Por Jaqueline Stori – 20/08/2019
Por muito tempo a colagem foi tida apenas como uma brincadeira de criança ou um passatempo divertido para adultos. A existência da arte e suas mais variadas formas e conceitos até um certo momento da história da arte mundial, não vislumbrava tão pouco concedia espaço para dar significado e valor aos diversos “passatempos ou hobys” realizados principalmente com recorte de papéis e outras matérias primas que podem ser usadas na arte colagem. No Máximo uma manifestação artística popular desprovida de fundamentação crítica. Como técnica, a colagem tem surgimento datado da história antiga. Porém, seu valor artístico passou a ser reconhecido no início do século XX. Sabemos que desde o advento do papel, inúmeros artistas incorporaram o papel em muitas de suas obras. Mas, foi através do cubismo e mais especificamente com os experimentos cubistas de Pablo Picaso e Georges Braques, que a colagem alcançou status de arte.
O termo originário francês “coller” descreve trabalhos compostos por fragmentos colados de papéis, jornais, tecidos, fotografias e outras variações de elementos. Após a segunda Guerra Mundial, muitos artistas das vanguardas dadaísta e surrealista, continuaram com produções de colagens. Outros grandes nomes também, como Jean Arp e Henri Matisse, vendo no movimento o potencial do abstracionismo, começaram a utilizar pedaços de papéis colados na composição de suas obras. Sucedendo os anos da Segunda Guerra Mundial, a colagem se consolidou ainda mais como forma de expressão, principalmente com o surgimento do gênero Pop Art, tendo como pioneiro neste diálogo estabelecido entre arte e cultura pop, o artista Richard Hamilton que ficou famoso por suas colagens irônicas, utilizando pedaços de revista e propaganda.
A expressividade conseguida com a colagem é única e distante de todas as outras texturas. Com isso, muitos artistas viram na produção da arte colagem a realização de uma produção em grande quantidade de produtos diferentes entre si, que garantia e garante até hoje, uma pluralidade artística muito rica e profunda. Assim os anos se passaram e a arte colagem foi se expandindo cada vez mais no cenário artístico visual, até chegar aos olhos e à aceitação das academias de arte e do grande público. Dentro do contexto contemporâneo, obras de arte colagem engajadas em temáticas diversas e relevantes para a cultura mundial, através do talento e da criatividade de milhares de artistas plásticos em todo o mundo. Aqui no Brasil, artistas visuais como Teresa D’amico (uma das primeiras artistas a enveredar pela arte colagem), Carlos Scliar e Jorge de Lima, são nomes de peso na história da colagem brasileira. Dando continuidade a este segmento, vários talentos renomados e reconhecidos da arte colagem brasileira, como André Bergamin (R-S), Domitila de Paulo (M-G), Lygia Clark (M-G), Athos Bulcão (R-J), Katherine Sholz de Camargo (S-P) entre tantos outros.
E, entre tantos esses outros, um dos nomes que vem se destacando no cenário das artes visuais no Brasil e no mundo. Estamos falando do artista plástico Paulo Lionetti, natural de São Paulo, que antes de nos contar um pouco sobre seu trabalho, fez questão de enfatizar a importância da arte colagem não só como arte em si, mas também como poderosa ferramenta no auxílio à preservação ambiental. Ou seja: a que reutiliza matéria prima que seria descartada no meio ambiente, para compor um lindo espetáculo visual em formato de obra de arte. Essa é uma das grandes satisfações de Paulo Lionetti em trabalhar com arte colagem! Além de amar e apreciar as inúmeras variações desse estilo, a de saber que a colagem é uma grande contribuinte no combate a poluição planetária.
O artista contou ser auto-ditada e desde cedo, por volta dos 4 anos de idade (segundo sua mãe), já gostava de desenhar. Sua irmã mais velha que já frequentava o colégio, foi quem lhe apresentou o lápis de cor, os cadernos, as folhas, e isso foi lhe envolvendo, passando a ser sua brincadeira preferida que era a de desenhar. Com o passar dos anos, fez vários curso de aprimoramento entre eles o da Associação Paulista de Belas Artes: eu já fazia algumas colagens, porém, em paralelo a isso, sempre tive preocupação em saber para onde ia tanto lixo. Pesquisando sobre artistas, vi que muitos deles utilizavam matérias recicláveis em seus trabalhos. Contudo, após estas pesquisas fui me envolvendo cada vez mais, e hoje tenho minha produção artística em quase tudo reciclável, diz Paulo Lionetti.
