Por Redação – 27/01/2023
O mercado global de arte encerrou o ano de 2022 com um forte otimismo por parte dos colecionadores, como já indicava o último relatório da UBS + Art Basel, divulgado no final do 1º semestre do ano. Para além da recuperação geral do comércio internacional de arte, os dados apontam uma maior percentagem de compras com preços mais altos e também indicam as feiras de arte como principal canal de aquisição.
Apesar das previsões negativas do Institute of International Finance (IIF) para o contexto econômico internacional em 2023 – impulsionadas sobretudo pela continuidade dos conflitos bélicos no leste europeu – o mercado de arte tende a demonstrar firmeza. Separamos aqui alguns pontos a serem destacados para o próximo ano:
1- Sistema da arte e mercado
Grandes museus do sistema de arte mundial se preparam para exposições dedicadas a cânones da arte do século 20. Nomes como Henri Matisse (1869-1954), Georgia O’Keeffe (1887-1996), Paul Gauguin (1848-1903) e Cy Twombly (1928-2011), motivam, respectivamente, mostras no Tokyo Metropolitan Museum (Tóquio), MoMA (Nova York), MASP (São Paulo) e Museum of Fine Arts (Boston), além das inúmeras mostras dedicadas a Pablo Picasso (1881-1973) no cinquentenário de sua morte.
De acordo com a revista inglesa Apollo, o movimento segue o panorama visto nos últimos grandes leilões, como os de Nova York, que em novembro foram dominados por arremates de importantes artistas do último século.
O ano também será marcado pela continuação do revisionismo em relação à sub-representação feminina na história da arte.
2- Sustentabilidade e doações
Questões relativas às mudanças climáticas e à preservação do meio ambiente têm pressionado os agentes do mercado de arte mundial, culminando em associações voltadas à redução de emissão de gases poluentes pelo setor. É o caso da Gallery Climate Coalition (GCC), uma coalizão internacional de galerias de arte, cujo principal objetivo é diminuir em 50% o lançamento de CO2 até 2030.
O tema passa pelo radar dos colecionadores. Alguns afirmam estar engajados em uma prática de “colecionismo sustentável”, propondo-se a pagar até 25% a mais por opções que reduzam o impacto de suas compras.
Uma nova modalidade de negócios também se instaura entre artistas contemporâneos em destaque, como a estadunidense Christina Quarles, o brasileiro Lucas Arruda e a britânica Flora Yukhnovich, que ofertam seus trabalhos com a condição de que, em contrapartida, o comprador se comprometa com a doação de uma obra de arte para museus ou outras instituições culturais.
3- Arte e tecnologia
Embora as criptomoedas tenham esfriado em 2022, o interesse no blockchain, NFTs e arte digital permanecem em alta. Os recentes lançamentos de plataformas e aplicativos destinados a registrar, autenticar e rastrear a proveniência de obras de arte – como a Arcual, que tem a Art Basel como uma de suas fundadoras – demonstram o potencial dos recursos tecnológicos para o mundo das artes.
4- Galerias-museus
Com a expansão de suas áreas de atuação e mudanças em setores estratégicos, grandes galerias de arte cada vez mais passam a se articular nos moldes de instituições museológicas. O movimento é sentido pela crescente ampliação dos espaços expositivos, que podem ocupar galpões de antigas fábricas, além da contratação de curadores e produção de ensaios e catálogos por especialistas renomados no campo das artes.
O sintoma já havia sido notado nos EUA, quando da inauguração da suíça Hauser & Wirth em Los Angeles, e se mostrou como um exemplo dos novos modelos de galeria de arte. No Brasil, entre as galerias com curadores contratados ou que os têm como sócios destacam-se Marília Razuk, Nara Roesler, Gomide & Co e Galatea, as duas últimas com os curadores Luisa Duarte e Tomas Toledo, respectivamente.
5- Arte indígena
No cenário brasileiro, é esperada uma maior presença e valorização da produção artística de povos originários do país. Durante o ano, importantes museus destinam suas programações à disseminação de manifestações culturais destas populações. É o caso do Museu das Culturas Indígenas, inaugurado no início do último semestre de 2022, e do MASP, que tem o ciclo expositivo de 2023 voltado às histórias indígenas.
No início deste ano, também ocorreu a fundação do Ministério dos Povos Indígenas, dispositivo inédito na trajetória política brasileira. Tais movimentos devem influenciar o mercado e impulsionar o interesse por obra de artistas envolvidos com a temática.
FONTE: SP – Arte