Rio, 31/10/2024 – Por Redação
Na Cinemateca Brasileira, especialistas debatem caminhos e metas para o setor, com foco na democratização, sustentabilidade e inovação
terceiro e último dia do Seminário Economia Audiovisual e Interseccionalidades, realizado pela Secretaria do Audiovisual (SAV) do Ministério da Cultura (MinC) na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, reuniu nomes de peso para abordar as novas tendências do setor e os desafios para a construção de um audiovisual brasileiro mais acessível, sustentável e interseccional. A iniciativa integra o processo de formulação do Plano de Diretrizes e Metas (PDM) do Audiovisual Brasileiro, que definirá as políticas para o setor no período de 2025 a 2034.
O secretário Nacional de Participação Social da Presidência da República, Renato Simões, e a cineasta e professora de cinema, Ana Paula Sousa, fizeram uma reflexão antes dos debates.
“O que queremos é construir uma política pública que reflita o rosto do povo brasileiro. E é nos territórios, onde as pessoas constroem suas identidades, que essa participação se torna viva e essencial para que a política pública seja moldada pelas necessidades reais da população”, pontuou Renato, destacando o papel da participação social na elaboração do PDM e da cultura brasileira como um todo.
Ana Paula Sousa trouxe à discussão o desafio de equilibrar as políticas públicas com as demandas de mercado em um cenário cada vez mais competitivo. Ela destacou que, apesar dos esforços para aumentar o alcance do cinema brasileiro, o público ainda enfrenta barreiras como o alto preço dos ingressos e a falta de tempo.
“Hoje, as pessoas estão consumindo conteúdo audiovisual no metrô, no celular, de formas muito fragmentadas, e é isso que temos que observar”, disse. A cineasta também apontou que a regulação do setor não pode, sozinha, transformar os gostos do público, mas pode fornecer maior visibilidade ao conteúdo brasileiro.
Tendências
A primeira mesa do dia contou com a mediação de Rodrigo Antonio da Silva, diretor de Formação e Inovação Audiovisual do MinC, e abordou as tendências e os diferentes públicos para diversas janelas audiovisuais. O painel contou com a presença de Daniel Matos, da Agência Nacional de Cinema (Ancine), André Furtado, do Observatório do Itaú Cultural, Rodrigo Terra, da Abragames, Márcio Yatsuda, da Brasil Audiovisual Independente (Bravi) e Leonora Bardini, diretora da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).
Daniel Matos introduziu o tema ao traçar a evolução das “janelas” no audiovisual, desde o videoclipe até o fenômeno do streaming. Ele ressaltou que cada meio representa uma oportunidade e um desafio únicos para o audiovisual brasileiro.
“Estamos em um momento onde as janelas se diversificaram e o modelo de negócios precisa acompanhar essas mudanças, olhando para o que cada janela tem a oferecer em termos de formato e de públicos”, explicou. Ele reforçou que o Brasil precisa atualizar suas políticas públicas para refletir essa realidade.
Abordando o papel dos videogames como parte do ecossistema audiovisual, Rodrigo Terra, da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais Eletrônicos (Abragames), alertou para o atraso das políticas públicas brasileiras nesse setor.
“Hoje, 74% da população brasileira joga algum tipo de jogo, mas o apoio ao mercado de games no Brasil ainda está muito aquém do que vemos em países como Japão e França, que já criaram incentivos há mais de uma década”, disse. Segundo ele, o videogame é um produto audiovisual nativo digital, o que exige um olhar específico, envolvendo tanto o Ministério da Cultura quanto o da Ciência e Tecnologia.
Já Leonora Bardini, diretora da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), ressaltou o papel social da tevê aberta no Brasil, que, segundo ela, ainda é uma das principais janelas para o audiovisual nacional, especialmente fora dos grandes centros urbanos.
“A tevê aberta é o único meio que consegue oferecer conteúdo gratuito e acessível a uma população tão diversa. Isso é algo que precisamos preservar e valorizar, pois garante o acesso de milhões de brasileiros ao conteúdo nacional”, afirmou.
Responsabilidade social
A segunda mesa do dia, mediada por Clemilson Farias, do Conselho Superior de Cinema (CSC), discutiu a importância da responsabilidade social e da sustentabilidade no audiovisual. Participaram Josephine Bourgois, diretora executiva do Projeto Paradiso, Gustavo Bernardino, gerente de programas no Grupo de Institutos Fundações e Empresas (GIFE) e Ariene Ferreira, fundadora da Cinema Verde.
Josephine Bourgois compartilhou a trajetória do Projeto Paradiso, que visa ampliar o alcance do cinema brasileiro, apoiando cineastas e roteiristas em suas carreiras.
“Nossa causa é o audiovisual pelo audiovisual. Queremos apoiar o cinema brasileiro como um fim em si mesmo, porque ele representa memória e identidade para o nosso povo”, afirmou. Ela também enfatizou a importância de internacionalizar o cinema brasileiro, para que ele alcance mais públicos ao redor do mundo.
Já Gustavo Bernardino, do Gife trouxe dados sobre o investimento social privado e seu papel no audiovisual. Segundo ele, embora a educação ainda seja a prioridade entre as fundações e institutos associados ao Gife, a cultura e o audiovisual têm ganhado espaço.
“Há um potencial enorme para aproximar o setor filantrópico do audiovisual, especialmente se considerarmos o papel que o setor pode ter em gerar novas formas de senso crítico e engajamento social”, comentou.
Ariene Ferreira, do Cinema Verde, encerrou a mesa trazendo a perspectiva ambiental ao discutir como a produção audiovisual pode adotar práticas sustentáveis e reduzir o impacto no meio ambiente.
“A indústria audiovisual precisa se reconectar com o meio ambiente. Não podemos ignorar o impacto que causamos, e cada produção deveria ter uma política de sustentabilidade para mitigar esses danos”, defendeu Ariene. Ela destacou ainda que medidas como a redução do uso de plásticos e a compensação de emissões de carbono já estão sendo implementadas por algumas produtoras brasileiras.
PDM
O seminário encerrou com uma chamada à ação para que todos os setores envolvidos contribuam na elaboração do PDM. Daniela Fernandes, diretora de Preservação e Difusão Audiovisual da SAV, destacou a importância de um plano construído de forma colaborativa.
“O PDM é um projeto que precisa refletir não apenas os objetivos de governo, mas também as demandas da sociedade e dos diferentes agentes do audiovisual”, enfatizou Daniela.
O documento final, deve ser enviado ao presidente Lula no início de 2025, e será permeado pelos debates do seminário, que discutiram temas desde a interseccionalidade até a sustentabilidade.