A arte de Paulo foi denominada por ele mesmo, em arte figurativa surreal e arte ficção. Pelas suas obras, podemos constatar de fato que sua arte trânsita entre estas vertentes e que são ligadas uma na outra, onde fogem à realidade. Apreciador do surrealismo, o artista afirma que com a colagem fica mais fácil de chegar no objetivo de sua arte que é a sinergia entre ambas em mostrar coisas fora da realidade: Na arte figurativa surreal eu uso sempre um elemento central, podendo ser uma pessoa, um objeto, um animal ou outro elemento qualquer que tenha a ver com o que estou criando, e construo este elemento com papéis coloridos, no lugar das tintas, e o restante da composição eu uso imagens já prontas, algumas delas combinando ou não com a imagem central. Na minha arte ficção, eu uso imagens já prontas, ou seja, eu não construo com papéis coloridos: eu já uso imagens prontas e vou formando uma composição, detalha o artista.
Os trabalhos abstratos de Paulo Lionetti, vem de uma época que segundo ele, ainda não produzia muita arte colagem. Mas, já pintava o figurativo, principalmente os temas eqüestres, um de seus preferidos. Paulo diz sempre ter gostado do diálogo entre o surreal, a ficção e o abstrato. Para ele, estes três gêneros estão muito ligados e andam de mãos dadas contra a realidade. Por isso a presença deles em suas obras, dialogando harmonicamente entre si. O artista conta que fazia o abstrato informal, depois resolveu fazer a pintura pronta usando um pouco de colagem e que mais recentemente está fazendo umas experiências bem legais, que é uma obra abstrata como fundo, colocando uma figurativa surreal.
Uma das características do trabalho de Paulo Lionetti, é a colocação de palavras, letras, números e frases soltas em suas obras. O artista, diz gostar de brincar com elementos da escrita: as vezes coloco umas palavras ou fina frase cortada, espalhando ela por toda obra. Como se fosse uma brincadeira de caça palavras, explica o artista.
Sobre sua arte postal, Paulo Lionetti contou que participando de uma Exposição fora de São Paulo, com um trabalho de colagem ficção, num dia de visita guiada para estrangeiros, houve um interesse especial por parte de um deles sobre sua obra, onde este o convidou para participar de uma Exposição de arte postal. Tendo aceito o convite, Paulo enviou seu primeiro trabalho de arte postal, onde através desse foi fazendo mais contatos e por conseqüência mais trabalhos de arte postal. O artista diz gostar também de trabalhar com esta arte, e que este gênero artístico, promove um intercâmbio muito bom entre os artistas, abrindo campo para troca de experiências, conhecimentos e união entre artistas deste estilo. Além disso, Paulo reafirma a importância da internet não só para todos os segmentos, como principalmente para a arte postal, pois através dela este o gênero se expandiu bastante: comecei a partir desse convite que por acaso me proporcionou interesse em realizar este tipo de arte e também de fazer intercâmbio com vários artistas de diversos lugares do mundo. Hoje, tem arte postal minha, em mais de vinte e cinco países e Estados brasileiros. Gosto muito de fazer este tipo de trabalho! Estou sempre participando de alguma coisa que envolve a arte colagem, afirma o artista.
Mas, não é somente sua arte postal, que circula no mundo das Exposições. Suas obras de arte colagem, oriundas de sua criatividade e talento, também se originam de muitos anos de pesquisas e exploração de várias técnicas, fazendo com que estas tenham características peculiares, estética e temática com uso de elementos e gêneros diferentes e similares, que dialogam e se harmonizam entre si, dentro de uma concepção artística que permeia o encantamento do público, despertando-lhes sensações e pensamentos diversos.
Grandes obras que somente aparentam serem fáceis de fazer, quando se interpreta suas produções apenas como pegar a tesoura, cortar e colar. Se fosse isso, sem dúvida todos seríamos artistas. O processo da arte colagem é bem difícil e complexo. É necessário selecionar aquilo que entra na obra e como cada um dos elementos selecionados se articula com outro criando um discurso. Toda essa caminhada demanda raciocínio, prática e muita sensibilidade. E é por tudo isso que a arte de Paulo Lionetti se destaca e se consagra cada vez mais, percorrendo entre diversas Exposições coletivas e individuais, tanto no Brasil como no exterior. Seguindo com a trajetória da arte colagem desse talentoso artista visual, em Outubro, o público poderá prestigiar algumas de suas obras no 1° Salão De Belas Artes Clodomiro Amazonas, na Pinanoteca Andersom Fabiano, em Taubaté – São Paulo, e conferir de perto este belíssimo trabalho envolvente, cheio de encantos, que nos convida a passear pelo universo figurativo, abstrato e surreal, que tanto alimenta nossa imaginação, fantasias e devaneios, com sentimentos e reflexões acerca do tudo e do nada que somos, do que não somos e de tudo que poderíamos viver ou não.
Viva Cultura: Paulo, muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em podermos divulgar seu trabalho.
Paulo Lionetti: Obrigada a Viva Cultura, pelo espaço e por ser um veiculo de comunicação divulgadora da arte e da cultura brasileira.
NOTA: Imagens gentilmente cedidas pelo artista.