Por Jaqueline Stori – 26/08/022
“Arquitetura refere-se a toda construção e modelagem artificial do ambiente físico, incluindo seu processo de projeto e o produto deste, sendo a palavra também usada para definir os estilos e métodos de projeto das construções de uma época”.
“A arquitetura é capaz de absorver qualquer coisa e, portanto tende a se dissolver em tudo”.
“A arquitetura pretende transcender a simples necessidade de abrigo e segurança, tornando-se uma expressão de arte”.
Dentre as muitas definições sobre arquitetura, as três citadas acima (e também muitas outras, é claro) se aproximam de uma tríade desde a existência humana: construção, design e arquitetura. Desde as cavernas, de acordo com situações climáticas, que o ser humano se serve desta tríade, ainda que na época não fizesse sentido ou idéia de tal propósito, e sim apenas da necessidade. Não se pretende aqui desfiar questões e circunstâncias de como e porque começou a existência da arquitetura, construção e do design, e sim apenas atestar que estas sempre fizeram e continuarão fazendo parte da nossa existência.
No início tudo era instintivo objetivando apenas subsídios para sobrevivência. Conforme nossa evolução as coisas foram ganhando formas em pensamentos que por sua vez se materializam às necessidades atuais, até chegarmos na seguinte pergunta: podemos considerar arquitetura e design como arte? Muitos consideram que não e outros consideram que sim. O fato é que ambas considerações nos levam à reflexão que se considerarmos todas as construções advindas da criatividade, então tudo é arte. E se for isso, até onde então, irá o valor da arte?
Longas e profundas reflexões à parte, pois nossa realidade nos mostra os diversos somatórios de diferentes e múltiplos elementos que resultam em milhares de linguagens artísticas, nos mais variados conceitos, contextos, designs e estéticas, que contam com o aparato tecnológico. Sabemos que os artistas exploram várias temáticas e que também são influenciados por sua cultura, seus hábitos, suas cidades, e outros fatores determinantes na formação e na construção de suas personas, e por tal razão um mesmo assunto é explorado e criado de diversas formas.
A arquitetura e o design por si só já tem em sua raiz o propósito da funcionalidade, do bem estar e conforto, atrelados à perspectiva humana. Mas, e quando estas perspectivas são transportadas para obras de arte? E quando a união de elementos opostos e complementares se fundem em resultados inovadores e atemporais, devido seu conceito? É isso que a artista visual Anna Paola Protasio, formada em arquitetura e urbanismo fez: transformou seus conhecimentos e ofício em design, arquitetura e construção, em maravilhosas e ousadas obras de arte!
Nascida na cidade do Rio De Janeiro, esta artista carioca da gema, começa nos contando que trabalhou durante 20 anos com arquitetura, design de mobiliário e construção.Trabalhando com isso percebeu que seus desenhos de mobiliários iam ficando cada vez mais esculturais e que tirando suas funções, seriam esculturas. Aos 34 anos, grávida, sem poder sair muito de casa devido a contrações desde o segundo mês de gestação, resolveu começar a pintar e fazer pequenas esculturas com os materiais que tinha.
A artista brinca que achava nesta época também estar grávida da arte sem se dar conta, pois por ter que ficar em casa, acabou iniciando um ciclo dedicado a produção e criação de esculturas que perdura até hoje. E que bom que Anna Paola deixou aflorar ainda mais sua essência artística naquela época, voltando-se exclusivamente para o universo escultórico, pois suas obras muito oferecem a nós espectadores. Sua arte apesar de ter influência da arquitetura, design e construção, partem de sua intuição: costumo afirmar ou falar que sou mera tradutora das idéias que estão flutuando no mundo. Sei que a base da arquitetura e a facilidade de saber como os materiais trabalham, me ajudam na idealização e na fabricação das peças. Os títulos das obras muitas vezes são o início da obra. Percebi que trabalho muito com as palavras e seus sentidos e sentimentos, e estou sempre buscando materiais que possa dar alma a eles, mas não tenho uma linguagem, pois somos todos diferentes, e por tal razão não dou almas iguais as minhas criações. Então, posso dizer que uso também a linguagem e carrego junto minha herança construtiva, onde esta para mim (a construção) é a materialização das idéias do mundo sensível, explicou ela.
Para produzir suas esculturas Anna Paola utiliza matérias primas relacionadas às suas construções, arquitetura e design, como madeira, mármore, concreto, aço, acrílico, borracha, vidro, cimento, mas também materiais delicados como fios. Geralmente são materiais e objetos que vão aparecendo em seu dia-a-dia, seja quando está pesquisando em lojas de materiais de construção, pesca e similares, ou qualquer outro lugar onde seu olhar a leva. Anna Paola gosta de explorar seus materiais e suas funções, ou até mesmo de retirar tais funções, insistindo nas mais radicais buscas de materiais e da extração de potentes formatos. Contudo, além de sua raiz construtiva, do design e da arquitetura, ela também bebe das fontes de outros artistas, em especial Richard Serra, Anna Maria Maiolino e Lygia Clark.
