, pigmentos minerais e sintéticos, cartelas de cor, jornais, revistas e outros tipos de impresso. O fato é que as obras de Daniel Mattar são ímpares não só no que se refere a estética, conceito e técnica, mas também em sua essência. Suas obras oferecem um abstracionismo singular que estabelecem diálogos visuais e sensoriais com diferentes planos: de longe, de perto e pela tela dos computadores e celulares. São obras impactantes que nos prendem à sensação das tintas saltarem das telas com toda força como estivessem tomando seu espaço físico externo por direito. No entanto, ao vivo e de perto, as obras nos levam para outro caminho visual e sensorial. Vemos formas frágeis e vulneráveis contrapondo-se à sua própria vociferação, volume e forma, dando a sensação de reter sua força preferindo a introspecção.
Estética volumosa, sofisticada, bem colorida (em sua maioria) e inusitada em formas e traços, que vistos através de telas de celulares (e) ou computadores, TVs e ao vivo, ganham diferentes aspectos de materialidade num mesmo espaço, que parece ser imagens criadas digitalmente, e no entanto, são criadas por um método matérico analógico. A arte de Daniel Mattar traz em sua composição um conjunto de elementos estéticos que diferem-se também pelos recursos de luz e sombra (que segundo ele são agentes determinantes no resultado de suas criações), trabalhados em consonância harmônica com suas técnicas fotográficas, paleta de cores, plasticidade de suas pinturas e feeling criativo.
A qualidade própria da arte de Daniel Mattar caminha no cenário da arte visual contemporânea nacional e internacional desde a década de 90, e a cada ano vai destacando-se cada vez mais neste cenário, devido sua inovação plástica e técnicas aprimoradas. As obras desse grande artista já fizeram parte de várias Exposições Coletivas como as Exposições: a “III Bienal de Santos” (SP) em 1991; “Nippon” no Centro Cultural Banco Do Brasil (RJ) em 2008; Arte Core com a Série “Simulacro”, no Museu De Arte Moderna (RJ), em 2016; “Galaxie”. Espace _ L, Genebra (Suissa), em 2019; “Deji Art Museum” Nanjing (China), em 2021; “Terra Estrangeira” na Tryzy Galeria, Lisboa (Portugal), em 2021; “Entre a Água e a Terra, na Brisa Galeria, Lisboa (Portugal), em 2021; “What´s in a Tale”, na Tale Art Gallery, Vierzeldorp (Bélgica), em 2022, entre tantas outras coletivas.
Já nas individuais o artista também possui expressivas realizações de exposições no Brasil e no mundo, sendo algumas delas: “TOKYO”, Espaço Mario Quintana, no Rio Grande do Sul, em 1991; “Inventário #01”, no Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, no Rio de Janeiro, em 1996; “Janela Glacial”, no Shopping Leblon (RJ), em 2012; “Pigmento”, na Brisa Galeria, Lisboa (Portugal), em 2018; “Vista Aérea”, na Plataforma Digital Artsy, em 2020; na Art Rio, artista solo representado pela Galeria Márcia Barroso do Amaral, em 2021; na SP Arte, artista solo representado pela Galeria Márcia Barroso do Amaral , em 2022, entre tantas outras individuais.
Arte diferenciada não pela singularidade em si (pois toda obra carrega a natureza de seu criador), mas pela sua dimensão em todos os aspectos. Cores fortes e vibrantes em diferentes texturas e formas abstratas, realçadas pelo magnetismo da luz e da sombra, que explodem em grandiosas composições tridimensionais com o mesmo poder de auto-implosão, culminando em controversas sensações, emoções e interpretações, dentro de um ambiente subjetivamente antagônico, mas que se completam por serem várias em uma só.
É assim que a arte deste maravilhoso artista vai expressando sua abstrata iconografia: buscando a junção da imaterialidade e da materialidade de sua satisfação pessoal, com a ousadia em representar suas fantasias longe da trivialidade entediante de reproduzir o que já existe, como disse o grandioso Baudelaire!
Viva Cultura!: Daniel, muito obrigada por aceitar nosso convite para a realização desta maravilhosa entrevista sobre sua arte.
Daniel Mattar: Obrigada a Viva Cultura pelo convite, e por ser divulgadora e fomentadora da arte visual nacional.
SERVIÇO:
Para mais informações sobre o artista, acesse o site:
Informe: todas as imagens gentilmente cedidas pelo artista visual Daniel Mattar.
PRESTIGIE A ARTE BRASILEIRA!