Arte Visual

Por entre sonhos, fantasias e realidade vamos desvendando a arte alquimíca do artista visual Walter Goldfarb.

Walter Goldfaber. Mobgrafia, Jaqueline Stori.

Por Jaqueline Stori – 11/09/2018

 

A Exposição A Menina que Sonhava Com Bolinhas de Sabão e Outras Histórias, do artista Visual Walter Goldfaber, tem como conceito os jogos cênicos e… Ponto. Não, esse ponto não é nem de longe o que a Exposição oferece e tão pouco a chegada final da mesma e dessa matéria. Esse ponto é apenas uma pausa sobre a Exposição. Antes de continuarmos nela, vamos falar um pouco sobre um dos maiores artistas visuais do Brasil e do mundo.

Walter Goldfarb, filho de pai musicista e mãe Lituana (sobrevivente do Holocausto), nasceu em berço judaico e tem esta herança muito forte. O artista nos contou que sabe muita coisa de música clássica por influência paterna, porém, nada sabia sobre Richard Wagner. Meu pai não tocava Wagner em casa por respeito a minha mãe, porque este era tocado em Campos de Concentração. Ele ensaiava em casa diariamente, tocava piano e violino e nós a família, ficávamos em torno ouvindo-o tocar. Havia toda uma mítica: o violinista, piano, músicas judaicas e outras…  Enfim, havia todo um lado poético e belo do judaísmo e da música por parte de meu pai. Em contrapartida havia o lado doloroso e trágico de minha mãe, que é uma sobrevivente de Campo. Isso me marcou muito! Então, todo o meu interesse nasce do conflito entre esses dois lados: o lado bom, poético e o lado ruim, o trágico. Claro que ser brasileiro, carioca, em estar aqui e ali, praia, mobilidade, e muitas outras coisas, influenciam o modo de como eu vou construindo e alinhavando todas as histórias apresentadas no meu trabalho e de certa forma me construindo também, afirma Walter Goldfarb.

Essa herança rendeu à transposição de sua cultura judaica em muitos de suas obras junto de outras culturas e linguagens artísticas. Apesar de não ouvir do violino de seu pai a música de Richard Wagner, Walter disse ter mergulhado no universo desse maestro, compositor e diretor de teatro desde sua biografia às suas obras. E foi esse mergulho que o levou começar a inserir a linguagem musical em suas pinturas, na década de 90.

Walter Goldfarb.
Foto, Iana São José.

O trabalho do artista possui características bem peculiares. Como o próprio nos falou em entrevista, ele acredita que esta peculiaridade advém do exercício de ateliê: Eu tento juntar um maior número de variações possíveis “problemas”, para criar uma equação bem complicada onde eu tenho que resolver esta equação. Eu lido bem com a pintura, tenho mão boa para artesania, então, é muito fácil chegar no ateliê e criar um trabalho que irá ser sedutor. Procuro juntar muita coisa para construir essa equação e conseguir resultado. Toda minha obra é o resultado dessa equação construída com todo tipo de referência inclusive a do momento de sinestesia que é quando estou criando uma obra e minha cabeça começa a ir… Tudo que está à volta como o som lá fora, o cheiro, acaba vindo parar na minha arte. Se eu não tomar cuidado em administrar essa sinestesia, acabo saindo do trabalho. Então, é eu encontrar também aonde administrar sinestesia, explicou Walter Goldfarb.

Os 30 anos de prática do exercício de ateliê, levou Walter Goldfarb  à realizar  suas produções com materiais próprios confeccionados passa a passo. O artista cria peças que vão além do conceito de arte, materializando fragmentos, documentos e a identidade de seus trabalhos compostos por linhas, retalhos e frações de obras que se transformam em novas peças. Na pintura e no tear  podemos considerar a relevância da alquimia desse artista que produz suas próprias cores com variadas matérias primas incluindo bastões de carvão e outros materiais. Para produzir suas obras, Walter Goldfarb faz uso de técnicas de tingimento, lavagem, relevos em laca aplicados através de seringas, tecidos e bordados à mão com fios retirados da própria lona de pintura, tatuagens com fogo também na lona de pintura e tantas outras técnicas singulares que o leva à produção de obras gigantescas que estão espalhadas em acervos de grandes museus do Brasil e do mundo.

Outra marca característica e muito interessante desse artista, é que ele além de não fazer uso de pincel, faz uso da lona crua. Segundo ele, 99,9% dos pintores as preparam (seja uma make up ou uma base) para começarem a pintar. Mas, Walter Goldfarb explicou que sua preferência em utilizar a lona crua para a confecção de suas obras, é o fato dele enxergar a lona como sua pele ou a pele de alguém que ele irá marcar. Eu penso a lona como território de ocupação, afirmou o artista.

Foto, Iana São José.

E voltando para a A Menina Que Sonhava Com Bolinhas de Sabão e Outras Histórias, podemos notar que o conceito de jogos cênicos, transborda de sua influência familiar e cultural de sua criação, de seu estilo de vida, do exercício de ateliê e de muito trabalho de pesquisa. O artista nos contou que esta Exposição possui três núcleos: música literatura e teatro. Três linguagens artísticas trabalhadas em obras que remetem bastante à sua infância. Falo que ela é conceituada, baseada na idéia dos jogos cênicos como base para formação de qualquer indivíduo. São experiências nossas na infância brincando de roda, pulando corda, ouvindo música etc. Não importa. É tudo que vivenciamos quando crianças e que de certa forma irá forjar nossa identidade lá na frente, disse Walter Goldfarb. Na obra Poseidon e Netuno À Mesa, por exemplo, o artista disse que sua construção muito bebeu de suas referências de infância como Monteiro Lobato com o Sítio do Pica Pau Amarelo e mais propriamente na obra Narizinho E O Reino Das Águas Claras entre outros. É uma obra que fala de mar, rio, enfim, fala muito sobre o elemento água, explicou o artista.

Na Exposição, podemos ver tantas outras obras que permeiam pela música, pelo teatro e pela literatura. Porém, o artista esclareceu que o teatro permeia também como uma questão da onde as coisas acontecem: não é só o teatro infantil. É a vida como um palco!! Tudo para mim tem uma questão de metamorfose, e eu acho que o teatro tem essa questão. Tem a literatura que também é muito presente no meu trabalho mas não é o escrito em si, e sim o que estas portas me fornecem. São subsídios, explicou Walter Golgfarb.

A exposição conta com 12 pinturas e 18 assemblagens (colagens com objetos e materiais tridimensionais), unindo pintura, linhas, lonas tingidas, cristais e pedras preciosas, dentre outros materiais. Walter Goldfarb disse que resolveu brincar com o passado e o presente através da mistura de técnicas e mesclas de grafismos e personagens reais, mitológicos e infantis.

Foto, Iana São José.

A Menina Que Sonhava Com Bolinhas De Sabão e Outras Histórias, tem curadoria do diretor da Almacen Thebaldi Galeria, Edson Thebaldi e fica exposta até o dia 16/09.

SERVIÇOS:

Alamcen Thebaldi Galeria fica na Av. Ayrton Senna, 2.150-bloco G, loja F, no Casa Shopping, Barra da Tijuca.

Tel: (21) 3325-3322.

www.almacengaleria.com

 Nota: Vídeo retirado do canal Desing WeeKend, da Série Alquimia By kamy.

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