As obras desta grande artista possuem diversas características entre elas a dualidade, tratada e construída de forma muito singular, mas principalmente tida pela mesma como existente em nosso dia-a-dia. Suas esculturas grandes ou pequenas, pesadas ou frágeis, expressam força e leveza, equilíbrio e desequilíbrio, rigidez e flexibilidade, entre outras dualidades, onde estes opostos complementam-se ao mesmo tempo em diferentes e diversas propostas sensoriais, emocionais, materiais e conceituais, numa tentativa subjetiva de traduzir os sentimentos, emoções, dilemas e aspirações do ser humano. Anna Paola trabalha de duas formas: ou ela parte do material/objeto escolhido, ou parte do sentimento/assunto que lhe aflige naquele determinado instante, pois desta maneira consegue chegar ao resultado pretendido que é o de dar alma às suas obras, através de seu processo criativo e construtivo que desdobram-se em belíssimas esculturas desafiadoras que passeiam pelo abstrato e pela geometria, embasados num repertório poético visual de sonhos, dores, ficções, memórias, solidão, medos, mas de grandes descobertas e possibilidades de serem sentidas e trabalhadas interiormente.
Chama também à atenção nas obras da artista o equilíbrio e o perfeito diálogo estético oferecido em suas esculturas, instalações e intervenções, que unem sofisticação e requinte fluídos em delicadeza e brutalidade num conjunto harmônico de aparente simplicidade, submersos em conceitos estruturais e desestruturais que nos propiciam um despertar inovador e desafiador através das nossas emoções e fantasias: para mim, o grande momento é o da troca com o espectador! Através do olhar deste espectador percebo em mim a emoção do momento da criação, revelou Anna Paola.
Além de ter formação e conhecimento prático e teórico em arquitetura, design e construção, Anna Paola tem interesse no campo da física, suas forças e mistérios, assim como no teletransporte, na viagem entre dimensões e universos e a viagem no tempo e no espaço. Para ela o uso da suspensão, o movimento passa a ser a ascensão como linguagem.
Todo este vasto conhecimento, criatividade e talento, levaram Anna Paolo Protasio ao merecido reconhecimento de uma das maiores escultoras contemporâneas brasileira, tendo suas obras expostas em diversas Exposições individuais e coletivas aqui e lá fora. Suas últimas individuais foram as Exposições “Segredos e Sussurros” em 2020, e “Suspensões e Sombras” em 2019, na Galeria Arte Formato em São Paulo. Em 2016, teve sua individual “Revoado”, na Galeria Ibeu, no Rio de Janeiro. Nas coletivas, participou em 2016 da “Bienal Tridimensional”, no Rio de Janeiro; Exposição “Alma” na Galeria Gaby Índio Da Costa, no Rio de Janeiro; em 2013 na Exposição “Arrasto” na Nohra Haime Gallery, em New York; em 2012 na Exposição Casa Cor (RJ); também em 2012 no Museu Brasileiro Da Escultura (MUBE), em São Paulo; em 2010 no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro; 2008 no Museu Nacional De Belas Artes e na Casa França Brasil ambos no Rio de Janeiro, além de acrescentar em seu currículo três catálogos de arte.
Tanta dedicação e amor pela arte levaram a artista à refletir que seu trabalho demanda muito de seu corpo, pois exige força para o deslocamento de suas esculturas, principalmente as de aço, e que devido o contato e manuseio de materiais como cimento e borracha, desencadeou nela uma alergia que está direcionando-a para outras linguagens como o bordado e talvez para pintura, quem sabe? No momento a artista está fazendo músicas para catequeses de crianças, apesar de confessar nunca ter pensado passar por este caminho. Todavia, sabemos que a alma humana e principalmente a alma de um artista, é capaz de transcender a vários caminhos inusitados, e de ocupar espaços vazios com grandes sonhos reais que nos preenchem de informação e conhecimento, porque tem o poder de abrir portais de encontros com o oculto e de acordar o que está adormecido nos mais diversos níveis entre a razão e a emoção.
Assim é a magnífica arte de Anna Paola Protasio!
Viva Cultura!: Anna, muito obrigada pela entrevista e pela oportunidade em podermos apresentar sua arte para nossos leitores e para o público em geral.
Anna Paola Protasio: obrigada a Viva Cultura! pelo convite e por fomentar e divulgar a arte visual brasileira.
*** Todas as imagens gentilmente cedida pela entrevistada.
Website: www.annapaolaprotassio.com
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