Por Jaqueline Stori – 31/05/2019
Pop Art: Movimento interessado na desconstrução dos ícones reconhecidos pela sociedade industrial.
Pop Art: abreviatura em inglês de Arte Popular.
Com essas duas breves definições bem simplificadas, podemos afirmar que a Pop Art é um gênero que nasceu do conceito que objetiva abraçar e desconstruir imagens pertencentes às culturas de massa, a chamada cultura pop, feita para as grandes multidões. O termo pop art foi utilizado pela primeira vez na década de 50, pelo crítico inglês Lawrence Alloway, para denominar a arte popular que estava sendo criada em peças publicitárias, nos cartões e nas revistas ilustradas. Surgia nos EUA e na Inglaterra (pioneiros do movimento) na década de 50. Porém, foi na década de 60 que a Pop Art se converte em estilo característico.
É importante salientar que a Pop Art (Arte Poplar), nada tem a ver com uma arte produzida pelas camadas populares ou com noções folcloristas da arte. Enquanto movimento, ela abraça as diversas manifestações da cultura de massa, da cultura criada e feita para as multidões e produzidas pelos grandes veículos de comunicação.
O movimento “Pop Art” apareceu em um momento histórico marcado pelo reerguimento das grandes sociedades industriais da época, afetadas pela Segunda Guerra Mundial. Desta forma adotou os grandes centros urbanos norte-americanos e britânicos como o ambiente para que seus primeiros representantes tomassem de inspiração para criar suas obras. A crítica irônica do bombardeamento da sociedade pelos objetos de consumo era característica predominante do duplo movimento da Pop Art que por um lado expunha traços de uma sociedade marcada pela industrialização, pela repetição e pela criação de ícones instantâneos, e por outro questionava os limites do fazer artístico ao evitar um pensamento autonomista e abranger os fenômenos de seu tempo para então conceber suas criações próprias.
A Pop Art na década de 60 inspirava-se em imagens e personalidades da cultura de massas, buscando ironizar a vida cotidiana materialista e consumista das pessoas. Por isto, esta arte operava com signos estéticos massificados da publicidade, dos cartões, dos quadrinhos, das ilustrações etc. Símbolos icônicos do consumo de massas como garrafas de coca-cola, automóveis modernos, aparelhos eletrônicos, produtos enlatados e símbolos de consumo da fantasia humana como artistas da indústria cinematográfica, também conceituava o movimento na época, que dentro desse contexto de desconstrução de símbolos de produtos do consumismo, encontrava-se preso a um paradoxo inevitável: ao mesmo tempo em que produzia crítica, a Pop Art se apoiava e necessitava dos objetos de consumo nas quais se inspirava, produzindo assim o aumento do consumo, muitas das vezes. Muito do que era considerado brega por causa do movimento, virou moda. Acabou que a Pop Art proporcionou a transformação do que era considerado vulgar (dentro daquele contexto) em refinado, e aproximou a arte de massas, com sua utilização de objetos próprios e populares.
A Pop Art tinha como principal técnica a colagem que era encontrada na maioria das obras, composta juntamente com cores saturadas e contrastantes e desenhos mais simples. Obras com formas nitidamente delineadas com muitas cores fortes, fluorescentes e algum brilho e a supressão do espaço profundo, também caracterizam este gênero de arte.
Gênero que se manteve vivo na pós-modernidade e se mantêm vivíssimo na contemporâneidade, a Pop Art continua influenciando publicitários, desiger de interiores, designer gráficos, moda, artistas e estilo de vida. Muitos são os profissionais dos mais variados setores que se inspiram ou sofrem influência direta e (ou) indireta. Vemos a Pop Art estampada em várias roupas, em objetos decorativos, em mobiliários, em layouts etc. Mas, é no cenário artístico que a Pop Art se destaca ganhando merecido reconhecimento devido sua relevância conceitual e estética.
Já falamos que tudo com o decorrer do tempo tende a avançar para modificações, transformações, adaptações etc. E neste decorrer entre a Era Moderna e Contemporânea, que a Pop Art no mundo, mais precisamente no Brasil, no ano de 2009, ganhou um novo estilo dentro da Pop Art: a Pop Art Tucuju. O termo Tucuju, de etnia indígena, é usado para caracterizar a tribo dos tucujus que habitavam a margem esquerda da Foz do Rio Amazonas, onde atualmente localiza-se a cidade Macapá, Estado do Amapá. Por isso o termo de naturalidade para quem nasceu nesta região: Nasci na Cidade de Macapá, sou Tucuju!
País de grande riqueza cultural, étnica e plural, com fauna e flora abundantes, o Brasil através de seu povo, oferece ao mundo uma arte específica, que somente aqui pode ser realizada, pois sua inspiração e influência estão nestas terras, nestas águas, em nossa miscigenação, em nosso folclore, nossos hábitos e costumes regionais.
A Pop Art Tucuju é inspirada nos privilégios naturais da Amazônia e na ânsia do reconhecimento e valorização cultural, bem como na identidade do povo amapaense. E no meio deste povo de preponderante etnia indígena, o artista visual Jeriel de Souza dos Santos: um dos mais conceituados artistas contemporâneos amapaenses e do Brasil.
