Rio de Janeiro, 14 de maio de 2025 – Por Redação

 

Hoje, 14 de maio, a paisagem urbana do Rio de Janeiro ganhou novas camadas de crítica e poesia visual com a chegada de cinco esculturas monumentais do artista Beto Gatti. Intitulada Primórdios Digitais, a intervenção espalha obras de até dois metros de altura por pontos estratégicos da cidade, como a Praia do Leblon, a Lagoa Rodrigo de Freitas, a Praça Mauá e o Aeroporto Internacional do Galeão. As peças representam primatas com corpos humanos manipulando celulares, drones e visores digitais, numa alegoria contundente sobre a dependência tecnológica e o esvaziamento das relações sociais na era digital.

Com uma trajetória consolidada em instituições nacionais e feiras internacionais como a Art Basel, Beto Gatti expande seu trabalho para além das galerias ao ocupar o espaço público com obras que interpelam o passante. Através de uma estética que mescla materiais ancestrais como o bronze a tecnologias contemporâneas de modelagem e fundição, o artista cria um discurso visual sobre o paradoxo de viver entre o real e o digital. “Primórdios Digitais é um convite à pausa e à reflexão coletiva sobre o que nos conecta”, afirma Gatti, que começou a desenvolver a série A origem em 2021, após 15 anos atuando como fotógrafo de moda.

Entre as esculturas em exibição, destaca-se La Décadence Biomorphique, instalada em frente ao Museu do Amanhã, que ganhou a capa da revista MIT Technology Review. Outras obras como DesconectadosSaudade e Cabo de Guerraintensificam a crítica ao aprisionamento digital por meio de imagens simbólicas e bem-humoradas: primatas absortos em telas, câmeras no lugar de rostos e abraços interrompidos por selfies. A peça Primórdios Digitais, que dá nome à intervenção e será instalada na Rua Dias Ferreira, reúne dois símios em torno de um único celular, reiterando a substituição do vínculo humano pelo gesto repetitivo e solitário do toque em telas.

As obras fazem parte de coleções particulares e foram gentilmente cedidas para a ação. Cada escultura será acompanhada por placas informativas e, numa ironia própria à proposta do artista, QR codes convidam os espectadores a utilizarem o celular para descobrir curiosidades sobre o processo criativo. Ao transformar o espaço urbano em plataforma expositiva, Gatti reafirma o poder da arte pública como instrumento de crítica, afeto e provocação — e faz do Rio o epicentro de uma reflexão visual urgente sobre os dilemas do nosso tempo.

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