Por Redação – 04/09/2024
O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) abriu para visitação a exposição temporária “Eckhout: trânsitos do olhar”, quando começa o agendamento ao público, que terá a oportunidade de conhecer as cópias de quadros encomendadas pelo imperador Dom Pedro II ao pintor dinamarquês Niels A. Lützen. Trata-se dos famosos retratos indígenas pintados por Albert Eckhout, no tempo da ocupação holandesa no Nordeste brasileiro, no século XVII. A mostra coloca em discussão o olhar do colonialismo ao colocar os quadros históricos em diálogo com a criação contemporânea da artista paraense Nay Jinknss. Dom Pedro II fez uma viagem à Dinamarca para conhecer os famosos retratos de indígenas do Brasil comentados pelo famoso naturalista alemão Alexander von Humboldt em seu livro Cosmos, um dos mais populares livros de ciência do século XIX. Foi então que decidiu encomendar versões em formato menor dos retratos para doar ao IHGB e tornar as imagens conhecidas no Brasil. A abertura para convidados acontece no dia 29 de agosto.
Estes retratos de indígenas de Pernambuco do século XVII traduzem o encanto pelo desconhecido que definiu o exotismo como princípio da construção do olhar de europeus diante do mundo colonial. Paradoxalmente, o exotismo foi internalizado pela cultura nacional para demarcar visões da singularidade brasileira. Desse modo, o imperador participou desse processo em que o olhar estrangeiro condicionou a visão dos colonizados sobre si mesmos.
Por meio da criação contemporânea de Nay Jinknss, os retratados de Eckhout ressurgem no mercado do Ver-o-Peso da cidade de Belém do Pará. Suas fotografias e vídeo rejeitam a representação do tipo social genérico sem subjetividade característica do olhar do colonialismo. Em seus retratos, ao contextualizar a experiência social e expor o que faz cada indivíduo singular, a artista paraense contribui para multiplicar os modos de ver e representar a diversidade cultural do Brasil.
O curador Paulo Knauss, diretor do Museu do IHGB e professor do departamento de História da Universidade Federal Fluminense, comenta:
“Os retratos de Eckhout transitam entre épocas e revivem na arte contemporânea brasileira, ao menos desde a criação de Glauco Rodrigues. Suas apropriações servem à crítica dos modos de ver as diferenças culturais baseada na dicotomia entre selvagens e civilizados. Nos trânsitos do olhar, a arte contemporânea subverte os sentidos de imagens consagradas e busca romper com a colonialidade”.
A exposição apresenta ainda livros e mapas ilustrados com imagens do mundo colonial que foram difundidas pelos artistas e naturalistas holandeses do século XVII.
A realização da exposição marca também a reabertura do circuito de visitação do IHGB com a conclusão da primeira etapa do seu projeto de renovação. É uma oportunidade para conhecer a sede do IHGB e seus outros espaços expositivos, que apresentam tesouros da cultura brasileira reunidos desde a fundação da instituição acadêmica em 1838, como o Crânio da Lagoa Santa, um dos mais antigos vestígios da vida humana no Brasil e encontrado na primeira missão arqueológica brasileira, além da coleção de retratos de Pedro II.
A visitação é aberta a todos os interessados e há um programa especial para receber escolas e grupos. Todas as visitas são mediadas, ocorrem em tardes de dias úteis e devem ser agendadas por e-mail.
SERVIÇO:
Em cartaz até o dia 12/12²024
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
Av. Augusto Severo, 8, 11º andar – GlóriaRio de Janeiro,