Por Jaqueline Stori – 02/05/2018
A cada ano que passa mesmo com algumas dificuldades econômicas, políticas, culturais e sociais, o mercado da arte visual vem se expandido e se consolidando cada vez mais nos países em desenvolvimento. Aqui no Brasil, depois de alguns anos de um modesto e promissor bom fluxo de consumo das artes visuais (comparado à alguns países que já vivenciam as artes visuais em seu dia a dia e as consomem bastante), passamos os últimos três anos com uma certa estagnação deste consumo devido tais dificuldades.
Mas, este ano de 2018, na SP-Arte-Feira de Arte De São Paulo (um dos mais importantes eventos do mercado global das artes), pudemos sentir alavancar este consumo novamente, ainda que tímido. Galeristas de diversos lugares de todo o mundo ficaram empolgados com a receptividade das pessoas não só pelo interesse e procura pelas artes a nível de apreciação, informação, comunicação, comportamento e emoções, como também na aquisição das obras de artistas renomados e mundialmente conhecidos e dos novos talentos ainda “ocultos” no amplo circuito das artes visuais. Todavia, o setor econômico e comercial das artes continua caminhando e apostando nas diversas produções artísticas, na capacidade dos curadores, nos críticos e em todos os outros profissionais relacionados direto e indiretamente com este setor.
Os artistas não param de criar, de produzir e de encontrar caminhos que os levem para cenário comercial. No Brasil, como em diversos países, a cada dia é descoberto talentosos artistas que acrescentam e descobrem riquezas de linguagens e expressões artísticas que formam opiniões, que expressam o DNA social, que traduzem as injustiças, que denunciam os absurdos cometidos, que confortam, que transmitem alegrias, raivas, provocações, curiosidades, inércia e todos os outros mecanismos sensoriais e intelectuais humanos. Dentro desse contexto de artistas talentosos, criativos, inovadores e desconhecidos do grande público, tivemos o privilégio de conhecer o trabalho da artista visual Paula Bohm, que tem em sua forma de arte a não representatividade de objetos próprios de nossa realidade concreta exterior, mais sim o uso das relações formais entre cores, linhas e superfícies para compor a realidade de suas obras de uma maneira não representacional.
Em seu pequeno, charmoso e aconchegante ateliê na Galeria Carambola, em São Conrado no RJ, envolto por uma mata atlântica transbordante de um bucolismo crosmacrata, a artista visual carioca Paula Bohm, 26 anos, apaixonada pelas artes, começa a entrevista nos contando que sua entrada no universo das artes se iniciou no período universitário onde escolheu o curso de design de moda.
O curso, muito dinâmico, oferecia diversos projetos para criarmos e executarmos e também muitos trabalhos manuais. Tinhamos contato com muitas cores e formas. Isso chamou muito minha atenção me estimulando a buscar outros materiais, outras formas e outras superfícies. Essa busca foi despertando em mim uma curiosidade sobre outras estéticas e linguagens como a comunicação visual e a pintura, principalmente. Então, já nesta época eu comecei a pintar. Mas, só quando saí da faculdade, é que entendi que queria trabalhar com arte e com pintura em especial, relembra Paula. Daí, comecei a procurar cursos para aprimorar minha técnica e expandir meus conhecimentos e criatividade no universo da pintura.
Além da pintura em tela, a artista também pinta roupas e realiza trabalhos cenográficos para cinema, teatro e shows musicais. Paula nos conta que trabalhou em uma empresa onde teve o prazer de conhecer e trabalhar como assistente da cenógrafa Marina Ribas, que lhe ensinou e passou muito experiência nesta área.