O pintor, desenhista, gravurista e ilustrador, conta que na sua infância ouviu muitas histórias contadas por sua mãe, que era mulher simples e ribeirinha.Tais histórias exerceram-lhe certo fascínio, levando-o à forte influência em seus primeiros rabiscos no universo da expressão da força da Floresta Amazônica e do povo caboclo. Iniciou sua carreira aos 15 anos de idade, ingressando no Curso Livre de Artes Cândido Portinari, no ano de 1994 e concluindo este em 1996. Em 2012, gradua-se no Curso de Artes Visuais pela Universidade Federal do Amapá (UNIFAP) e atualmente atua como professor pela mesma. Desde sua fase universitária, Jeriel passou a desenvolver novos estudos e experimentações em suas produções artísticas: experimentos em sua pintura e técnica de composição de cores, que levam em conta o clima da Amazônia. Acho necessário que todo “bom artista” esteja presente em seu tempo e espaço, afirma ele.
Jeriel conta que a afinidade com a Pop Art vem de sua identificação com as cores sobretudo e com o figurativo expresso nesse gênero. Porém, fundamentou-se também em outros gêneros artísticos como o cubismo para o uso das figuras cortadas pelas linhas traçadas; pelo fauvismo devido a simplificação das formas e pelo orfismo, que dá um caráter mais espiritual aos códigos das obras. Assim, com estas principais influências de gênero junto aos sábios ensinamentos de sua mãe, o artista criou uma identidade pessoal para seu trabalho. Com estilo próprio, com tendência contemporânea conceituada e contextualizada na Pop Art, Jeriel, fundamenta brilhantemente suas obras na brasilidade regional de seu Estado trazendo à tona uma consciência a respeito da memória, do conhecimento e da percepção, sem romper com a estética deste gênero artístico.
Criador do estilo Pop Art Tucuju, Jeriel apresenta para o público e para todo o mundo, um estilo artístico expresso nas formas e cores de uma estética surpreendente, voltada para a arte regional rica em autenticidade, engajada com posicionamento e definição de tempo e espaço, com referências multiculturais do povo Tucuju, acompanhada de uma poética visual contemporânea que preserva os valores, a memória artística e cultural da história do Amapá, nos fazendo enveredar pelo imaginário da Amazônia brasileira.
Através do olhar desse artista, encontramos em suas obras a força do Batuque, a dança do Marabaixo, a vida do ribeirinho amazonida, do caboclo do norte, dos rios, dos Igarapés, juntamente com a Fortaleza de São José de Macapá e o Monumento Zero do Equador. Sua ousadia em criar um estilo de arte singular permeada de originalidade e brasilidade e a liberdade em expressar suas referências e temáticas regionais do seu povo, levou o artista à realização da Série Figurações, resultando em uma exposição com 20 obras inéditas, lançada no ano de 2013, mas que no ano de 2015 teve seu nome modificado devido ao fato de Jeriel (em processo de criação de mais obras do gênero), sentir que era necessário tirar o nome Figurações e usar o identitário Tucuju, permanecendo até hoje como Pop Art Tucuju.
A Série (que no início de sua criação foi denominada por Figurações e atualmente é Pop Art Tucuju), assim como todos seus trabalhos e como característica marcante do gênero Pop Art, tem uma paleta de cores vibrantes e eletrizantes. Uma Série de telas onde homem e natureza se conectam harmonicamente e tem seus personagens representados em uma linguagem simplificada, já que vem do cotidiano, cenário ideal para essa magnífica composição policromática. O Rio Amazonas com seus ribeirinhos mostram a força de trabalho do povo da floresta: a extração do açaí, o ir e vir dos estivadores e agricultores no Igarapé das Mulheres, juntamente com as docas, a Fortaleza de São José de Macapá, e o bairro do Laguinho que são marcados por grandes lutas de um povo guerreiro de índios, negros e caboclos que têm tradição cultural, identidade e a força de uma gente resistente às diversas dificuldades sociais pelas quais vem atravessando há décadas.
Um estilo próprio inserido em um gênero artístico popular, mundialmente conhecido e muito apreciado não poderia resultar em outra coisa, se não o sucesso de público e crítica: A Exposição Pop Art Tucuju lançada em 2013, rodou por diversas cidades do Estado do Amazonas, no Rio de Janeiro, intercaladas em exposições individuais e coletivas e duas coletivas internacionais nas cidades de Paris (França) e Lisboa (Portugal).
Jeriel, afirma que a Série Pop Art Tucuju, foi o ápice de sua carreira. Foi ela quem mais abriu portas e lhe rendeu visibilidade perante público, mercado e crítica.
Sem dúvida seria difícil não concordar com tal constatação. Vendo e conhecendo o trabalho deste artista, não poderíamos deixar de atribuir a solidez deste sucesso, à união de ricos elementos recheados de valores culturais, étnicos e folclóricos, pautados em nossa Brasilidade. Criações produzidas com maestria, onde o uso de cores, traços, narrativas e temáticas, não só nos servem ao deslumbre do olhar como ao orgulho de sermos um povo mestiço, rico em patrimônio material e imaterial, em pluralidade e tantas outras coisas que nos fazem não sermos melhores, mas sim diferentes e grandiosos!
Pelas telas desse talentosíssimo artista Tucuju, um gigante chamado Brasil através da Pop Art!
Viva Cultura: Jeriel, muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em podermos divulgar sua arte tão grandiosa!
Jeriel: Obrigada a Viva Cultura por divulgar e fomentar a arte e a cultura Brasileira.
SERVIÇOS: Tudo sobre a obra desse artista em:
www.minhaartejeriel.blogspot.com
NOTA: Todas as imagens cedidas pelo artista em questão.