Gosto muito de cenografia! Mas, hoje em dia, estou muito focada nas minhas pinturas em telas e também em roupas. Não que esteja deixando de realizar trabalhos cenográficos. Não é isso. Se aparecer eu faço com maior prazer. Só não estou procurando. Estou priorizando a pintura, a produção das minhas telas, de roupas e me comprometendo mais com as questões mercadológicas relacionadas à arte visual,
Paula Bohm que já participou de exposições coletivas na Galeria Carambola e em outros eventos coletivos de artistas independentes, teve agora no mês de abril, na Blegaleria em Botafogo, sua primeira exposição individual onde teve a oportunidade de também realizar pinturas em roupas junto com o público, alcançando assim uma maior interação entre as pessoas, ela, seu trabalho e sua arte.
Nesta exposição, tive muito retorno do público. As pessoas me perguntavam sobre sentimentos, pensamentos, sensações e imaginações na hora de criar minhas obras. Queriam saber como e o por que daquelas formas? É como se quisessem desvendar algo que está por trás das minhas criações. E isso me deixou muito contente, pois senti que consegui alcançar o imaginário das pessoas ao fazer com que elas pensassem sobre e indagassem minha arte. Isso é muito recompensador!! (sorrisos…). É o mais importante para mim, conta Paula.
As pinturas feitas em roupas também reproduzem e expressam sua arte abstrata permeando vagamente por algumas formas geométricas assim como em suas telas. A artista utiliza muita massa na composição de suas pinturas. Um trabalho denso e profundo em muitas camadas, com sobriedade nas cores e sempre com a presença da cor preta em todas as pinturas, tornando-se esta uma característica marcante em suas obras.
Quando indagada sobre o uso quase que exclusivo de cores sóbrias e a pertinente presença do preto em todas as suas pinturas, Paula nos revelou ser uma pessoa bastante tímida e um pouco fechada. Meu trabalho é um reflexo do que sou: tímida, fechada… Porém aberta para a alegria, a paz, a novos experimentos, a harmonia, ao amor e a sobriedade. Acho que meu trabalho demonstra esta timidez de alguma forma e também é uma maneira de me expor, de me expressar de me abrir para a sociedade e para as pessoas. Para o mundo de um modo geral. Por isso a afinidade com as cores sóbrias e com o abstrato. Vejo e sinto no abstrato uma infinidade de emoções e sentimentos que passam por constantes mudanças mais que também podem ficar estagnados. Em relação a cor preta, é uma cor que gosto e me identifico muito, diz Paula.
Com o sucesso de sua recente exposição a artista visual, assim como a grande maioria dos artistas deste segmento, atravessam alguns obstáculos para conseguirem um maior alcance de público e de mercado. Em relação a isso, Paula Bohm acha que não é por causa das dificuldades impostas pelo mercado e pelos meios de comunicação, que tem que parar e esperar as coisas modificarem ou melhorem um pouco para seguir adiante. Ao contrário: temos que nos mover. Buscar sempre alternativas para nos inserirmos no cenário cultural, social e artístico. Ter mesmo coragem e nenhum preconceito com o lugar que vamos expor nossa arte. Se os lugares me oferecem espaços para que eu exponha minha arte, eu aceito. Ainda que o público local não seja muito familiarizado com arte ou com os diversos gêneros artísticos. Penso que é uma ótima oportunidade tanto para mim quanto para o público, de trocarmos conhecimento e experiências, conclui Paula Bohm.
Terminando esta entrevista bem descontraída, Paula Bohm nos contou que agora está partindo para a música. Não com o intuito de virar musicista, cantora, compositora etc. Nada disso. Ela conta que sua intenção é utilizar a linguagem musical (que além de bela é riquíssima) na composição de suas pinturas dando ainda mais consistência em seu trabalho. Acredito muito na união de nossos sentidos: olfato, audição, paladar, visão e tato. Quero muito continuar me expressando e cada vez mais compondo minha arte através dessas formas e sentidos, termina ela, com um largo sorriso.
Viva Cultura! : Paula, muito obrigada por nos receber e nos conceder esta entrevista. Sucesso!!
Paula Bohm: Obrigada a Viva Cultura! por divulgar e mostrar meu trabalho.
Todas as informações sobre a arte de Paula Bohm:
www.paulabohm.com.br